quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Balbúrdia no Oeste

"Reporter: Sir, those are dummies.
Governor William J. Le Petomane: How do you think I got elected?"
in "Blazing Saddles", Mel Brooks

Neste artigo pretendo analisar três situações de "balbúrdia" que ocorreram neste Oeste tão caricato que de vez em quando se chama PORTUGAL:

1 - O caso dos rótulos "todos" em português.

retirado de http://www.comunidade-agel.com/


Todos? Não.

Ainda não foi este mês, afinal de contas - ainda há embalagens de produtos que continuam a chegar em estrangeiro:


Esta embalagem de FLX foi recebida em Janeiro 2008, por um membro da Agel que teve a gentileza de digitalizar o rótulo e de mo enviar.

Estarei a ser picuinhas? Talvez. Aceito a crítica. Mas não nos podemos esquecer que a Agel já cá anda (em Portugal) há mais de um ano, e que só agora começam a chegar os rótulos em português.
Não obstante, a empresa apresenta um "certificado" (notem as aspas) passado pela ASAE, há não sei quantos meses atrás, a informar que receberam exemplares do produto com as devidas rotulagens traduzidas. A ASAE recebeu. Os membros da rede é que não.
Para que serviu/serve esse certificado ao certo? Pelo que reparei, para ser pavoneado como certificado de aceitação do produto no mercado nacional, ou seja, para fazer passar a Agel, e os seus produtos, por uma coisa que não é. Não acreditam? Digitem "agel asae" no google.pt e vejam como o certificado está a ser usado nos sites da Agel. Os rótulos em português servem para viabilizar a hipótese de venda dos mesmos em território nacional. Nem mais, nem menos. Nalguns desses mesmos sites, aparece uma indicação a dizer que o negócio "Não é Vendas".
Não obstante, a empresa continua a apresentar um contrato, a que eles chamam de ("Policies and procedures") agreement/acordo, todo em inglês. Então, o documento essencial de regulamentação da actividade dos membros está em estrangeiro???? Pois! Mas do Plano de Compensações já não se esqueceram. Quem sabe se por ser muito mais importante mostrar ao interessado em ingressar na rede os cifrões todos que andam por lá espalhados. Contrato? Isso é chato à brava, parece aquilo que a companhia de seguros manda lá para casa e que nunca leio. E então se está em inglês muito menos... não percebo um boi disso! Onde estão as maneiras de fazer dinheiro? Essas é que eu quero ler.


2 - Como aldrabar recrutas com base em omissões no contrato/plano de compensações

Recebi de um leitor meu uma denúncia importante e que diz respeito a uma omissão gravosa no contrato e/ou plano de compensações.

Prende-se com o seguinte: Pode ou não um membro da rede receber comissões do downline se não tiver recrutado ninguém directamente (e partindo do pressuposto, claro, que existe um donwline)?

Este meu leitor informa-me que depois de ter passado dois meses sem receber um tusto (apesar de ter cerca de dez pessoas por baixo de si), resolveu questionar o upline para saber o que se estava a passar, tendo recebido como resposta que deveria de ser um erro na inserção dos dados da conta bancária no backoffice. Pois, não era - o número da conta estava correctamente inserido. Depois de um telefonema para a linha de assistência técnica da Agel (que o mesmo leitor apelida de "exasperante" e "incompetente"), recebe como resposta que não obtivera qualquer comissão porque ainda não houvera recrutado ninguém. Na sequência da mesma conversa, e após ter insistido em saber a cláusula do regulamento onde tal regra estaria enunciada, é despachado com um "olhe, não sei, já andei à procura no contrato só que não consigo achar onde está, mas deve ser por causa disso." Pediu ainda o operador que lhe fosse enviado um e-mail a solicitar essa informação por escrito, e que ele encaminharia o assunto para quem soubesse responder.

Isto foi em princípios de Fevereiro. Até agora não houve qualquer reposta ao dito e-mail, e a conta bancária continua sem receber comissões.

Ora, da leitura que fiz do contrato, e confesso que não foi muito, muito atenta (porque aquilo é um emaranhado de letras, regras e definições pior que os contratos dos seguros), também não encontro qualquer cláusula a limitar o pagamento de comissões por essa razão.

Por seu turno, da leitura do plano de pagamentos, versão portuguesa, chego à conclusão de que a única obrigatoriedade para recebermos comissões, uma vez existindo um downline, é mesmo o termos de efectuar uma encomenda de "1 caixa" nesse mês (ver imagem abaixo).


Estamos, aparentemente, na presença se uma grave omissão de informação. Quem olhar para este esquema - à primeira vista de simples percepção mas afinal de contas muito mal explicado (e que raio quererá dizer aquela frase no final: "baseado num conceito de dois níveis"?), fica convencido que pode ganhar dinheiro mesmo sem recrutar ninguém, bastando para isso apoiar-se no trabalho do upline. A confirmar-se esta informação, deve haver por aí muita gente inscrita na rede que vai
finalmente perceber porque é que nada lhes anda a cair nas contas bancarias.


3 - O hilariante caso da tabela comparativa - um assunto que já vem de trás...


Utilizei, num artigo publicado anteriormente, um quadro comparativo entre o MLM e os Esquemas em Pirâmide, presente numa apresentação em PDF do negócio da Agel, e que me foi enviado para o correio-electrónico por um Team-Member dessa mesma companhia. A mensagem dizia o seguinte:

"COMO GOSTARIA K O PEDRO FICÁSSE COM COM OUTRA IDEIA DA AGEL ENVIO-LHE O LINK DO SITE EM PORTUGAL COMO TAMBÉM DUAS PEQUENAS APRESENTAÇÕES"

Depois do artigo estar publicado, vem um outro Team-Member da Agel, um suposto conBlogger, estranhar e criticar a utilização de tal quadro, utilizando-se das seguintes palavras:

"Quanto ao quadro apresentado pela Diamond Director Maria João Tavares e Regional Director Marisa de Sousa numa reunião de motivação direccionada a esclarecimento de membros e não à promoção do PRODUTO e/ou NEGÓCIO AGEL, colocada ao dispor apenas aos já membros Agel, muito estranho o facto do conblogger Pedro Menar ter como base "científica" uma exposição de mera apreciação interna,"

Segundo estas afirmações, o dito quadro e a dita apresentação não seriam para colocar à disposição de mais ninguém fora da reunião (e apenas aos já membros da Agel), e não se destinariam "à promoção do PRODUTO e/ou NEGÓCIO AGEL,".

Pergunta 1 - Porque é que tal apresentação, se era "coisa interna", me vem parar assim desta forma às mãos, sem qualquer indicação acerca das suas origens ou objectivos? Logo a mim?

Pergunta 2 - Porque é que o mesmo quadro está disponível na net, já com algumas alterações, no site de um outro Team-Member, interessado directamente na promoção do negócio E dos produtos da Agel? Um site que também oferece telemóveis a quem se inscrever na Agel até final de Janeiro?




Pergunta 3 - Como é que um quadro com tantos disparates lá metidos dentro, à razão de um ou mais por célula, é utilizado para "motivação direccionada a esclarecimento de membros"???? Que espécie de esclarecimento é este???? Parece mais uma suave lavagem cerebral. Quem ler um quadro destes e não souber que conceitos estão em causa, come tudo sem se queixar - para logo de seguida utilizar esses argumentos no seu trabalho de recrutamento.

Ainda no outro dia alguém no "Indústria da Decepção" - alguém que certamente deverá ter estado na tal reunião -, utilizou os mesmos argumentos presentes no quadro para me confrontar com a suposta "verdade", se não, vejamos o que foi dito ( aqui ) :

"A lei permite a existência de empresas que usem MMN e pune as que usam sistema em pirâmide:

1 - A primeira diferença entre elas é que eu terei que declarar no meu IRS TODOS os meus rendimentos obtidos com a AGEL. No fim do ano a Agel envia-nos uma declaração de rendimentos para esse efeito.

2 - Para declarar esses rendimentos tenho que estar coletado nas finanças, como já estou, e aliás já estava, devido à actividade profissional que exerço.
Eu PAGO IMPOSTOS pelos rendimentos que tenho com a AGEL.

3 - A Agel oferece um produto, oferece um serviço, coisa que empresas em pirâmide ILEGAIS não o fazem.

4 - Com a Agel “os ganhos são proporcionais à produtividade” ou seja, quem trabalhar mais, vai ter mais Ganhos. Ao contrário nas empresas em pirâmide que dessiminam a ideia de que todos vão ganhar uma fortuna.

5 - A AGEL é controlada por uma empresa. Negocios em piramide sabe tão bem como eu que são controladas por PESSOAS, que nunca niguém sabe quem são e nunca niguém declara e paga impostos por esses rendimentos."

Num espaço de tempo relativamente curto, tenho três referências directas ao supra-mencionado quadro, feitas por três pessoas diferentes. A um quadro que era suposto estar dentro de uma apresentação de motivação"à porta-fechada". Apresentação essa, já agora, que todos podemos ler aqui:

http://www.fourseasons-rest.com/App_legal_e_cientifica_dos_produtos2.pdf


Ainda no seguimento da discussão em torno do quado, o mesmo Sr. vêm ainda afirmar que "ACEITA, QUE O MESMO , DO PONTO DE VISTA TÉCNICO, CAREÇA DE ALGUNS AJUSTES, MAS COMO JÁ HAVIA REFERIDO, É O RESULTADO DA JUVENTUDE DO MLM ENTRE NÓS E DA JUVENTUDE DA PRÓPRIA EMPRESA."

Pergunta 4 - Como é que uma empresa, por mais jovem, que seja, se mete num negócio de MLM se as ideias que tem acerca dos conceitos são estes? (hint: de jovem a empresa não tem nada, uma vez que quem a gere já tem muitos anos de casa noutras empresas de MLM).

Pergunta 5 - O apresentação está assinada por uma Diamond Director e por uma Regional Director. Será que estas pessoas são assim tão jovens face ao conceito de MLM? É que para chegar onde chegaram tiveram de recrutar/motivar muita gente. Será que esse recrutamento foi feito com base nos conceitos apresentados no quadro? Tudo aponta para aí...

------

Foi interessante contar com a preciosa ajuda deste Sr., que acabou por me alertar para uma situação muito mais gravosa do que aquilo que aparentava ser a princípio. O que começou por ser uma crítica a um simples quadro de apresentação de um negócio , acabou numa crítica a um quadro UTILIZADO PARA MOTIVAR TEAM-MEMBERS à porta fechada. Muito obrigado por esse pedaço de informação previligiada.



quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Pirâmides, Ponzis e outras aves raras

"It's easy to make a lot of money, if all you want to do is make a lot of money." - em Citizen Kane, por Orson Welles

Pirâmides

A essência: o mecanismo-catapulta que caracteriza qualquer Esquema em Pirâmide - no sentido de trafulhice sócio-económica, e para além de qualquer conotação legislativa -, está muito bem explicado nos seguintes cartoons:

Seminário: "Como Ganhar Dinheiro"
- Aluguem um auditório como este e cobrem 30€ por cada lugar. Obrigado por terem vindo.




