Uma Pirâmide assenta em três características fundamentais:
1 - Há uma troca de dinheiro entre um promotor e um interessado - o interessado paga para pertencer a um "negócio" (seja por conta da compra de produtos, seja por conta da compra de serviços, seja por conta de nada em concreto, não faz diferença - o que interessa é a "oportunidade" de explorar uma rede/negócio).
2 - O interessado, agora membro participante no esquema, pode recuperar o dinheiro investido através do recrutamento de outras pessoas. Os novos membros pagam também ao promotor para entrarem no "negócio" e o interessado que os recrutou recebe dinheiro por conta desse recrutamento. Quantos mais membros ele trouxer para a rede, mais comissões recebe e, consequentemente, mais hipóteses tem de recuperar o investimento. A motivação principal para cada membro é conseguir subir acima da linha de prejuizo, e a partir desse momento qualquer nova entrada é lucro limpo.
3 - A rede expande-se sempre na base do "1 para
n". Um membro pode recrutar
n novos membros, cada um deles por sua vez pode recrutar outros
n novos membros, e assim sucessivamente - até ao infinito (sendo que "infinito", nesta situação, significa o muito concreto finito da saturação de mercado). Esquematizando este processo no papel, ficamos com um desnho parecido com uma pirâmide, e daí possivelmente a origem da expressão. Algumas contas rápidas dão para entender que 66% a 99% dos inscritos, conforme a estrutura do esquema, nunca vão ganhar dinheiro nenhum.
A maioria perde sempre dinheiro - é uma certeza matemática.Em resumo simples: uma pirâmide é uma rede para a qual uma pessoa entra de livre vontade e se coloca numa situação inicial de prejuizo. Para recuperar o dinheiro investido, a única hipótese viável/atractiva é recrutar outras pessoas para a rede.
Em torno desta lógica simples, podemos encontrar as mais estrambólicas e esforçadas variações, algumas delas sem qualquer tipo de preocupação e esconder a origem, outras impecavelmente camufladas para que pareçam outras coisas. Algums pirâmides eliminaram inclusivamente o pagamento inicial de adesão (e a consequente comissão ao angariador), embora mais cedo ou mais tarde o aderente seja pressionado a efectuar um pagamento ou uma compra qualquer. O conceito de MLM é aquele que melhor aproveita as potencialidades de uma pirâmide, devido às similaridades existentes entre os dois modelos. Dir-se-ia que foram feitos um para o outro, tal é a perfeição de encaixe. O aproveitamento de um Esquema em Pirâmide como forma de expansão de um MLM introduz bastantes novas variáveis ao sistema, a mais evidente das quais a vinculação dos membros a uma periodicidade regular nas trocas de dinheiro - as compras periódicas de produtos/serviços são uma espécie de mini-ecos repetidos da ideia presente no recrutamento de membros, e o objectivo é superar a linha de prejuízo mensal à conta das compras feitas por um
downline volumoso. Os pagamentos mensais por conta de comissões ligadas a compras dos outros membros fazem circular ininterruptamente, periodicamente, o dinheiro das camadas de baixo para as camadas de cima. Quase nunca há financiamento externo resultante de vendas de produtos para fora da rede. Quase sempre os produtos são vendidos aos membros a um valor acima do real e acima dos preços normais praticados no mercado em produtos concorrentes. Por outro lado, a existência de um produto é um disfarce excelente, uma vez que permite: a) elevar a fraude ao nível de um negócio legítimo de "vendas directas", pelo menos em teoria, e b) fazer supor aos membros que adquiriram algo de valor, algo que podem voltar a trocar por dinheiro em caso de opção.
A confusão entre os conceitos de Pirâmide e MLM é natural (e de muito difícil percepção e distinção), uma vez que ambos partilham de várias realidades comuns. Eis as mais importantes:
1 - Em ambos, pode haver recrutamento de novos membros para propagar a rede
2 - Em ambos, pode haver a movimentação de produtos e/ou serviços
3 - Em ambos, é dada a hipótese/oportunidade aos membros de vender esses produtos/serviços a terceiros fora da rede
4 - Em ambos, há um forte incentivo ao consumo desses serviços/produtos.
