quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Pirâmide VS Multinível

Marketing Multinível VS Esquemas em Pirâmide

Como identificar as diferenças entre um negócio potencialmente lícito e um negócio ilícito/fraudulento.

Apesar destes conceitos já terem merecido alguma atenção em mensagens anteriores, julgo ser de todo o interesse falar deles de forma mais directa, apontando as semelhanças e diferenças existentes entre os dois modelos. No final será feito um posicionamento do caso Agel face aos mesmos.

Este artigo baseia-se essencialmente em dois estudos publicados sobre o assunto, um deles em 2003, uma tese de doutoramento elaborado por um assistente do ISCTE, sobre "Vendas Directas" (disponível: aqui ), um trabalho académico, de pesquisa, que a determinada altura defende a legitimidade de muitas empresas de MMN (entre elas a Amway), e que apresenta argumentos muito bem desenvolvidos, muito bem estruturados e justificados (é este tipo de posicionamento que eu esperaria encontrar por parte dos defensores da Agel, e até agora, sem ser este estudo, não houve um candidato à altura); e um outro estudo, de inícios de 2006, pela organização "PSA - Pyramid Scheme Alert", um trabalho baseado em dados reais divulgados por algumas organizações a operarem esquemas em pirâmide (disponível: aqui ) - este trabalho mostra como na prática - na vida real fora do papel - algumas empresas de MMN falham redondamente na proposta de distribuição justa de rendimentos pelas várias camadas de membros que constituem os seus distribuidores (mais uma vez, o nome da Amway vem à baila).

São dois trabalhos completamente antagónicos, tanto nos objectivos propostos como na parte que toca ao MMN (o primeiro a defender, e o segundo a atacar), mas de grande relevo para as matérias aqui em discussão.

Também baseei este artigo nas muitas e várias definições de "vendas directas", de "vendas em pirâmide" e de "Marketing Multinível" que estão disponíveis um pouco por essa net fora, seja em sites de autoridades alegadamente competentes (as federações de vendas directas america e europeia), seja na lei portuguesa e europeia, seja em sites dedicados à discussão geral da legitimidade deste tipo de negócio.

Em primeiro lugar fica uma clarificação: os Esquemas em Pirâmide, ilícitos, ilegais, podem constituir uma forma específica e particularmente nefasta de Marketing Multinível. Podemos, portanto, falar sempre em Marketing Multinível. O que não podemos é dizer que, por se tratar de Marketing Multinível, estamos na presença de um negócio lícito. Para mais, há muitas vezes uma aproximação marginal entre os dois conceitos, que pode ser de tal ordem que se torna difícil de distinguir entre um e outro. No caso da Agel, o modelo adoptado reune propriedades dos dois: usa algumas propriedades do MMN por forma a poder enganar os incautos, e usa outras, relativas a esquemas em pirâmide, para operar na prática.

Definições Essenciais
(alguns trechos nestas definições foram literalmente copiados dos estudos indicados acima, outros foram adaptadas e compostos por mim)

Vendas Directas

Método de distribuição de bens de consumo através de contactos pessoais (face-a-face) entre vendedor e comprador fora dos locais fixos de comércio (em casa do consumidor ou vendedor, em locais de trabalho que não tenham a ver com a actividade, ou em eventos especiais para a promoção dos produtos, como por exemplo as "festas de amigos/familiares"). As vendas directas podem divergir quanto ao modelo organizacional aplicado pela empresa que os institui: podem ser de Nível Único, ou podem ser Multinível.
A lei portuguesa prevê este tipo de negócio no mesmo decreto lei em que prevê a ilegalidade das vendas em pirâmide (143/2001. de 26 de Abril).

Marketing de Nível Único

Sistema de venda directa de produtos de consumo e serviços, por meio de uma rede de distribuidores individuais independentes, sem estabelecimento, isto é, sem loja onde mostrar os produtos, ao mesmo tempo que vendem aos seus clientes particulares: familiares, vizinhos, amigos. Os canais de venda a retalho que usam distribuidores independentes não só para comprar e vender produtos a retalho, mas também para recrutar novos distribuidores para uma rede em constante crescimento. As comissões e prémios recebidos pelos distribuidores incidem, apenas nas suas vendas pessoais (actividade retalhista).
A Avon e a Tupperware são exemplos de empresas a operarem neste tipo de estrutura.

Marketing Multinível (MMN, ou MLM -
Multi-Level Marketing)

Sistema de venda directa de produtos de consumo e serviços, por meio de uma rede de distribuidores individuais independentes, sem estabelecimento, isto é, sem loja onde mostrar os produtos, ao mesmo tempo que vendem aos seus clientes particulares: familiares, vizinhos, amigos. Os canais de venda a retalho que usam distribuidores independentes não só para comprar e vender produtos a retalho, mas também para recrutar novos distribuidores para uma rede em constante crescimento. As comissões e prémios recebidos pelos distribuidores incidem, não só nas suas vendas pessoais (actividade retalhista), mas também nas vendas realizadas por vários níveis de “downlines” na sua rede.

O marketing multinível teve origem nos Estados Unidos nos anos 30, desenvolvido inicialmente pela Nutrilite Products of California através da iniciativa de Carl Rehnborg, conhecido hoje como o “pai” do marketing multinível.

O Boom do Marketing Multinível, as nível mundial, aconteceu nos anos 80. Em Portugal, as primeiras companhias identificadas como MMN estabeleceram-se em 1992 (Amway e Oriflame).

A Amway é considerada a maior e mais bem sucedida companhia de MMN existente no mundo. A Quixtar, uma sua subsidiária gerida através de um portal na net, é considerado outro exemplo paradigmático de MMN.