- E então vocês perguntam: Tom, como é que eu posso fazer para ficar podre de rico? É simples, basta engrupirem outras pessoas da mesma maneira que estão prestes a ser engrupidos por mim.


Uma Pirâmide assenta em três características fundamentais:

1 - Há uma troca de dinheiro entre um promotor e um interessado - o interessado paga para pertencer a um "negócio" (seja por conta da compra de produtos, seja por conta da compra de serviços, seja por conta de nada em concreto, não faz diferença - o que interessa é a "oportunidade" de explorar uma rede/negócio).

2 - O interessado, agora membro participante no esquema, pode recuperar o dinheiro investido através do recrutamento de outras pessoas. Os novos membros pagam também ao promotor para entrarem no "negócio" e o interessado que os recrutou recebe dinheiro por conta desse recrutamento. Quantos mais membros ele trouxer para a rede, mais comissões recebe e, consequentemente, mais hipóteses tem de recuperar o investimento. A motivação principal para cada membro é conseguir subir acima da linha de prejuizo, e a partir desse momento qualquer nova entrada é lucro limpo.

3 - A rede expande-se sempre na base do "1 para n". Um membro pode recrutar n novos membros, cada um deles por sua vez pode recrutar outros n novos membros, e assim sucessivamente - até ao infinito (sendo que "infinito", nesta situação, significa o muito concreto finito da saturação de mercado). Esquematizando este processo no papel, ficamos com um desnho parecido com uma pirâmide, e daí possivelmente a origem da expressão. Algumas contas rápidas dão para entender que 66% a 99% dos inscritos, conforme a estrutura do esquema, nunca vão ganhar dinheiro nenhum. A maioria perde sempre dinheiro - é uma certeza matemática.

Em resumo simples: uma pirâmide é uma rede para a qual uma pessoa entra de livre vontade e se coloca numa situação inicial de prejuizo. Para recuperar o dinheiro investido, a única hipótese viável/atractiva é recrutar outras pessoas para a rede.

Em torno desta lógica simples, podemos encontrar as mais estrambólicas e esforçadas variações, algumas delas sem qualquer tipo de preocupação e esconder a origem, outras impecavelmente camufladas para que pareçam outras coisas. Algums pirâmides eliminaram inclusivamente o pagamento inicial de adesão (e a consequente comissão ao angariador), embora mais cedo ou mais tarde o aderente seja pressionado a efectuar um pagamento ou uma compra qualquer. O conceito de MLM é aquele que melhor aproveita as potencialidades de uma pirâmide, devido às similaridades existentes entre os dois modelos. Dir-se-ia que foram feitos um para o outro, tal é a perfeição de encaixe. O aproveitamento de um Esquema em Pirâmide como forma de expansão de um MLM introduz bastantes novas variáveis ao sistema, a mais evidente das quais a vinculação dos membros a uma periodicidade regular nas trocas de dinheiro - as compras periódicas de produtos/serviços são uma espécie de mini-ecos repetidos da ideia presente no recrutamento de membros, e o objectivo é superar a linha de prejuízo mensal à conta das compras feitas por um downline volumoso. Os pagamentos mensais por conta de comissões ligadas a compras dos outros membros fazem circular ininterruptamente, periodicamente, o dinheiro das camadas de baixo para as camadas de cima. Quase nunca há financiamento externo resultante de vendas de produtos para fora da rede. Quase sempre os produtos são vendidos aos membros a um valor acima do real e acima dos preços normais praticados no mercado em produtos concorrentes. Por outro lado, a existência de um produto é um disfarce excelente, uma vez que permite: a) elevar a fraude ao nível de um negócio legítimo de "vendas directas", pelo menos em teoria, e b) fazer supor aos membros que adquiriram algo de valor, algo que podem voltar a trocar por dinheiro em caso de opção.

A confusão entre os conceitos de Pirâmide e MLM é natural (e de muito difícil percepção e distinção), uma vez que ambos partilham de várias realidades comuns. Eis as mais importantes:

1 - Em ambos, pode haver recrutamento de novos membros para propagar a rede
2 - Em ambos, pode haver a movimentação de produtos e/ou serviços
3 - Em ambos, é dada a hipótese/oportunidade aos membros de vender esses produtos/serviços a terceiros fora da rede
4 - Em ambos, há um forte incentivo ao consumo desses serviços/produtos.
5 a) - Em ambos, qualquer membro pode ganhar mais dinheiro do que alguém no seu upline, tudo depende dos resultados do esforço e dedicação
5 b) - Em ambos, os membros que tiverem um longo downline estão, à partida, em condições de fazer mais dinheiro do que os que não tiverem, visto que...
6 - Em ambos, podem ser ganhas comissões relativas a transacções comercias feitas por outros membros - tipicamente membros do downline. Quanto mais volumoso for o donwline, mais hipóteses há de ganhar dinheiro indirectamente, por acções de terceiros.


Num esquema em pirâmide com produtos/serviços,
1) as vendas para dentro da rede,
e/ou
2) a aquisição obrigatória de uma quantidade injustificada de produtos/serviços (inventory-loading),
e/ou
3) o ter de se pagar (através da compra de produtos) para receber as devidas comissões (pay-to-play),
são os três factores indicativos mais importantes para identificar a falta de legitimidade do negócio
.
(poder-se-á juntar ainda um outro factor a este lote: a (im)possibilidade de recuperar o dinheiro investido através da desistência de participação no esquema).

Ao longo da história de casos judiciais em que o assunto "pirâmide ou MLM" foi abordado, quase sempre a disputa foi centrada em torno destas questões particulares. Quando, pelo contrário, houver uma filosofia concreta e real de venda de produtos a terceiros fora da rede (não pertencentes ao esquema), com as respectiva comissões a acompanhares esse acto concreto, o negócio é lícito. É a chamada Venda Directa. Esta subtileza pode ser percepcionada no ênfase que é dado ao recrutamento de novos membros, em detrimento da vontade em vender produtos a terceiros.

Numa analogia simples entre um Esquema em Pirâmides sem produtos e um Esquema em Pirâmide com produtos podemos observar o seguinte: a) o que faz expandir a rede numa pirâmide sem produtos é a impossibilidade física em vender o que quer que seja para fora da rede - como não há produtos ou serviços comercializáveis, o único escape para ganhar dinheiro é recrutar pessoas; b) o que faz expandir a rede numa pirâmide com produtos é a falta de atractividade na venda de produtos (por factores que sejam: o preço final dos produtos, pouco competitivos face à concorrência, a falta de atractividade da actividade de "vendas" em si, e o desequilíbrio concreto no plano de compensações da empresa, que pode premiar muito mais factores "não decorrentes das vendas", ou outros), apesar de HAVER essa hipótese à mesma. À semelhança da Pirâmide sem produtos, não há movimentação de nada para fora da rede, e os membros dedicam a maior parte das suas energias a atrair outros membros para a rede (que consequentemente originarão comissões e bónus decorrentes das suas compras).
Portanto, na prática o processo de ganhos de bónus e a ênfase dada ao recrutamento pouco diferem de um para outro modelo. Em ambos os casos, não há vendas para fora da rede e toda a gente dedica esforços para recrutar mais membros.

Nos últimos anos, a FTC tem conseguido encerrar algumas grandes companhias de MLM, sob a acusação de serem pirâmides. Segundo uma carta dirigida à DSA em 2004, a FTC determina, como factor indicativo mais importante para identificar uma pirâmide, a compra de produtos por parte dos membros apenas por razões de recebimento de comissões (o tal pay-to-play). Enquanto teoricamente - a nível de percepção do cerne do problema - esta abordagem me pareça bastante correcta e sensata, na prática não há maneira de a implementar. Como raio podemos provar que os membros de determinada companhia adquiriram determinados produtos só para poderem ter acesso ao plano de compensações? Como podemos provar que não foi por simples vontade de consumo desses produtos? A este respeito, a lei portuguesa (o Decreto-lei 143/2001, artigo 27º) é muito mais radical: considera que qualquer desconto obtido por conta de vendas a terceiros é sinónimo de pirâmide, sem especificar quaisquer razões. Pena é não haver vontade de a aplicar na prática...

Alguns exemplos de Esquemas Piramidais:


1 - Pirâmides Sem Produtos

http://www.diarioleiria.pt/4105.htm

Vejam só a argumentação do tipo que falou com os jornalistas...

"O Diário de Leiria contactou um elemento da empresa, que negou a ilegalidade, alegando que a estrutura está sediada em Espanha, onde um "buraco" na legislação permitirá a actividade, mas admitiu que o recrutamento e as acções de formação ocorrem em Portugal. «As pessoas aderem livremente, não há qualquer tipo de coacção sobre ninguém. Não há qualquer tipo de má fé», garantiu, citando a existência de cinco dezenas de empresas em Portugal a utilizar o método pirâmide.
Mais do que discussão em torno da legalidade, o nosso interlocutor faz um apelo em relação ao lado humano da situação.
«Era terrível se a notícia saísse neste momento. As pessoas que entraram esta semana vão ficar sem o dinheiro», diz, acrescentando que há pessoas que conseguem, por esta via, obter verbas que as ajudam a superar dificuldades do quotidiano."

As pessoas que entraram esta semana vão ficar sem o dinheiro??? ENTÃO E AS OUTRAS QUE VIEREM A SEGUIR - e que, exponencialmente, serão muitas mais??????? Então e pensar em devolver o dinheiro a essas pessoas que "vão ficar sem ele"?????

----------

Outro caso:


Um caso mais recente em Portugal, ainda a decorrer (17/06/2008), o "Jogo da Bolha":

Notícia no:
- Sol
- Diário de Notícias
- Correio de Manhã.

Este caso tem a particularidade de ser organizado pelos próprios participantes no esquema. Não há nenhuma empresa com interesses financeiros por detrás...


2 - Uma Pirâmide Com Produtos

O caso da Equinox, alguns tópicos para considerção:

- Empresa Norte Americana de Marketing Multinível, comercializava produtos de saúde, beleza, e a ainda filtros de água.
- Fundada em 1991.
- Conheceu um crescimento astronómico na primeira metade dos anos 90.
- Acima de 40000 distribuidores.
- Considerada pela revista INC a empresa privada de mais rápido crescimento em 1996, encabeçando uma lista das "500 mais".
- A taxa efectiva de crescimento, entre 1991 e 1996 foi de 35000%.
- Membro da DSA (Direct Selling Association).
- Alvo de um processo judicial combinado em oito estados diferentes nos Estados Unidos, 1999.
- A acusação: Esquema em Pirâmide - a rede gerava dinheiro não a partir das vendas dos produtos, mas sim de um infindável processo de recrutamento, em que os novos recrutas eram incitados a comprarem grandes quantidades de produtos, a um preço elevado; para além disso, a empresa foi acusada de falsear os rendimentos previstos dos distribuidores.
- Alegou em sua defesa tratar-se de um negócio "tal como o da Amway".
- Fechada pela Federal Trade Commission em 2000, e obrigada a pagar uma compensação de $40.000.000, a distribuir por todas as vitimas da fraude.