5 a) - Em ambos, qualquer membro pode ganhar mais dinheiro do que alguém no seu
upline, tudo depende dos resultados do esforço e dedicação
5 b) - Em ambos, os membros que tiverem um longo
downline estão, à partida, em condições de fazer mais dinheiro do que os que não tiverem, visto que...
6 - Em ambos, podem ser ganhas comissões relativas a transacções comercias feitas por outros membros - tipicamente membros do
downline. Quanto mais volumoso for o donwline, mais hipóteses há de ganhar dinheiro indirectamente, por acções de terceiros.Num esquema em pirâmide com produtos/serviços,
1) as vendas para dentro da rede,
e/ou
2) a aquisição obrigatória de uma quantidade injustificada de produtos/serviços (inventory-loading),
e/ou
3) o ter de se pagar (através da compra de produtos) para receber as devidas comissões (pay-to-play),
são os três factores indicativos mais importantes para identificar a falta de legitimidade do negócio .
(poder-se-á juntar ainda um outro factor a este lote: a (im)possibilidade de recuperar o dinheiro investido através da desistência de participação no esquema).
Ao longo da história de casos judiciais em que o assunto "pirâmide ou MLM" foi abordado, quase sempre a disputa foi centrada em torno destas questões particulares. Quando, pelo contrário, houver uma filosofia concreta e real de venda de produtos a terceiros fora da rede (não pertencentes ao esquema), com as respectiva comissões a acompanhares esse acto concreto, o negócio é lícito. É a chamada Venda Directa. Esta subtileza pode ser percepcionada no ênfase que é dado ao recrutamento de novos membros, em detrimento da vontade em vender produtos a terceiros.
Numa analogia simples entre um Esquema em Pirâmides
sem produtos e um Esquema em Pirâmide
com produtos podemos observar o seguinte:
a) o que faz expandir a rede numa pirâmide sem produtos é a
impossibilidade física em vender o que quer que seja para fora da rede - como não há produtos ou serviços comercializáveis, o único escape para ganhar dinheiro é recrutar pessoas;
b) o que faz expandir a rede numa pirâmide com produtos é a
falta de atractividade na venda de produtos (por factores que sejam: o preço final dos produtos, pouco competitivos face à concorrência, a falta de atractividade da actividade de "vendas" em si, e o desequilíbrio concreto no plano de compensações da empresa, que pode premiar muito mais factores "não decorrentes das vendas", ou outros), apesar de HAVER essa hipótese à mesma. À semelhança da Pirâmide sem produtos, não há movimentação de nada para fora da rede, e os membros dedicam a maior parte das suas energias a atrair outros membros para a rede (que consequentemente originarão comissões e bónus decorrentes das suas compras).
Portanto, na prática o processo de ganhos de bónus e a ênfase dada ao recrutamento pouco diferem de um para outro modelo. Em ambos os casos, não há vendas para fora da rede e toda a gente dedica esforços para recrutar mais membros.
Nos últimos anos, a FTC tem conseguido encerrar algumas grandes companhias de MLM, sob a acusação de serem pirâmides. Segundo
uma carta dirigida à DSA em 2004, a FTC determina, como factor indicativo mais importante para identificar uma pirâmide, a compra de produtos por parte dos membros apenas por razões de recebimento de comissões (o tal
pay-to-play). Enquanto teoricamente - a nível de percepção do cerne do problema - esta abordagem me pareça bastante correcta e sensata, na prática não há maneira de a implementar. Como raio podemos provar que os membros de determinada companhia adquiriram determinados produtos só para poderem ter acesso ao plano de compensações? Como podemos provar que não foi por simples vontade de consumo desses produtos? A este respeito, a lei portuguesa (o Decreto-lei 143/2001, artigo 27º) é muito mais radical: considera que qualquer desconto obtido por conta de vendas a terceiros é sinónimo de pirâmide, sem especificar quaisquer razões. Pena é não haver vontade de a aplicar na prática...
Alguns exemplos de Esquemas Piramidais:
1 - Pirâmides Sem Produtoshttp://www.diarioleiria.pt/4105.htmVejam só a argumentação do tipo que falou com os jornalistas...