Mais informações: aqui.

--
Não quero tirar conclusões precipitadas a partir deste exemplo. Não serve para provar que a Agel é uma empresa igual - e por consequência ilegal (tal como o raciocínio de "somos como a Amway" não serviu para ilibar a Equinox aos olhos da justiça). Serve apenas para provar que o MLM e os esquemas em pirâmide podem coabitar na mesma realidade empresarial. Serve também para provar que o "ser membro da DSA" não é argumento válido para justificar a legitimidade de um qualquer modelo de MLM.
--------------------

3 - Uma Pirâmide por e-mail (uma chain-letter)

Recebi no outro dia, de uma estimável leitora minha (a senhorita Cleopatra, a quem muito agradeço), um exemplo de um Esquema em Pirâmide por e-mail. O processo é simples: a mensagem traz uma lista de seis nomes e de seis respectivos NIB's, e pede-nos para depositarmos 1€, por transferência bancária, a cada uma dessas seis pessoas listadas; depois, o que temos de fazer é apagar o primeiro nome da lista, adicionarmos o nosso próprio nome no final, e enviarmos o e-mail para uma série de 50 (ou mais) outros contactos.
Junto com esta mensagens, vem um texto daqueles da treta ("uma história real"), a explicar como o tipo que teve a ideia estava quase na miséria quando se lembrou desta artimanha, e como alguns meses depois já tinha a casa paga e andava de carro de luxo. Vem também uma clarificação detalhada dos cálculos do mecanismo, incluindo o total final de ganhos previstos, soma que ascende a alguns milhares de euros - por apenas 6€ de investimento. Engenhoso.

Eis uma explicação mais detalhada destes esquemas manhosos aqui .

------------

E eis uma acta do parlamento de New South Wales, Autrália, sobre uma interessante discussão em torno do assunto "Pirâmides", datada de 1999.

-----------


Ponzis

Os Esquemas Ponzi são frequentemente confundidos com Esquemas em Pirâmide, com os quais repartem algumas afinidades duvidosas - a necessidade de trazer mais pessoas para a rede, em ordem a sustentar os ganhos dos que já lá estão, por exemplo, e a elevada percentagem de lesados no final da rede. Há quem defenda que são uma variação muito específica dentro dos Esquemas em Pirâmide, uma posição que é válida de certa forma, mas em todo o caso irrelevante: continua a haver diferenças específicas que permitem uma diferênciação. O factor essencial que os distingue de uma Pirâmide é a ligação que (não) se estabelece entre os membros inscritos. Num Esquema em Pirâmide, os membros recrutam-se uns aos outros e ganham dinheiro com isso ou dai derivado; num Ponzi todos os membros reportam directamente à entidade promotora e é com ela que fazem negócio - não há uma interacção comercial de membro para membro, embora possa haver avisos de chamamento para a rede. Uma outra diferença grande pode ser apontada para esclarecer os conceitos: num Ponzi, o dinheiro é investido pensando que irá ser devolvido com juros, sem que nenhuma acção seja requerida em troca - bastará, hipoteticamente, esperar que o tempo passe para que o dinheiro cresça; numa Pirâmide, o dinheiro investido inicialmente é dado como perdido definitivamente, e, para o recuperar, uma pessoa terá de recrutar outras pessoas - terá de "trabalhar" para que isso aconteça. Num Ponzi, ninguém perde dinheiro até que o esquema estoire, e nessa altura toda a gente que não o tenha levantado ficará irremediavelmente sem ele.

Os esquemas Ponzi são assim conhecidos em "homenagem" ao primeiro golpe mediático do género, arquitetado pelo próprio Charles Ponzi, nos Estados Unidos, anos 20. A ideia era invulgarmente simples e atractiva: o Sr. Ponzi oferecia um serviço de pagamento de juros que permitia duplicar o investimento em cerca de 90 dias (não estou a brincar!). Por outras palavras, eu dirigia-me ao balcão da agencia do Sr. Ponzi, depositava 500€, tal como se fosse num banco, e ao fim de 90 dias teria um valor acumulado de 1.000€ à minha espera. Outro atractivo deste negócio era o re-investimento: grande parte dos interessados via com bons olhos a hipótese de não recolher do dinheiro, pois a cada 90 dias o bolo duplicava.

O problema do esquema, obviamente, era a impossibilidade de gerar uma taxa de juro tão alta. O Sr. Ponzi não tinha à sua disposição nenhum mecanismo de investimento de retorno que lhe garantisse a sustentabilidade das promessas que fazia. O Sr. Ponzi pegava no dinheiro que as últimas pessoas lhe tinham entregue como investimento e pagava com ele os juros daqueles que já lá estavam há mais tempo, tirando pelo meio uma notas para seu gozo pessoal. Como consequência, não havia maneira de pagar a toda a gente em caso de necessidade efectiva. O esquema acabou por ser questionado publicamente, levando a uma corrida desenfreada aos escritórios do Sr. Ponzi: todos desejavam levantar o dinheiro ao mesmo tempo. Incrivelmente, o Sr. Ponzi conseguiu dessa vez pagar as dívidas. A queda, contudo, foi inevitável e o homem acabou na cadeia depois várias tentativas de prisão e de um processo ultra-meditático.


Charles Ponzi posa para as câmaras da penitenciária


O resto da história é melhor lerem por vós:

http://home.nycap.rr.com/useless/ponzi/

http://www.mark-knutson.com/


Cá em Portugal temos dois casos sobejamente conhecidos de esquemas Ponzi: o da D. Branca, a banqueira do povo, e, mais recentemente, o da Afinsa/Fórum Filatélico, que só era a terceira maior empresa mundial de activos não financeiros. Nos dois casos, as contas sairam furadas aos promotores do negócio, que à semelhança do Sr. Ponzi, acabaram a ver o sol atrás das grades.

Enquanto que no caso da D. Branca apenas havia um serviço por detrás do negócio - a prestação de juros (10% todos os meses, contra os 100% em três meses do Sr. Ponzi):

Reportagem no Correio da Manhã
(nota: o link por vezes é teimoso de funcionar - como todos os do Correio da Manhã. Caso dê problemas, copiem-no e coloquem-no directamente na barra do browser)

----

... no caso da Afinsa e do Fórum Filatélico, e para além dos juros (6% ao ano), o negócio envolvia uma contrapartida em selos, que supostamente teriam um valor de mercado concreto (um valor falso, como se veio a descobrir mais tarde, 10x inferior ao real!), e que funcionavam como aval de garantia para o investidor:

http://www.thinkfnwiki.com/wikibolsa/Afinsa

(nota: o link acima substitui o link directo para a wikipedia, que por força de ser uma plataforma de livre edição por toda a gente, está sujeita a deturpações e a cortes por parte de interesses vários. Podem comparar este efeito indesejado, por exemplo, nos links (não) fornecidos no final do artigo existente nessa enciclopédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Afinsa)

Reportagem no Correio da Manhã
(nota: o link por vezes é teimoso de funcionar - como todos os do Correio da Manhã. Caso dê problemas, copiem-no e coloquem-no directamente na barra do browser)

Discussão sobre o caso no Fórum "Think Finance"

E o caso continua, em 2008, a tentar arranjar uma solução para os lesados...

-----------


Mas de longe o meu esquema Ponzi "favorito" foi o PIPS, um sistema fraudulento originário na Malásia, lançado a nível mundial (Portugal incluído) que, em troca de um modesto investimento, prometia uma taxa de juro de 2% ao dia(!!!), e que durou uns dois ou três anos até "crashar" - deixando alguns milhares de lesados um pouco por todo o mundo.

Podem ler uma espécie de resumo da história no seguinte link (15 páginas de comentários), uma vez que os sites originais já há muito que desapareceram:

Thread no Fórum "Think Finance"

Outra thread no Fórum "Think Finance" (inglês, 169 páginas)

Os comentários apresentados pelos defensores do PIPS lembram-me em tudo os comentários dos Ageis mais ferrenhos - uma história a ler com atenção. Às páginas tantas há alguém a perguntar se achavam possível que 170.000 pessoas em todo o mundo estivessem a ser enganadas sem que ninguém desse por nada. Como se veio a provar mais tarde, a resposta era "SIM". O último comentário colocado na thread portuguesa consegue, contudo, ser bastante dramático e arrepiante...


Bryan Mardsen, criador do PIPS, a caminho de uma divisória 2x2

Mais informações sobre o PIPS, aqui.



Outras Aves Raras - e as suas tentativas de explicar a realidade, ilibando a Agel pelo caminho...

Eis alguns argumentos frequentemente utilizados para defender o esquema da Agel:

1) "Se formos ver bem, toda a sociedade em que vivemos é uma Pirâmide."

2)"Numa empresa normal, as coisas também funcionam em pirâmide. Os de cima ficam com a maior parte dos lucros e os de baixo, a grande maioria, são sempres explorados."

Resposta a estas percepções desvirtuadas da realidade:

1) A sociedade em que vivemos funciona de facto de acordo com uma espécie de pirâmide de classes, embora o conceito de Pirâmide seja aqui manifestamente diferente de um "Esquema de Vendas em Pirâmide", de acordo com as explicações apresentadas mais acima neste artigo.

Um cartoon ilustrativo desta realidade:

Conforme as camadas, de cima para baixo: "CAPITALISMO; Nós mandamos em si; Nós enganamo-lo; Nós disparamos contra si; Nós comemos por si; Nós trabalhamos por todos e alimentamos todos."

Mais: não poderemos nós comparar o sistema de fundos de pensões a um esquema PONZI? podemos claramente: quem está neste momento a descontar para a reforma está na prática a pagar as pensões dos reformados actuais - é inclusivamente tema de debate social a fragilidade financeira dos cofres do Estado - não há dinheiro para pagar a todos .

CONTUDO, há uma lógica inerente a estas estruturas sociais, e que apontam, quero acreditar, para um conceito de ordem e de justiça social. Há algo de BOM e de JUSTO por detrás destes sistemas (embora, sim, haja sempre desvios às normas, trafulhices e desonestidades pelo meio). Não estamos aqui a falar num "Esquema de Vendas em Pirâmide" operado por uma empresa (ou por "pessoas"). Estamos a falar nos alicerces sociais - algo que é necessário, com tudo o que de "bom" e de "mau" isso acarreta. O sistema de pagamento de pensões não é feito para dele ser retirado qualquer lucro - não é uma exploração descaradamente comercial. Se à comparações que só fazem sentido para delas retirarmos conclusões distorcidas, então esta é uma. Não há nenhum legado das artimanhas criminosas do Sr. Ponzi na maneira como o estado gere as pensões.

2) Quanto à comparação de uma Pirâmide com uma empresa normal, três aspectos fazem a diferença entre as duas realidades:

a) Numa empresa normal, ninguém tem de pagar dinheiro para depois o voltar receber, hipoteticamente, mais tarde. Ninguém está em situação perdedora à partida. Há um contrato de trabalho que vincula a empresa a PAGAR, numa base regular, ou a troco de horas por trabalho, um salário ou compensação monetária.

b) Numa empresa normal, ninguém fica a perder dinheiro (ao contrário de numa Pirâmide em que pelo menos 66% fica em situação de prejuizo). Toda a gente recebe um salário. Para receber esse salário é necessário TRABALHAR (algo que na Agel ninguém está interessado em fazer). A divisão do trabalho, e se exceptuarmos as cunhas, é feita de acordo com as competências individuais de cada pessoas, e o rendimento auferido é uma componete directamente relacionada com este aspecto. Mais uma vez, é um sistema JUSTO. Com alguns defeitos, mas JUSTO. Exploração? Sim, há exploração. Muita até, em meu entender. Mas é exploração PAGA. REMUNERADA. Onde está essa remuneração para quem fica nas últimas camadas de uma pirâmide, a alimentar a carteira dos parasitas lá de cima? Fica a pergunta. Por alguma razão os membros das redes de venda directa são apelidado de "Vendedores Não Remunerados" - garantem que o produtos saiam das fábricas e muitos ainda pagam para o fazer...

c) Uma empresa normal comercializa produtos e serviços a clientes terceiros, a pessoas que não trabalham para ela. Não vende/impinge a sua produção aos seus próprios trabalhadores. É dessa forma que gera dinheiro. Numa pirâmide, em contrapartida, temos um sistema essencialmente fechado, com poucas ou nenhumas hipóteses de premiar quem "vende para fora" (porque os produtos são difíceis de vender), em que cada novo inscrito paga comissões a quem já lá está e fica também a fazer parte do processo de compras/consumo.

No livro "As Vinhas da Ira", de John Steinbeck, uma família de agricultores na falência, os Joad, é despojada das suas terras e obrigada a atravessar os Estados Unidos à procura de trabalho e melhores condições de vida, na época da grande depressão. Ao lo
ngo de uma penosa jornada que reparte com milhares de outras famílias na miséria, os Joad vão encontrando uma série de locais onde ainda se consegue arranjar trabalho de ocasião, a apanhar fruta das árvores, ou em campos de cultivo, ou a cavar valas no chão. O salário pago ao dia, nesses campos, não chega sequer para alimentar toda a família, mesmo que todos trabalhem. Para piorar a situação, algumas quintas ficam de tal maneira distantes de povoados populacionais que as únicas lojas que disponibilizam comida, e que por acaso pertencem aos proprietários dessas mesmas quintas, vendem os produtos a preços super-inflacionados, acabando por recuperar o dinheiro todo que é pago na labora. Salvaguardando as devidas distâncias, é uma situação que me lembra a Agel, em que para receber comissões um Membro tem de comprar produtos caríssimos à empresa em questão. Não obstante, os Membros seguem estas regras sem tugir nem mugir, como se fosse uma situação perfeitamente normal ("é assim que é feito noutras empresas de MLM", dizem alguns). Para mais de 90% desta gente, os custos com a compra de produtos serão sempre superiores aos ganhos com comissões.


terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Pirâmide VS Multinível III

* Alice no País das Maravilhas *
Uma viagem ao mundo da treta fabricada e da construção standardizada de castelos de areia

Onde é feito um ensaio sobre questões de identificação de conceitos

Onde também é feito um ensaio sobre questões de baralhação de conceitos

Onde se concluirá que alguém anda a trabalhar no duro para criar pseudo-imagens


Os três quadros seguintes não foram escolhidos ao acaso, aleatoriamente. Obedeci a dois critérios importantes que servem os propósitos da denuncia que pretendo levar a cabo: 1) foram escritos em português logo de raiz, evitando qualquer embaraço com erros de interpretação e/ou tradução; 2) são estudos não relacionados, retirados de contextos totalmente diferentes, e que focam o mesmo tema - as diferenças entre MLM e Esquemas em Pirâmide. Ao não estarem relacionados, fornecem informação cruzada imparcial, impossível de ser manipulada para que "pareça outra coisa" no final.

À medida que forem lendo estes quadros, vão certamente fazer comparações na vossa mente entre a aplicabilidade de cada um dos tópicos e o funcionamento da Agel no terreno, e vão certamente arranjar argumentos para provar que a Agel não é um esquema em pirâmide. Provar que a Agel é uma pirâmide, ou que é um negócio lícito de MLM, não é o propósito deste artigo, embora algumas conclusões sobre esse assunto possam ser tiradas. Provar que a Agel é uma pirâmide foi o que tentei fazer nas mensagens anteriores da série "Multinível vs Pirâmide", cabendo a cada um de vós formar uma opinião pessoal contrária, ou não, à minha. O propósito deste artigo é mostrar que anda a ser criada propositadamente uma pseudo-imagem da Agel, e que através de uma manipulação nas informações prestadas aos potenciais interessados, nem sempre levada a cabo de forma perfeita, muita gente anda a comer gato por lebre e a gostar do sabor.

Antes de começarmos, contudo, quero deixar algumas ideias em cima da mesa:

- Os modelos não são mutuamente exclusivos. Um esquema em pirâmide pode coabitar no mesmo sistema de um negócio MLM (e, nesse caso, o MLM deixa de ser legítimo, e passa a ser uma deturpação da ideia original). De facto, as características entre os dois conceitos são de tal forma"casamenteiras", que o MLM parece ter sido inventado de propósito para a "perfeita implementação" de um esquema em pirâmide. Ao lerem os quadros, não se deixem arrastar para uma perspectiva unilateralista na conclusão: pode não haver o "ou é isto, ou é aquilo", e pode haver antes o "é um pouco disto e um pouco daquilo".

- A legalidade de uma Pirâmide é um factor variável, não constante. Varia conforme o local e a legislação em vigor nesse local. Portanto, conclusões do género: "é uma pirâmide" e "não é uma pirâmide" não podem ser baseadas na lei, sob pena de gerarem nós górdios. Um negócio pode estar a ser operado em pirâmide, ser legal em determinados locais, e ser ilegal noutros. Quero deixar claro que não é apenas pela questão jurídica que identificamos ou ilibamos uma suposta pirâmide. Pode haver pirâmides legais? Muito concretamente: SIM. Basta que o sistema jurídico de um local onde esteja a ser promovida a actividade o permita. Continuam a ser esquemas fraudulentos , mas podem ser legais.
Já sei que este assunto é polémico. Já sei que há quem defenda que "uma pirâmide é sempre ilegal". Mas então e nos países onde não há leis que o determinem, de que forma temos uma pirâmide ilegal nesses países? A fraudulência do esquema, essa, continua toda lá.

- Os factores apresentados nos quadros representam indícios identificativos de por vezes difícil verificação, confusa interpretação e subjectiva conclusão. Algumas das abordagens, mesmo nos quadros que considero imparciais, deixam-me com sérias dúvidas quanto à aplicabilidade no negócio da Agel.

Mas vamos a dados:

Take I - Retirado de um artigo sobre o MLM e as Pirâmides - 2003 (aqui) - agradeço a dica do Sr. da Herbalife, indicada na resposta a mensagem anterior.


Take II - Retirado de um estudo sobre as Vendas Directas realizado em Portugal - 2003 (aqui)


Take III - Retirado de uma apresentação PDF feita por membros da Agel, que me foi enviada por e-mail - 2008 -, com o propósito de me "esclarecer sobre a verdade".



Take IV - Considerações a fazer sobre os quadros acima expostos

Enquanto os dois primeiros quadros foram elaborados a pensar em situações generalistas, notando-se uma similaridade nos aspectos considerados e na forma como apresentam a informação, o terceiro quadro parece ter sido construído com um único propósito em mente: ilibar a Agel de ser em Esquema em Pirâmide - confundir os leitores sobre aquilo que é efectivamente o MMN.

Analisemos os dados mais à lupa:

1 - Vendas VS Recrutamento

Nos dois primeiros quadros há uma preocupação evidente em mostrar que um negócio de MLM se constrói com base nas vendas do produto (para fora da rede), e que tem realmente de haver um produto que não sirva só de fachada, que seja competitivo/vendível.

Em contrapartida, no terceiro quadro, temos dois trechos lacónicos a afirmar que o MLM "oferece um produto" e "oferece um serviço", e que, numa piramide, essa situação não se verifica.
Há graves problemas nesta abordagem ao assunto, a começar pelo facto de "a existência de um produto/serviço" não ser garantia suficiente para verificar um sistema MLM. Para haver MLM, têm de haver VENDAS DIRECTAS - a sua razão primeira de existência -, e não apenas "algo" a circular de mão para mão. Se essa circulação só é feita da empresa fornecedora para os membros da rede, temos um forte indício de estarmos na presença de um esquema de vendas em pirâmide (há um interessantíssimo estudo publicado sobre o assunto, por um economista da Federal Trade Comission, que conclui que aproximadamente 70% de vendas para fora da rede são necessárias para garantir que não é uma pirâmide: ver aqui).

Depois, em relação a um esquema de vendas em pirâmide, é FALSO que não existam produtos/serviços envolvidos. Há situações em que essa premissa se verifica de facto (fora do ambiente MLM), mas no caso que estamos a analisar é, repito, uma constatação FALSA. Como prova, apresento-vos: a) a lei portuguesa que regula o assunto - ver Decreto-Lei Nº 143/2001 de 26 de Abril - artigo 27; b) casos de empresas de suposto MLM que fecharam devido a acusações de "piramidagem" (equinox1, equinox2, equinox3, jewelway1, lista de várias, peço desculpa por estarem todos os links em inglês, mas Portugal é um país de brandos costumes e não há casos registados de MLMs em tribunal).

2 - A importância do produto.

Um outro assunto delicado, de grande importância, e a que é feita menção nos dois primeiros quadros, deriva destes raciocínios: o que é um "produto de fachada"? Como avaliar o valor de um produto com base em dados não subjectivos?
Na minha opinião, há uma e apenas uma maneira de quantificar esta pergunta: através das vendas concretas que a rede faz para o mercado livre - ou seja, através da sua comparação real com outros produtos concorrentes disponíveis. Ao colocarmos os produtos nas mãos do consumidor final (alguém fora da rede), mês após mês, conseguimos obter uma informação concreta, imparcial (não sujeita a desvios resultantes de factores terceiros), sobre a real valia do mesmo. Se o produto vende, o produto é "bom"; se não vende, não é "bom". Claro e óbvio que para este cálculo não podemos consultar os membros da rede. A opinião deles é importante no sentido de convencer o consumidor a comprar o produto, mas de nada serve na avaliação concreta do mesmo. Porque é parcial, em último caso fictícia. Porque os membros recebem dinheiro em troca (de comissões, e de recrutamento eventualmente). Porque são parte interessada em dizer que "Sim". Porque não basta dizer que "o produto é bom, é muito bom, é excelente, é melhor que a concorrência toda junta", porque em termos de mercado esta reposta é nula, igual a nada, não relevante para a questão. Se não houver vendas (para fora da rede), e por maior que seja a qualidade do produto, conclui-se ele não é competitivo. E se não é competitivo, temos um VERY BIG PROBLEM para um negócio honesto de MLM. Já considerando uma pirâmide, não temos qualquer problema: o produto é uma fachada e o recrutamento infindável elimina o problema da competitividade. SIMPLES. CONVENIENTE. DESONESTO.