"O Diário de Leiria contactou um elemento da empresa, que negou a ilegalidade, alegando que a estrutura está sediada em Espanha, onde um "buraco" na legislação permitirá a actividade, mas admitiu que o recrutamento e as acções de formação ocorrem em Portugal. «As pessoas aderem livremente, não há qualquer tipo de coacção sobre ninguém. Não há qualquer tipo de má fé», garantiu, citando a existência de cinco dezenas de empresas em Portugal a utilizar o método pirâmide.
Mais do que discussão em torno da legalidade, o nosso interlocutor faz um apelo em relação ao lado humano da situação.
«Era terrível se a notícia saísse neste momento. As pessoas que entraram esta semana vão ficar sem o dinheiro», diz, acrescentando que há pessoas que conseguem, por esta via, obter verbas que as ajudam a superar dificuldades do quotidiano."
As pessoas que entraram esta semana vão ficar sem o dinheiro??? ENTÃO E AS OUTRAS QUE VIEREM A SEGUIR - e que, exponencialmente, serão muitas mais??????? Então e pensar em devolver o dinheiro a essas pessoas que "vão ficar sem ele"?????----------
Outro caso:
Um caso mais recente em Portugal, ainda a decorrer (17/06/2008), o "Jogo da Bolha":
Notícia no:
- Sol- Diário de Notícias- Correio de Manhã.
Este caso tem a particularidade de ser organizado pelos próprios participantes no esquema. Não há nenhuma empresa com interesses financeiros por detrás...
2 - Uma Pirâmide Com ProdutosO caso da Equinox, alguns tópicos para considerção:
- Empresa Norte Americana de Marketing Multinível, comercializava produtos de saúde, beleza, e a ainda filtros de água.
- Fundada em 1991.
- Conheceu um crescimento astronómico na primeira metade dos anos 90.
- Acima de 40000 distribuidores.
- Considerada pela revista INC a empresa privada de mais rápido crescimento em 1996, encabeçando uma lista das "500 mais".
- A taxa efectiva de crescimento, entre 1991 e 1996 foi de 35000%.
-
Membro da DSA (Direct Selling Association).
- Alvo de um processo judicial combinado em oito estados diferentes nos Estados Unidos, 1999.
-
A acusação: Esquema em Pirâmide - a rede gerava dinheiro não a partir das vendas dos produtos, mas sim de um infindável processo de recrutamento, em que os novos recrutas eram incitados a comprarem grandes quantidades de produtos, a um preço elevado; para além disso, a empresa foi acusada de falsear os rendimentos previstos dos distribuidores.
- Alegou em sua defesa tratar-se de um negócio "tal como o da Amway".
- Fechada pela Federal Trade Commission em 2000, e obrigada a pagar uma compensação de $40.000.000, a distribuir por todas as vitimas da fraude.
Mais informações:
aqui.
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Não quero tirar conclusões precipitadas a partir deste exemplo. Não serve para provar que a Agel é uma empresa igual - e por consequência ilegal (tal como o raciocínio de "somos como a Amway" não serviu para ilibar a Equinox aos olhos da justiça).
Serve apenas para provar que o MLM e os esquemas em pirâmide podem coabitar na mesma realidade empresarial. Serve também para provar que o "ser membro da DSA" não é argumento válido para justificar a legitimidade de um qualquer modelo de MLM.--------------------
3 - Uma Pirâmide por e-mail (uma chain-letter)Recebi no outro dia, de uma estimável leitora minha (a senhorita Cleopatra, a quem muito agradeço), um exemplo de um Esquema em Pirâmide por e-mail. O processo é simples: a mensagem traz uma lista de seis nomes e de seis respectivos NIB's, e pede-nos para depositarmos 1€, por transferência bancária, a cada uma dessas seis pessoas listadas; depois, o que temos de fazer é apagar o primeiro nome da lista, adicionarmos o nosso próprio nome no final, e enviarmos o e-mail para uma série de 50 (ou mais) outros contactos.
Junto com esta mensagens, vem um texto daqueles da treta ("uma história real"), a explicar como o tipo que teve a ideia estava quase na miséria quando se lembrou desta artimanha, e como alguns meses depois já tinha a casa paga e andava de carro de luxo. Vem também uma clarificação detalhada dos cálculos do mecanismo, incluindo o total final de ganhos previstos, soma que ascende a alguns milhares de euros - por apenas 6€ de investimento. Engenhoso.