Portanto, quando estiverem a avaliar uma oportunidade de se juntarem a um negócio de MLM, e quando vos forem mostrados os cifrões churudos que alguém umas hierarquias acima está a lucrar, peçam também para ver as facturas de VENDAS que justificam esses cifrões. Não se esqueça: se não há produtos a serem vendidos para fora da rede, não há MLM, há indícios de pirâmide (o que não quer dizer que o negócio em si não seja atractivo, quer dizer apenas que lhe andam a mentir, e que a rede não é bem um conceito transparente).
Esclarecidos? Não? Vamos tentar uma aproximação diferente: valor intrínseco de um bem = avaliação subjectiva = o que é que achamos dele; valor de mercado de um bem = avaliação objectiva = como é que o mercado reage à sua comercialização. Pensem: comprariam o produto em questão se este vos fosse vendido sem qualquer contrapartida de ganhos financeiros (pensem Agel: comprariam suplementos alimentares por 60€+ se não houvesse a possibilidade de ganharem dinheiro com a rede? fariam-no numa base regular?)? Se a vossa resposta for "SIM", então é justo afirmar que confiam não só no valor instínseco como também valor de mercado do produto, mesmo sem haver números à vista, e é justo afirmar que se sentem seguros o suficiente quanto à possibilidade de recuperarem o investimento feito sem estarem dependentes do recrutamento de mais membros. Em alternativa, isto tudo são balelas e o negócio vale pelo RECRUTAMENTO = produto de fachada. Espero ter-me feito entender.

3 - A legalidade do MLM e a Ilegalidade de uma pirâmide.

Para este assunto, que é o que abre o quadro proposto pelos Srs. da Agel, só me ocorrem duas palavras: MANIPULAÇÃO DESCARADA.
Começam por dizer que o MLM é (totalmente) legal e que uma pirâmide é (totalmente) ilegal, e no resto do quadro, através de mais subtilezas paquidérmicas, indicam porquê que a Agel é uma MLM (porque por exemplo movimenta um produto; porque por exemplo é controlada por uma empresa; porque por exemplo os rendimentos são tributáveis). Juntado tudo no mesmo embrulho, temos: MLM = (totalmente) legal, Agel = MLM, LOGO Agel = (totalmente) legal.
Então e não podemos ter um (parcialmente) legal? Ou um (a atirar para o) ilegal? Ou um (quase) legal? Ou um (desonestamente) legal? Como fazemos para juntar dois conceitos (totalmente) opostos? Dica: se calhar não são conceitos tão opostos assim, tal como a legalidade e a ilegalidade, que por vezes fazem tangentes abusadoras às fronteiras que os separam. Podemos acabar num legalmente ilegal, ou então, como manda a boa educação nos casos jurídicos (inocente até ser considerado culpado), legal até ser considerado ilegal (MLM até ser considerado pirâmide). A minha aposta é nesse cavalo. 5 para 1.


4 - Regionalismo VS Globalização / Pessoas VS Multinacionais

Um esquema de vendas em pirâmide é controlado por "Pessoas" e um MLM é controlado por empresas!

Hã????? (será que li bem?)

Ó, Senhores!!!! Ó, valha-nos Deus, carago!!! Não sejam tão redutores, tão injustamente preconceituosos, tão - ó, peço desculpa - sacaninhas face às reais capacidades de um esquema em pirâmide!
Uma pirâmide merece toda a atenção que lhe é devida. Merece figurar lá no bem topo, junto dos esquemas inventados pelo Sr. Charles Ponzi, junto das melhores artimanhas para sacar dinheiro aos incautos alguma vez inventadas. Vê-la reduzida a um insignificante golpe de feira, perpetrado por meras "pessoas", circunscrito à escala regional, e ainda por cima sujeita à chumbada certeira do bufo de taberna, que vê o recrutamento ser feito mesmo em frente aos seus olhos e dá um pulo à esquadra da GNR duas casas ao lado para cuspir a ilegalidade e ficar com os louros da vila em letras gordas no jornal regional - "Zé do Pipo corta vazas a rede galega" -, vê-la sujeita a isto tudo, como ia dizendo, é uma sensação desconcertante.
O Marketing Multinível figurará como uma das melhores ideias do séc. XX. E então? As pirâmides figurarão entre as melhores ideias de todo o sempre humanitário, sobrepondo-se em abrangência, em estilo, e até em altura, às suas congéneres egípcias. Nunca o Tutankamon teve tanta concorrência em termos de protagonismo.
Onde arranjaram esta ideia absurda de que uma pirâmide é controlada por pessoas (na realidade, tenho de fonte segura que é controlada por andróides alienígenas disfarçados de múmias, apostados em tomar conta da humanidade da próxima vez que alguém conseguir repetir "Agel" trinta e três vezes seguidas com sotaque aborígene australiano, mas não digam a ninguém, está bem?)? Terá sido junto do Sr. Randy Gage?
Deixem-se mas é de tretas, não tentem meter as pirâmides no bolso (algo no mínimo incómodo), não tentem enfiar barretes, que os tipos de fato e gravata - já agora também "pessoas" - que se protegem atrás de nomes de firmas corporativas multinacionais, devem-se estar a urinar a rir com esta vossa abordagem ao assunto.
Quem querem enganar? A esfinge anda atenta...

Cof... Cof... Perdoem-me esta minha costela de "inimigo público". A ironia neste caso é que uma pirâmide necessita de uma empresa importante e de um mercado abrangente para poder sobreviver para além do curto/médio prazo. Nas golpadas ditas regionais, organizadas apenas por pessoas, o limite físico do modelo é rapidamente atingido, por manifesta falta de aparato organizacional e de mercado de expansão. Já numa pirâmide baseada num sistema global, com a Internet a servir de base de dados centralizadora de inscrições/recrutamento, uma multinacional economicamente bem sustentada a promovê-la, e com o mercado MUNDIAL como limite/escape de expansão (pensem no que o Brasil vai ser para Portugal no caso Agel), o negócio sobrevive por muito mais tempo.

5 - Produtividade Efectiva VS Produtividade Enganosa
(Vendas VS Recrutamento - parte II)

"Ganhos proporcionais à produtividade" ? (alguém falou em Vendas, ou isso foi nos quadros de cima?)

Oh, Admirável Mundo Novo...
Produtividade resultante de quê ao certo? O recrutamento conta como trabalho? Deve contar, porque só assim, na Agel, temos ganhos proporcionais à produtividade. Alguém mexe uma palha para vender o que quer que seja? NÃO. É por isso que o esquema é tão atractivo. É por isso que nas finanças nos inscrevemos como "Comissionistas" (em vez de distribuidores/vendedores). É por isso que depois de corrermos a lista de contactos da família e dos amigos todos, depois de melgarmos os conhecidos e os amigos dos conhecidos, o trabalho efectivo acaba. Por essa altura já deve haver uma longa lista de sujeitos que pagam todos os meses para não fazermos nada. É a taxa de produtividade MAIS ELEVADA de toda a indústria trabalhadora: trabalho efectivo = 0, rendimento = 100. Produtividade ou Parasitismo? Esforço por Vender ou esforço por Recrutar?
Ah... não, esperem lá. Não fiz contas ao tempo: quando atingirmos a fase de saturação, e segundo algumas previsões optimistas (e ao mesmo tempo completamente desdenhosas), haverá uma excelsa casta de deltas-trabalhadores, pessoas que se esforçarão por vender caixas de gel e produtos anti-envelhecimento a um mercado que não os quer aceitar (porque também está saturado, todas as pessoas que conhecemos ou estão dentro da rede ou não estão interessadas no produto), tudo para suportarem os rendimentos das classes alfa e beta. Nesses casos: trabalho efectivo = 100, rendimento = 0. A partir destes dois cenários pseudo-Marxistas, talvez consigamos chegar uma média ponderada: 90% dos inscritos ficam com o trabalho, 10% ficam com os ganhos proporcionais de produtividade.
Para quem se perdeu nas encruzilhadas da linguagem, eis o básico: ênfase no recrutamento para expandir o negócio significa esquema em pirâmide; ênfase nas vendas significa MLM. Isto para lá de qualquer conceito de produtividade. Mais, a produtividade não é uma medida de verificação de esquemas piramidais nem de MLMs - olhem para um dos indicadores explicitado no primeiro quadro: "Sozinho, você estará sempre perdendo. Você precisa chamar rapidamente outras pessoas para recuperar o investimento. " Que tal este argumento para limpar a produtividade?
Para complementar, e porque acho que a produtividade tem de facto alguma coisa a ver com este assunto, a comparação correcta a ser feita aqui seria a de ter um distribuidor/vendedor de um lado, e um trabalhador de escritório de outro. Nesse cenário, faria sentido dizer que um vendedor tem ganhos derivados da produtividade e que um trabalhador de escritório não - ganha sempre o mesmo. MLM e Pirâmide? Ao lado do alvo.
Estou, no entanto, completamente de acordo quando ao segundo trecho apresentado: "Uma pirâmide dissemina a ideia de que todos vão ganhar uma fortuna". Basta olhar para os vídeos promocionais de certas empresas - aquilo parece o paraíso ao virar da esquina - quem entrar para o negócio tem o futuro garantido - é fatal comó destino.

6 - Retorno (à idade da pedra)

"A curto/médio prazo, conforme a dedicação" e "A maioria perde dinheiro".

É impressão minha ou há nestas duas expressões uma diferença de perspectiva? Não jogam bem uma com a outra. A primeira fala em prazo, em espaço temporal, e a segunda fala em quantidade de membros. A minha opinião? Com base em números oficiais, em estudos sobre a matéria, e em valores sacados a ferro nos casos de MLM que eventualmente chegam à barra dos tribunais, eu diria o seguinte: tanto no MLM como num esquema em pirâmide "a maioria perde dinheiro a curto, médio, e longo prazo, com ou sem dedicação, acabando por desistir" (ver caso da Amway no processo do Reino Unido, ver caso da Quixtar no processo da Califórnia, ver casos da USANA e da Herbalife nos estudos do FDI). Há sempe uns que ganham? Há. Dois casos: os que ficam no topo, e que não têm de trabalhar para recebe uma renda milionária, e os que de facto trabalham a vender os produtos e dedicam esforço e tempo a essa actividade específica - quem de facto entende e tenta implementar o MLM como devia ser.


---------------EDIT 25/01/2008----------

Após reler este extenso artigo, cheguei à conclusão de que toco nos pontos importantes, mas que falho no essencial: explicitar, de forma perceptível, que a informação prestada por membros da Agel é enganosa para o "consumidor" e até para outros membros da rede, que parecem viver com a cabeça enfiada num buraco negro. Por essa razão, aqui fica um esclarecimento/resumo simplificado.

Desmontado os argumentos um por um:

1) conforme a lei portuguesa (que fala em "bens e serviçoes" e em "volumes de vendas") e 2) conforme os casos acima citados de empresas de MLM's que foram fechadas por ordem judicial nos Estados Unidos (país de origem da Agel), como por exemplo a Equinox, demonstra-se que este argumento não corresponde à verdade.



1) conforme a lei portuguesa (que fala em "bens e serviços" e em "volumes de vendas") e 2) conforme os casos acima citados de empresas de MLM's que foram fechadas por ordem judicial nos Estados Unidos (país de origem da Agel), como a por exemplo a Equinox, demonstra-se que este argumento não corresponde à verdade.



Conforme os casos acima citados de empresas de MLM's que foram fechadas por ordem judicial nos Estados Unidos (país de origem da Agel), como a por exemplo a Equinox, empresas em que os distribuidores/membros tributavam os seus rendimentos, demonstra-se que este argumento não corresponde à verdade.



Conforme os casos acima citados de empresas de MLM's que foram fechadas por ordem judicial nos Estados Unidos (país de origem da Agel), como a por exemplo a Equinox - uma EMPRESA -, demonstra-se que este argumento não corresponde à verdade. Há de facto esquemas piramidais que são geridas por pessoas individuais, mas essa é só uma variante de um Esquema em Pirâmide.



Conforme os casos que têm vindo a público recentemente a propósito de MLM's que foram acusadas judicialmente de operarem esquemas em Pirâmide (USANA, Amway, por exemplo), e que revelam que a grande maioria do membros não ganha para cobrir os custos (estamos a falar em números na ordem dos 70% para cima), demonstra-se que este argumento não corresponde à verdade. A maioria, em qualquer dos casos, fica sempre a perder dinheiro.




Por uma questão de incongruência no argumento apresentado - o caso da produtividade devia estar a comparar uma profissão de Distribuidor/Vendedor com uma profissão de ganhos fixos, este argumento não faz sentio para uma comparação entre MLM e Pirâmide.
Quer numa Pirâmide, quer num MLM, os ganhos serão sempre proporcionais à produtividade (nas vendas e no recrutamento) - E - Quer uma pirâmide, quer num MLM, disseminam a ideia de que todos vão ganhar uma fortuna. Os argumentos apresentados estão errados e são tendenciosos.



Tirando à parte os "totalmente", e de acordo com a lei portuguesa, eu diria que a Agel anda a operar um esquema em pirâmide disfarçado de MLM- e que por isso está ilegal quanto a alguns procedimentos. Mas, e então em que é que ficamos quanto a este argumento? Ficamos em que apenas aparece no quadro para ilibar a Agel de operar um Esquema em Pirâmide, e que obviamente não serve como argumento para separar/distinguir um negócio de MLM de uma Pirâmide. Argumentos tendenciosos e falaciosos, pelas razões apresentadas.

The prosecution rests!

Entretanto, encontrei o dito quadro também disponível na Internet, no site de um membro da Agel, conformem podem verificar aqui.

E agora, a pergunta que vale 10.000€: será que este tipo de divulgação não estará em incumprimento com a lei, uma vez que está a enganar o consumidor, levando-o a tomar uma decisão baseada em informações incorrectas e tendenciosas?

Brevemente saberemos...


---------------------------------------------

O terceiro quadro foi retirado de um documento PDF assinado por Maria João Tavares (Diamond Director) e Marisa de Sousa (Regional Director).

No mesmo documento, é dito o seguinte: "Embora a venda não seja o objectivo da Agel, em breve todos os produtos terão etiquetas em português"

Hip... Hip... Hoodai!

O Ingrediente Fantasma de efeitos Miraculosos (nem que seja para efeitos de Marketing)

Foi recentemente publicado um artigo no site do "Indústria de Decepção?" ( aqui ) que aponta para a existência de uma substância diatética proibida pela lei brasileira, o Hoodia Gordonii, no produto Fit.

No site da Agel, e para baralhar a informação disponível, encontramos o seguinte:

http://www.agel.com/products/gel_packs/fit - página de informações gerais do produto:



e http://www.agel.com/pdfs/fitfacts.pdf - página de informações nutricionais do mesmo:



Questões:

1 - Porque é que numa das páginas diz "Now with Hoodia" (Agora com Hoodia) e na outra, na que realmente interessa para alguma coisa, na página que lista os ingredientes e a informação nutricional, não diz nada?

- Será por falta/esquecimento na actualização da informação? Estranho. Actualizam de um lado e não actualizam de outro? Uma empresa que comercializa produtos de saúde? Desleixo?

- Será porque a percentagem de substância activa é tão baixa que não chega para justificar a sua presença nos ingrediente? Estranho. Nesse caso nem valia a pena dizerem que há esse ingrediente - porque é necessária uma "boa quantidade" para que faça efeito, aparentemente, e segundo o que li em sites da especialidade - e será que faz mesmo algum efeito?

- Será golpe de Marketing? A palavra Hoodia está na ordem do dia desde há uns tempos para cá, no que respeita a dieta e emagrecimento (aparentemente, sem qualquer justificação científica).

- Se neste momento diz "Agora com Hoddia", então... e dantes? Porque resolveram agora incluir uma substância polémica num produto que estava anunciado como muito bom anteriormente?

2 - Como vai ser no mercado brasileiro?

- Será que o Fit está comercializado com uma composição diferente no Brasil? Será que não e o produto está mesmo ilegal?

- Como vai a Agel resolver esta questão?

3 - Este ingrediente é perigoso para a saúde?

- A única informação que consegui apurar é que não há qualquer prova científica sobre os seus efeitos reais na saúde dos humanos - nem benéficas, nem prejudiciais, nem não-prejudiciais -, razão que levaram as autoridades sanitárias no Brasil a proibir a sua comercialização em inícios de 2007.

O que a wikipedia tem disponível sobre o assunto:

http://en.wikipedia.org/wiki/Hoodia_gordonii

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hoodia

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Uma "Rede de Consumo Interno"

Realidade ou Utopia-feita-regra-de-marketing-desonesto?

Um dos estandartes de guerra que os distribuidores da Agel usam para recrutar novos membros para a rede é fazerem passar a ideia de que “ninguém tem de vender nada a ninguém”, que a rede é para consumo interno (consome-se o gel, em vez de o vender), e que toda a gente ganha dinheiro com as compras/consumos dos outros – um conceito “inovador” e “diferente”, em alternativa ao consumo feito a partir das compras nas lojas, e em alternativa a ganhar dinheiro à custa de trabalho lícito efectivo (“horas em troca de euros”). Isto apesar de, institucionalmente, a empresa apresentar o seu modelo de distribuição como “Vendas Directas”; apesar de fazer ponto de honra o pertencer a uma associação de Vendas Directas (a DSA); e apesar de “rede de consumo interno” ser um conceito insustentável a prazo e que indicia um esquema em pirâmide.

Entende-se o porquê desta atitude: os inscritos pretendem distanciar o esquema de um negócio de vendas porta-a-porta, ou por telefone, que, apesar de perfeitamente honesto e legal no que concerne a “ganhar dinheiro”, seria embaraçoso para a maioria dos potenciais interessados. Seria igualmente embaraçoso para quem estivesse a vender o negócio: “Olha lá, tenho aqui um negócio muito bom, feito mesmo à medida das tuas capacidades, e que ainda por cima tem produtos excelentes, na área da saúde. Só tens de andar a vender todos os meses umas quantas embalagens de pacotes de gel a outras pessoas, família, amigos e conhecidos, nada de muito complicado. Aquilo vende como pipocas no cinema, lucro garantido...”.

É muito mais fácil aliciar pessoas a entrarem para negócio onde não têm de vender nada a terceiros (até porque a profissão de vendedor não é apelativa nem prestigiosa), onde se “ganha por consumir” (embora na prática o consumo que gera o dinheiro seja dos outros, não nosso), e onde só tem de se fazer uma encomenda mínima mensal para tudo funcionar dentro da normalidade, gerando um fluxo de dinheiro/produtos através da rede toda. Logicamente, como foram aliciados dessa mesma forma, e como o consumo que gera dinheiro é o dos membros de baixo, a tendência natural dos novos inscritos é virarem-se para o recrutamento.

Quanto a mim, estou perfeitamente de acordo quanto ao que estes membros dizem (em vários sites, em apresentações de powerpoint que passam aos interessados, e até em palestras ao vivo que fazem para grandes plateias), e repudio as informações institucionais e toda a campanha de lavagem de imagem perpetrada pela empresa ao tentar afirmar o contrário. A Agel é uma rede de consumo interno, em que há poucas ou nenhumas vendas para fora do circuito. Para reforçar a ideia, basta pensar que desde que a Agel iniciou a actividade em Portugal, e até agora, não houve rotulagem em português nos produtos – que são suplementos alimentares -, inviabilizando qualquer possibilidade de Venda Directa por parte dos seus membros para o exterior da rede. É legal comprar directamente à Agel, mas não é legal vender depois esses artigos a terceiros. Que prova maior de incongruência tenho de prestar? Que raio de empresa é esta que entra primeiro no mercado e só passados uns meses é que se lembra de permitir que a sua força principal de lucros/negócio possa actuar? Ou então anda a mentir a toda a gente. A mentir de modo tão subtil que uns não dão por nada e outros ficam muito caladinhos, a ver se a mensagem passa.

De inovador e diferente, e de lícito, para todos os efeitos, o conceito de “rede de consumo interno” não tem nada, embora a maior parte das pessoas envolvidas julguem que sim, fruto de pura ignorância (eu, como muitos outros, e quando me apresentaram o negócio, estava nessa mesma posição, não conhecia a realidade, e o que me mostravam era uma deturpação da verdade). Só a título de exemplo, a Amway já o pratica há umas décadas nos Estados Unidos, embora de forma muito mais encoberta e perigosa, segundo o livro “Merchants of Deception” (podem fazer o download gratuito neste site, para saberem mais pormenores – a coisa chegava ao ponto de exigirem aos membros da rede que TODOS os artigos domésticos fossem comprados à Amway).

O conceito de “rede de consumo interno”, quando ligado à ideia de ganhos derivados de comissões para todos os inscritos, traz uma etiqueta agarrada a dizer: “Cuidado: Esquema Em Pirâmide”, e no verso diz ainda o seguinte, em letras mais pequenas, “juízo ao entrar: os de baixo pagam sempre os lucros dos de cima, às custas dos seus próprios prejuízos”.

Analisemos esta questão mais a fundo:

- Numa rede orientada para consumo interno, não há dinheiro vindo do exterior. Não há compras feitas por consumidores que não façam parte da rede.

- Em contrapartida, numa rede verdadeiramente orientada para as Vendas Directas, há uma boa parte do dinheiro a entrar de fora, fruto dessas mesmas vendas, e feitas a clientes que não são membros. Também pode haver consumo próprio, naturalmente, consumo esse, contudo, que não gera lucros a nenhum membro.