Eis uma explicação mais detalhada destes esquemas manhosos
aqui .
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E eis uma
acta do parlamento de New South Wales, Autrália, sobre uma interessante discussão em torno do assunto "Pirâmides", datada de 1999.
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Ponzis
Os Esquemas Ponzi são frequentemente confundidos com Esquemas em Pirâmide, com os quais repartem algumas afinidades duvidosas - a necessidade de trazer mais pessoas para a rede, em ordem a sustentar os ganhos dos que já lá estão, por exemplo, e a elevada percentagem de lesados no final da rede. Há quem defenda que são uma variação muito específica dentro dos Esquemas em Pirâmide, uma posição que é válida de certa forma, mas em todo o caso irrelevante: continua a haver diferenças específicas que permitem uma diferênciação. O factor essencial que os distingue de uma Pirâmide é a ligação que (não) se estabelece entre os membros inscritos. Num Esquema em Pirâmide, os membros recrutam-se uns aos outros e ganham dinheiro com isso ou dai derivado; num Ponzi todos os membros reportam directamente à entidade promotora e é com ela que fazem negócio - não há uma interacção comercial de membro para membro, embora possa haver avisos de chamamento para a rede. Uma outra diferença grande pode ser apontada para esclarecer os conceitos: num Ponzi, o dinheiro é investido pensando que irá ser devolvido com juros, sem que nenhuma acção seja requerida em troca - bastará, hipoteticamente, esperar que o tempo passe para que o dinheiro cresça; numa Pirâmide, o dinheiro investido inicialmente é dado como perdido definitivamente, e, para o recuperar, uma pessoa terá de recrutar outras pessoas - terá de "trabalhar" para que isso aconteça. Num Ponzi, ninguém perde dinheiro até que o esquema estoire, e nessa altura toda a gente que não o tenha levantado ficará irremediavelmente sem ele.
Os esquemas Ponzi são assim conhecidos em "homenagem" ao primeiro golpe mediático do género, arquitetado pelo próprio Charles Ponzi, nos Estados Unidos, anos 20. A ideia era invulgarmente simples e atractiva: o Sr. Ponzi oferecia um serviço de pagamento de juros que permitia duplicar o investimento em cerca de 90 dias (não estou a brincar!). Por outras palavras, eu dirigia-me ao balcão da agencia do Sr. Ponzi, depositava 500€, tal como se fosse num banco, e ao fim de 90 dias teria um valor acumulado de 1.000€ à minha espera. Outro atractivo deste negócio era o re-investimento: grande parte dos interessados via com bons olhos a hipótese de não recolher do dinheiro, pois a cada 90 dias o bolo duplicava.
O problema do esquema, obviamente, era a impossibilidade de gerar uma taxa de juro tão alta. O Sr. Ponzi não tinha à sua disposição nenhum mecanismo de investimento de retorno que lhe garantisse a sustentabilidade das promessas que fazia. O Sr. Ponzi pegava no dinheiro que as últimas pessoas lhe tinham entregue como investimento e pagava com ele os juros daqueles que já lá estavam há mais tempo, tirando pelo meio uma notas para seu gozo pessoal. Como consequência, não havia maneira de pagar a toda a gente em caso de necessidade efectiva. O esquema acabou por ser questionado publicamente, levando a uma corrida desenfreada aos escritórios do Sr. Ponzi: todos desejavam levantar o dinheiro ao mesmo tempo. Incrivelmente, o Sr. Ponzi conseguiu dessa vez pagar as dívidas. A queda, contudo, foi inevitável e o homem acabou na cadeia depois várias tentativas de prisão e de um processo ultra-meditático.
Charles Ponzi posa para as câmaras da penitenciária
O resto da história é melhor lerem por vós:
http://home.nycap.rr.com/useless/ponzi/http://www.mark-knutson.com/Cá em Portugal temos dois casos sobejamente conhecidos de esquemas Ponzi: o da D. Branca, a banqueira do povo, e, mais recentemente, o da Afinsa/Fórum Filatélico, que só era
a terceira maior empresa mundial de activos não financeiros. Nos dois casos, as contas sairam furadas aos promotores do negócio, que à semelhança do Sr. Ponzi, acabaram a ver o sol atrás das grades.