- Numa rede de consumo interno o dinheiro apenas troca de mãos entre os inscritos – num fluxo ascendente. Como os de cima lucram com os de baixo, e como a empresa mãe tem também de ganhar dinheiro (50% das receitas, no caso da Agel), é fácil pensar o que acontece na prática: nem todos podem ganhar. Por outras palavras, se toda a gente contribuir com 120€, se a Agel ficar com metade do dinheiro, e se os que estão no topo da pirâmide ganham muito mais que todos os outros, o que acontece a quem fica nos últimos níveis? Três possibilidades e uma certeza: a) como estão em situação evidente de prejuízo, fazem tudo por tudo para enfiar mais membros por baixo, não tentam vender o produto porque nem sequer tem hipótese para tal; b) consomem e perdem dinheiro (pura burrice: os produtos são muito mais caros do que os sucedâneos que há no mercado); c) desistem da rede, provavelmente já sem terem hipótese de devolverem a mercadoria à precedência; certeza) trata-se de um Esquema em Pirâmide.

- Em contrapartida, se a filosofia/cultura da empresa é a orientação para as vendas, se os distribuidores sabem que essa é a única possibilidade de ganharem dinheiro, os que estão no final da pirâmide só desistem depois de muito tentarem vender – actividade que aliás sabiam de antemão ser a principal fonte de receitas. Se tudo estiver em conformidade, estas pessoas não danificaram os produtos que têm para vender, e a empresa que os recruto aceita-os de volta, por permitir um prazo alargado para devoluções de mercadoria.

- Numa rede de consumo interno, mal o afluxo de novos membros chegue a um término, a tendência é o desmantelamento espontâneo da pirâmide de baixo para cima.

- Numa rede orientada para as vendas, os níveis de baixo conseguem manter-se no activo, fruto da capacidade real que o conjunto apoiado empresa/distribuidor tem para vender os produtos. Como consequência, há uma hipótese real da rede toda ficar economicamente sustentada.

Implicitamente, qualquer membro da Agel que esteja a falar numa "Rede de Consumo Interno", está a admitir que há procedimentos piramidais enbvolvidos no negócio, pelas razões acima expostas. Pode é não fazer sequer ideia disto.

--------- EDIT 18-01-2008----------

Mais curioso ainda, e não sei como me esqueci de mencionar este facto: uma rede de "consumo interno" exclui à partida qualquer ideia de Marketing Multinível, pelo simples facto de que esse conceito está intimamente relacionado com as "Vendas Directas". Sem Vendas Directas, não pode haver recompensas calculadas sobre as essas mesmas Vendas. por outras palavras, se não existem vendas para fora da rede, como pode haver um sistema de MMN/MLM?

---------END EDIT -------------

domingo, 6 de janeiro de 2008

Pirâmide VS Multinível II

"No hay banda! There is no band. It is all an illusion... " - em Mulholand Dr. de David Lynch


Antes de iniciar a abordagem a que me propus no final do artigo anterior, deixo aqui algumas questões que devem acompanhar a todo o momento, na vossa mente, a leitura do novo artigo.

1) Como podemos saber ao certo, com exactidão, se o modelo de negócio de uma empresa é o Marketing Multinível?

2) Como podemos saber ao certo, com exactidão, se o modelo de negócio de uma empresa é um Esquema em Pirâmide?

3) Que critérios devemos considerar?
a) Devemos olhar para o que a lei diz, mesmo que a lei esteja sujeita a interpretações subjectivas e varie de país para país e de estado para estado?, ou devemos, por outro lado, considerar as explicações avançadas pelo consciente colectivo e pela opinião particular de entendidos no assunto?
b) Devemos, segundo outra perspectiva, olhar para o que as empresas dizem nas propostas que oferecem aos novos membros?, ou devemos analisar o que se passa na prática, no terreno, baseando-nos nos números que a realidade oferece?
c) Devemos considerar como responsável máximo pela aplicação prática de um determinado modelo a empresa que o lança?, ou devemos apontar o dedo às interpretações oportunistas dos membros dessas redes?

4) Será que os dois modelos (Pirâmide e Multinível) são mutuamente exclusivos? Não poderá uma empresa reunir conceitos dos dois modelos no seu modo de operar? Não será errado excluir à partida qualquer um deles por causa de uma suposta prevalência do outro?

5) Deverá a legislação ser a única matéria a considerar quando for altura de pronunciar uma sentença, ou haverá factores que não estão cobertos pela lei e que devem ser também considerados (Honestidade, Ética, Fraudulência, Charlatanismo, Oportunismo, Falsidades, só para citar alguns)

O posicionamento da Agel face aos conceitos de "Vendas Directas", "MMN" e "Vendas em Pirâmide"


1) A Agel e as "Vendas Directas"

Recapitulando: Vendas Directas = "Método de distribuição de bens de consumo através de contactos pessoais (face-a-face) entre vendedor e comprador fora dos locais fixos de comércio."

Face ao que é a atitude adoptada pela Agel quando se inscreveu na DSA ("Direct Sales Association", dos E.U.A., uma entidade que supostamente promove a garantia de honestidade comercial das empresas inscritas), por um lado, e face ao que é texto corrido no contrato que a Agel fornece aos seus membros, por outro, restam poucas ou nenhumas dúvidas que a empresa pretende anunciar o seu modelo de vendas como "Vendas Directas", posicionando a seguir, o modelo de recompensa dos distribuidores como "Marketing Multinível".

De facto, há várias pistas no contrato da Agel que apontam nesta direcção. Vamos ver duas:

--------------------------------

1)

"8.4 A new Team Member’s primary source of business income is derived from selling the products at the suggested retail price. The retail profit is the difference between the Retail Price and the Team Member price of the product, less shipping costs.

(A fonte primária de proveito comercial de um Novo Membro é derivada da venda de produtos ao preço
sugerido de venda a retalho. O lucro do retalho é a diferença entre o preço a retalho e o preço que o Novo membro pagou pelo produto, menos despesas de envio)

8.5 When a retail sale is made, Team Members will provide their customers a complete Retail Sales Receipt and will honor any customer request to cancel the transaction within three (3) business days of the date of purchase, if required by law.

(Quando uma venda a retalho for efectuada, os Membros entregarão aos seus clientes uma factura/recibo completa e honrarão um pedido de cancelamento da transacção se este for feito dentro de um prazo de três dias úteis a contar da data da troca comercial, se tal for exigido por lei.)

-----------------------------------

2)

15.11 Retail Outlets. The Company does not permit its products to be sold or displayed in most retail outlets. However, there are exceptions to this policy. Those retail exceptions are, businesses that operate “by appointment only” (i.e. beauty salons, tanning salons, doctors’ or chiropractors’ offices), private clubs (i.e., figure salons and health clubs).

(Lojas de Retalho. A Companhia não permite que os seus produtos sejam vendidos ou dispostos para venda na maior parte das lojas a retalho. Contudo, há excepções a esta política. As excepções são: negócios que operem "apenas por marcação" (i.e. salões de beleza, salões de "bronzear", consultórios médicos ou ???), clubes privados (salões de modelos ou health clubs.)

15.11.1 The following retail outlets are examples of those retail outlets that definitely CANNOT sell the Company products or display literature: health food stores, mall booths, and drug stores.

(Os seguinte tipos de lojas de retalho NÃO PODEM definitivamente vender os produtos da Companhia ou apresentar material promocional acerca dos mesmos: lojas de "saúde alimentar/produtos dietéticos", lojas em centros comercias, e farmácias/locais onde vendam medicamentos)

15.11.2 This policy does not prohibit any retail store owner from being a Team Member for the Company.

(Esta política não proibe que os proprietários de quaisquer lojas possam ser Membros da Companhia)

15.11.3 The purpose of this policy is to protect both Team Members and customers.

(O propósito desta política é proteger tanto os Membros como os Clientes.)

---------------------------------

Será pois legítimo concluir e afirmar que a Agel, entre outras coisas possíveis, é uma rede dedicada à Venda Directa dos seus produtos, ou seja, uma rede em que uma das fontes principais de receita, ou até mesmo a principal, dos seus membros é derivada da troca comercial de produtos por dinheiro com o consumidor final (consumidor final = pessoa NÃO membro da Agel, pela lógica inerente aos conceitos em causa).

Isto é o que está escrito no papel/contrato.

O que se passa na prática é exactamente o contrário: nenhum membro anda especialmente interessado em vender nada a ninguém (a não ser, claro, o próprio negócio, naquilo a que se chama de "recrutamento"), até porque vender packs de pacotes de gel a 75€ é capaz de ser um bocadito lixado . Para reforçar esta ideia, um pouco por todo o lado (em sites de membros, em locais de discussão, e inclusive em apresentações ao vivo feitas por Diamond Directors) parece haver um consenso dos próprios membros quanto a isto: a rede é uma rede de consumo interno! Permite a venda, mas é só porque isso é mais uma forma possível de ganhar dinheiro, porque na prática ninguém a usa (logicamente, ninguém fica rico a vender pacotes de gel a terceiros num sistema de vendas assim).

Para reforçar ainda mais a ideia, há uma coisa chamada "plano de compensações", onde estão enunciadas 8 potenciais fontes de rendimento para os membros da Agel. Ora, 7 dessas 8 possibilidades, logo e de longe as mais interessantes, nada têm que ver com Vendas Directas/a retalho. Ainda por cima, a única forma que de facto permite a Venda Directa é desencorajada pela Agel, ao passar os potenciais clientes interessados a um formato de "cliente preferencial", uma espécie de venda normal entre a Agel e o consumidor final, desvirtuando o sentido todo do conceito em causa.


Conclusão: Aqui há gato. Gato daquele que parece lebre. Ou a Agel anda a mentir à opinião pública em geral e à DSA (lol); ou então são os membros da Agel que andam a tramar o esquema, a pintar a manta, fazendo o exacto contrário àquilo que está estipulado, o que de facto não espanta ninguém, justamente por efeito das 7 salivantes formas alternativas de ganhar dinheiro sem ser a venda.

Que razões terão levado a Agel a aderir a uma associação de Vendas Directas, se depois, no plano de compensações e na realidade comercial do dia-a-dia, apostam tudo no "consumo próprio" dos seus membros? Eu só tenho uma resposta para esta questão: necessidade de ficar bem na fotografia. Duvidam da nossa honestidade? Duvidam da nossa legalidade? Acham que promovemos um esquema em pirâmide? Então olhem para aqui: somos membros da DSA, e segundo os regulamentos da DSA, os membros operam legítimos e éticos negócios de Marketing Multinível. Nenhuma empresa a promover um negócio em pirâmide pode ser nosso membro. É ponto ético bem assente.

(Questão: como será que a DSA faz essa verificação, que pelo que dizem demora um ano? No site não refere...)

Por último, quero salientar que a Agel pode ter conseguido tornar-se membro da DSA, organização Norte Americana que recebe fundos dos dirigentes da Amway, mas cá na Europa ainda não conseguiu juntar-se à FEDSA (a congénere europeia da DSA, embora entidade autónoma) nem a nenhuma Associação de Vendas Directas em nenhum estado comunitário. Estes dados foram-me indicados pela própria FEDSA.