Enquanto que no caso da
D. Branca apenas havia um serviço por detrás do negócio - a prestação de juros (10% todos os meses, contra os 100% em três meses do Sr. Ponzi):
Reportagem no Correio da Manhã(nota: o link por vezes é teimoso de funcionar - como todos os do Correio da Manhã. Caso dê problemas, copiem-no e coloquem-no directamente na barra do browser)
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... no caso da
Afinsa e do Fórum Filatélico, e para além dos juros (6% ao ano), o negócio envolvia uma contrapartida em selos, que supostamente teriam um valor de mercado concreto (um valor falso, como se veio a descobrir mais tarde, 10x inferior ao real!), e que funcionavam como aval de garantia para o investidor:
http://www.thinkfnwiki.com/wikibolsa/Afinsa(nota: o link acima substitui o link directo para a wikipedia, que por força de ser uma plataforma de livre edição por toda a gente, está sujeita a deturpações e a cortes por parte de interesses vários. Podem comparar este efeito indesejado, por exemplo, nos links (não) fornecidos no final do artigo existente nessa enciclopédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Afinsa)Reportagem no Correio da Manhã(nota: o link por vezes é teimoso de funcionar - como todos os do Correio da Manhã. Caso dê problemas, copiem-no e coloquem-no directamente na barra do browser)
Discussão sobre o caso no Fórum "Think Finance"E o caso continua, em 2008, a
tentar arranjar uma solução para os lesados...
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Mas de longe o meu esquema Ponzi "favorito" foi o
PIPS, um sistema fraudulento originário na Malásia, lançado a nível mundial (Portugal incluído) que, em troca de um modesto investimento, prometia
uma taxa de juro de 2% ao dia(!!!), e que durou uns dois ou três anos até "crashar" - deixando alguns milhares de lesados um pouco por todo o mundo.
Podem ler uma espécie de resumo da história no seguinte link (15 páginas de comentários), uma vez que os sites originais já há muito que desapareceram:
Thread no Fórum "Think Finance"Outra thread no Fórum "Think Finance" (inglês, 169 páginas)Os comentários apresentados pelos defensores do PIPS lembram-me em tudo os comentários dos Ageis mais ferrenhos - uma história a ler com atenção. Às páginas tantas há alguém a perguntar se achavam possível que 170.000 pessoas em todo o mundo estivessem a ser enganadas sem que ninguém desse por nada. Como se veio a provar mais tarde, a resposta era "SIM". O último comentário colocado na thread portuguesa consegue, contudo, ser bastante dramático e arrepiante...
Bryan Mardsen, criador do PIPS, a caminho de uma divisória 2x2 Mais informações sobre o PIPS,
aqui.
Outras Aves Raras - e as suas tentativas de explicar a realidade, ilibando a Agel pelo caminho...Eis alguns argumentos frequentemente utilizados para defender o esquema da Agel:
1) "Se formos ver bem, toda a sociedade em que vivemos é uma Pirâmide."
2)"Numa empresa normal, as coisas também funcionam em pirâmide. Os de cima ficam com a maior parte dos lucros e os de baixo, a grande maioria, são sempres explorados."
Resposta a estas percepções desvirtuadas da realidade:1) A sociedade em que vivemos funciona de facto de acordo com uma espécie de pirâmide de classes, embora o conceito de Pirâmide seja aqui manifestamente diferente de um "Esquema de Vendas em Pirâmide", de acordo com as explicações apresentadas mais acima neste artigo.
Um cartoon ilustrativo desta realidade:
Conforme as camadas, de cima para baixo: "CAPITALISMO; Nós mandamos em si; Nós enganamo-lo; Nós disparamos contra si; Nós comemos por si; Nós trabalhamos por todos e alimentamos todos."
Mais: não poderemos nós comparar o sistema de fundos de pensões a um esquema PONZI? podemos claramente: quem está neste momento a descontar para a reforma está na prática a pagar as pensões dos reformados actuais - é inclusivamente tema de debate social a fragilidade financeira dos cofres do Estado - não há dinheiro para pagar a todos .
CONTUDO, há uma lógica inerente a estas estruturas sociais, e que apontam, quero acreditar, para um conceito de ordem e de justiça social. Há algo de BOM e de JUSTO por detrás destes sistemas (embora, sim, haja sempre desvios às normas, trafulhices e desonestidades pelo meio). Não estamos aqui a falar num "Esquema de Vendas em Pirâmide" operado por uma empresa (ou por "pessoas"). Estamos a falar nos alicerces sociais - algo que é necessário, com tudo o que de "bom" e de "mau" isso acarreta. O sistema de pagamento de pensões não é feito para dele ser retirado qualquer lucro - não é uma exploração descaradamente comercial. Se à comparações que só fazem sentido para delas retirarmos conclusões distorcidas, então esta é uma. Não há nenhum legado das artimanhas criminosas do Sr. Ponzi na maneira como o estado gere as pensões.
2) Quanto à comparação de uma Pirâmide com uma empresa normal, três aspectos fazem a diferença entre as duas realidades:
a) Numa empresa normal, ninguém tem de pagar dinheiro para depois o voltar receber, hipoteticamente, mais tarde. Ninguém está em situação perdedora à partida. Há um contrato de trabalho que vincula a empresa a PAGAR, numa base regular, ou a troco de horas por trabalho, um salário ou compensação monetária.
b) Numa empresa normal,
ninguém fica a perder dinheiro (ao contrário de numa Pirâmide em que pelo menos 66% fica em situação de prejuizo). Toda a gente recebe um salário. Para receber esse salário é necessário TRABALHAR (algo que na Agel ninguém está interessado em fazer). A divisão do trabalho, e se exceptuarmos as cunhas, é feita de acordo com as competências individuais de cada pessoas, e o rendimento auferido é uma componete directamente relacionada com este aspecto. Mais uma vez, é um sistema JUSTO. Com alguns defeitos, mas JUSTO. Exploração? Sim, há exploração. Muita até, em meu entender. Mas é exploração PAGA. REMUNERADA. Onde está essa remuneração para quem fica nas últimas camadas de uma pirâmide, a alimentar a carteira dos parasitas lá de cima? Fica a pergunta. Por alguma razão os membros das redes de venda directa são apelidado de "Vendedores Não Remunerados" - garantem que o produtos saiam das fábricas e muitos ainda pagam para o fazer...
c) Uma empresa normal comercializa produtos e serviços a clientes terceiros, a pessoas que não trabalham para ela. Não vende/impinge a sua produção aos seus próprios trabalhadores. É dessa forma que gera dinheiro. Numa pirâmide, em contrapartida, temos um sistema essencialmente fechado, com poucas ou nenhumas hipóteses de premiar quem "vende para fora" (porque os produtos são difíceis de vender), em que cada novo inscrito paga comissões a quem já lá está e fica também a fazer parte do processo de compras/consumo.
No livro "As Vinhas da Ira", de John Steinbeck, uma família de agricultores na falência, os Joad, é despojada das suas terras e obrigada a atravessar os Estados Unidos à procura de trabalho e melhores condições de vida, na época da grande depressão. Ao longo de uma penosa jornada que reparte com milhares de outras famílias na miséria, os Joad vão encontrando uma série de locais onde ainda se consegue arranjar trabalho de ocasião, a apanhar fruta das árvores, ou em campos de cultivo, ou a cavar valas no chão. O salário pago ao dia, nesses campos, não chega sequer para alimentar toda a família, mesmo que todos trabalhem. Para piorar a situação, algumas quintas ficam de tal maneira distantes de povoados populacionais que as únicas lojas que disponibilizam comida, e que por acaso pertencem aos proprietários dessas mesmas quintas, vendem os produtos a preços super-inflacionados, acabando por recuperar o dinheiro todo que é pago na labora. Salvaguardando as devidas distâncias, é uma situação que me lembra a Agel, em que para receber comissões um Membro tem de comprar produtos caríssimos à empresa em questão. Não obstante, os Membros seguem estas regras sem tugir nem mugir, como se fosse uma situação perfeitamente normal ("é assim que é feito noutras empresas de MLM", dizem alguns). Para mais de 90% desta gente, os custos com a compra de produtos serão sempre superiores aos ganhos com comissões.