2) A Agel e o Marketing Multinível

Recapitulando: MMN = "Sistema de venda directa de produtos de consumo e serviços, por meio de uma rede de distribuidores individuais independentes, sem estabelecimento, isto é, sem loja onde mostrar os produtos, ao mesmo tempo que vendem aos seus clientes particulares: familiares, vizinhos, amigos. Os canais de venda a retalho que usam distribuidores independentes não só para comprar e vender produtos a retalho, mas também para recrutar novos distribuidores para uma rede em constante crescimento. As comissões e prémios recebidos pelos distribuidores incidem, não só nas suas vendas pessoais (actividade retalhista), mas também nas vendas realizadas por vários níveis de “downlines” na sua rede."

A primeira evidência que podemos salientar, olhando assim à vista desarmada para o plano de compensações da Agel e comparando-o com esta definição de MMN, é de que algo não bate certo: a Agel não premeia o upline com comissões relativas às vendas para fora da rede, premeia-o invés com as comissões derivadas das compras efectuadas por membros da própria rede, o tal auto-consumo de que falam os Agéis. É um facto estranho, que não faz sentido aparente, sobretudo vindo e uma empresa que à partida estará interessada em vender o maior número de produtos ao maior número de consumidores, sejam eles membros ou não membros (penso que todos concordamos neste ponto). Porque não, então, premiar a venda, como diz a definição? Ao premiar a venda, estaria a dar um forte incentivo para que também houvesse uma compra, matando assim dois coelho com um só golpe. Para um membro vender o que quer que fosse, teria necessariamente de comprar. Com uma grande quantidade de membros a venderem os produtos, toda a rede teria ganhos (ainda mais) astronómicos, para além do que os distribuidores no final da pirâmide poderiam de facto ter uma base de suporte e um apoio concreto. É fácil de fazer estas contas - imaginem cada membro a vender três ou quatro caixas com pacotes de gel por mês... imaginem o que o upline ganha à conta dessas acções... (é muito triste mesmo observar a realidade concreta, e ver que ninguém na rede da Agel anda com vontade de vender produtos).
Pelo contrário, ao premiar as compras feitas por membros do donwline, a Agel indica que não se preocupa, na prática, com o que os membros fazem com os produtos. Podem consumir (o destino que considero mais provável), podem oferecer à família e amigos, podem dar como ofertas promocionais para vender o negócio, podem deitar no lixo, e podem até vender a terceiros, se essa for a sua escolha e se legalizarem o acto com os necessários documentos fiscais. A questão é que não há nenhum incentivo às vendas nesta suposta rede de Vendas Directas. Para além disto, a Agel não sabe patavina acerca do volume exacto dessas vendas, mais um aspecto que não tem cabimento para uma empresa de Vendas Directas.

Porquê então esta escolha esquisita? Porquê esta escolha que foge à definição de MMN no seu próprio elemento identificador (as comissões sobre vendas no downline)?

Um explicação bastante simples vêm à superfície sem grande esforço: é uma comodidade para toda a gente. Cobrar comissões à cabeça premeia logo o upline, que não tem de estar à espera da presumível (ou não) venda do downline. Os de cima ganham logo dinheiro à cabeça. Para mais, elimina a ideia de ter de inserir no sistema os dados relativos às vendas e de ter de fazer cálculos improváveis com valores de lucro variáveis por cada distribuidor/acto de venda. Assim, desta forma, fica logo tudo muito mais simplificado e com os valores fixos conhecidos à partida - é 10% sobre cada compra.

Algum problema com esta abordagem? À excepção dos que já foram mencionados anteriormente, não há mais nenhum. Mas continuamos em défice relativamente à definição de MMN no que toca às vendas.

Pensando um pouco melhor, é capaz de haver outra explicação mais lógica, ainda que encoberta, para esta escolha: imaginemos que o produto não é competitivo aos olhos do consumidor final. Imaginemos que efectivamente houve um estudo de mercado e que o mesmo estudo comprovou que ninguém estava interessado em comprar vitaminas ao domicílio. Imaginemos que, com ou sem estudo, a Agel concluiu que o produto era difícil de vender a terceiros. Como resolver este problema? Fácil: vender para dentro da rede e assegurar mercado a partir do crescimento dessa mesma rede, ao abrigo de qualquer concorrência externa. Mais: permitir a que a opção Vendas Directas para fora da rede esteja disponível para os membros, para que o negócio possa ser identificado como tal, possa passar por lícito, embora na prática não o seja.

Mas então, como assegurar as vendas para dentro da rede se o produto não é competitivo? (se não é competitivo para o consumidor final, também não é competitivo para o membro da rede)

Mais uma vez, fácil: incluir uma cláusula no plano de compensações que obriga à compra de produtos em ordem a receber as comissões do downline. É obrigatório na Agel proceder-se a uma compra mínima mensal para se poderem receber este tipo de comissões. Podemos não pagar qualquer "mensalidade" durante três meses consecutivos sem sermos excluídos da rede, mas não recebemos comissões nenhumas durante esse período.

Qual é o problema desta abordagem? Qual é o problema de termos comissões calculadas sobre as compras dos outros + uma obrigatoriedade de efectuarmos nós próprios compras para recebermos essas comissões? Qual é, no fundo, o problema de uma rede de consumo interno? Um e um apenas: é um identificador de um negócio de vendas em pirâmide. É uma rede que não tem sustentáculo para além do infindável recrutamento. Quando não houver mais recrutamento, não há mais dinheiro a entrar, os últimos membros (50% a 90% do total de inscrito, sem contar com desistências pelo caminho/renovação) ficam obrigatoriamente em situação de prejuízo.

Para terminar por completo esta lógica, tenho de falar do terceiro conceito envolvido, que é...

3) A Agel e as Vendas em Pirâmide

Recapitulando: Vendas em Pirâmide, segundo a lei portuguesa (Decreto-Lei n.º 143/2001. de 26 de Abril) = "procedimento que consiste em oferecer ao consumidor determinados bens ou serviços fazendo depender o valor de uma prometida redução do seu preço ou a sua gratuitidade do número de clientes ou do volume de vendas que, por sua vez, aquele consiga obter, directa ou indirectamente, para o fornecedor, vendedor, organizador ou terceiro."

Face a este conceito, como está a Agel em incumprimento da lei?

De duas formas, se não mais ainda:

1º forma - O recrutamento de novos membros.
Quando nos inscrevemos na Agel, temos de pagar um valor mínimo de cerca de 260€ no plano básico (que diz respeito a uma taxa de inscrição e mais à compra de 4 caixa de produtos), e 960€ no plano executivo (16 caixas de produto). Mais tarde, quando recrutamos alguém, ganhamos um bónus chamado "comissão de início rápido", que varia conforme consigamos aliciar um alguém para o plano básico (35€) ou para o plano executivo (200€).

Aos olhos da lei, isto pode ser visto assim:

(A Agel) oferece ao consumidor (nós, como membros da Agel) determinados bens ou serviços (as tais caixas que pagámos com a inscrição) fazendo depender o valor de uma prometida redução do seu preço ou a sua gratuitidade do número de clientes (os novos recrutas) que por sua vez, nós (como membros da Agel) consigamos obter, directa ou indirectamente, para o fornecedor / vendedor / organizador / terceiro (Agel).

As contas relativas à redução de preço/gratuitidade são fáceis de fazer, basta calcular a diferença entre o que pagámos pelos produtos quando fizemos a nossa inscrição e o valor que ganhámos por recrutar novos membros. Por exemplo, se pagámos 260€ pelas compras da inscrição e recrutarmos 2 novos membros plano básico, obtemos uma "redução no preço" das compras (- 260€ + 35€ + 35€ = - 190€); se por acaso tivermos conseguido recrutar 2 novos membros plano executivo, obtemos uma "gratuitidade" e a ainda uma margem de lucro (- 260€ + 200€ + 200€ = + 140€).

Um membro da Agel pode, de facto, viver apenas à custa de uma cadeia infindável de novos membros recrutados, sem nunca ter de efectuar uma única venda para ganhar dinheiro ou pagar o investimento inicial. Isto é a lógica base de um Esquema em Pirâmide, qualquer que ele seja: pagar o investimento através do recrutamento de novos membros; basicamente é passar a bola ao próximo para não sermos nós os lesados.


2ª forma - A obrigatoriedade de fazer compras para ganhar prémios/comissões.

À semelhança do recrutamento, em que obtemos um desconto em relação à nossa inscrição por metermos novos membros na rede, com as comissões passa-se o mesmo fluxo/mecanismo. Quando a Agel faz depender a possibilidade de recebermos comissões (vindas do downline) da obrigatoriedade em encomedar produtos, está-nos a oferecer um desconto ou a gratuitidade nesses produtos que encomendamos. Nada que saber, é fazer contas de somar e subtrair.

Reparem que num negócio legal, por exemplo num stand de automóveis ou numa loja de telemóveis, para citar os exemplos mais falados, o vendedor não tem de fazer nenhuma compra à loja onde trabalha para poder ganhar comissões das vendas que faz. Inclusivamente, pode ganhar prémios com as vendas que os outros vendedores fazem, quando há um bónus de produtividade para o grupo todo. Nesse caso, TODOS os vendedores ganham o bónus, e não apenas o upline (porque NÃO há upline nem downline nessas empresas, os vendedores estão todos ao mesmo nível, o que há são hierarquias profissionais, com diferentes níveis de responsabilidade/rendimentos). À mesma, ninguém tem de fazer compras à empresa para ganhar essas comissões. É um procedimento totalmente legal, ao contrário dos apresetnados no plano de compensações da Agel.

O conjunto destas duas abordagens mais o facto das vendas para fora da rede serem pobremente recompensadas (face às compras/recrutamento) e nunca registadas em sistema LEVA A QUE UM MEMBRO, PARA GANHAR DINHEIRO, TENHA DE SOCORRER-SE DE UMA LONGA LINHA DE OUTROS MEMBROS COLOCADOS POR BAIXO DE SI - O QUE, MAIS UMA VEZ, É A ESSÊNCIA DE QUALQUER ESQUEMA PIRÂMIDE, COM OU SEM PRODUTOS, E PARA ALÉM DE QUALQUER INTERPRETAÇÃO LEGAL.

Conclusão

A Agel:

- Não promove nem se preocupa conceito de Vendas Directas, e não incentiva qualquer ideia de vendas a terceiros aos seus membros. A cultura do conceito que apregoa (o recrutamento infindável de novos membros) é contrário a estes princípios.

- Anuncia-se como uma empresa legítima de MMN/MLM, embora na verdade utilize um modelo de negócios apenas hierárquicamente semelhante, falhando nos dois aspectos essenciais que o definem: 1 - não há vendas para fora a rede; 2 - as comissões não são calculadas sobre as vendas do downline.

- Está a usar práticas ilegais, previstas na lei segundo o conceito de "Vendas em Pirâmide", com o intuito de expandir mais rapidamente a rede de membros.