Para que qualquer uma destas estruturas funcione (Uninível ou Multinível) é essencial que o produto seja "bom". Bom no sentido de ser competitivo face à concorrência. Bom no sentido que que o consumidor final opte por o comprar, em vez de se dirigir à lojas mais próxima e comprar um sucedâneo. Bom no sentido de proporcionar ao vendedor uma base sólida e duradoura para poder ganhar dinheiro. Bom no sentido de proporcionar a todos os membros inscritos na rede, e à partida, as mesmas hipóteses de ganhar dinheiro - a diferença de rendimentos é assim justificada não pela posição hierárquica mas pelo esforço/habilidade de cada um em vender o produto. Um membro colocado no fundo da rede pode assim ganhar mais dinheiro do que um membro do topo, ao vender uma quantidade maior de produtos ao consumidor final.

Por último, quero deixar uma explicaçao adicional sobre o conceito: a sigla MLM não se refere ao modelo de negócio de determinada empresa. Refere-se ao esquema de pagamento de compensações aos distribuidores da rede. O modelo de negócios será sempre, e primeiro que tudo, as "Vendas Directas".

Para o consumidor final (não pertencente à rede de distribuidores) não há qualquer diferença entre uma empresa Uninível e outra Multinível. Para o distribuidor pertencente a qualquer uma das redes, já há uma diferença: no Uninível não ganha comissões derivadas das vendas de outros distribuidores, no Multinível ganha.

Esquema/Vendas/Promoção em Pirâmide

Negócio, ou simulacro de negócio, de cariz ilícito e fraudulento, em que a aplicação de determinadas regras parasitárias conduz a que uma parte dos inscritos (uma minoria, aqueles que entraram primeiro na rede) ganhe dinheiro à custa da exploração do trabalho, ou da angariação de dinheiro, de outros inscritos (a grande maioria, aqueles que entrarem mais tarde para a rede), que acabem sempre em situação de prejuízo. Pode haver um produto ou serviço envolvido, mas, a existir, este não apresenta nenhuma mais valia para o consumidor que lhe permita ser competitivo (em preço ou em valor intrínseco) face a outros produtos sucedâneos que haja no mercado. Um esquema em pirâmide pode tomar inúmeras formas e feitios, uma das quais, a mais desenvolvida, uma rede de Marketing Multinível; em outros casos, como por exemplo o da D. Branca, a pirâmide gira à volta de um negócio "bancário", em que os investimentos dos membros mais recentes servem para pagar os elevados juros dos investidores mais antigos. Há inúmeros casos de Esquemas em Pirâmide divulgados na Internet que, quase sempre, e vistos à distância, acabam por ser tornar cómicos para quem os estuda.

-------------EDIT-------- Correcção efectuada em 17-01-2008

O esquema da D. Branca não era uma pirâmide. Era um Ponzi. Embora semelhante em termos de perdas para os últimos a aderirem ao esquema, um Ponzi distancia-se de uma pirâmide no sentido em que os membros da rede não ganham dinnheiro com o recrutamento uns dos outros, e cada distribuidor individiual reporta directamente à "empresa mãe" - por outras palavras, não há uma hierarquia organizada de membros.

------------END EDIT--------------------------------------

Segundo a lei portuguesa, a Venda em Pirâmide pressupõe o aliciamento que alguém faz a outrem (seja para que este compre algo ou para que entre numa rede) com a intenção de obter um desconto ou a gratuitidade num determinado produto/serviço.

Segundo a lei comunitária europeia, uma "promoção em pirâmide" acontece quando o consumidor dá a sua própria contribuição em troca da possibilidade de receber uma contrapartida que decorra essencialmente da entrada de outros consumidores no sistema, e não em vez da venda ou do consumo de produtos.

O estudo publicado em 2006 pela "PSA - Pyramid Scheme Alert" refere o negócio da Amway como um inequívoco esquema em pirâmide e apresenta, logo de seguida, números concretos para o provar (este mesmo estudo identifica outras seis empresas de MMN que na realidade são negócios em pirâmide muito bem disfarçados). De igual forma, um processo recente, ainda a decorrer, levantado pelo governo inglês contra este gigante do MMN, apresenta valores claros e concisos de que a Amway não justifica as suas promessas de uma vida melhor para a grande maioria do membros inscritos (ler notícia do Times Online aqui ).

Na China, e como forma de acabar com potenciais negócios/esquemas em pirâmide, o governo instaurou uma lei que proíbe o ganho de comissões com base em vendas/compras de outros downlines, bem como o recrutamento de novos membros para a rede. Basicamente, o que o governo chinês decretou foi que todos os negócios de MMN passassem a ser Marketing de Nível Único, e ainda por cima sem possibilidades de recrutar quem quer que seja. Não quero de forma nenhuma exultar o governo chinês (até porque abomino a sua formatura ditatorial), mas tenho de reconhecer que conseguiu com esta medida cortar o mal pela raiz. (ver notícia aqui ). Mesmo assim, a ideia do "sonho americano" é bem real para a força de vendas na China, e os ensinamentos/experiência deste tipo de empresa apresentam-se como muito atractivos para os vendedores chineses.

Bottom Line

Apesar de haver diferenças de montra nos conceitos apresentados de MMN e de Esquema em Pirâmide, por vezes as aproximações são tantas que não é possível distinguir em que lado da fronteira se situa um negócio - ou até se se situa dos dois lados da fronteira, como parece ser o caso da Agel. A meu ver, a definição de Esquema em Pirâmide passa muito para lá daquilo que os regulamentos legais/oficiais atiram cá para fora. A meu ver, para identificar um esquema em pirâmide há que proceder ao estudo dos números no terreno - identificar a percentagem de "vendas" (para fora da rede) face à percentagem de "consumos" (para dentro da rede); identificar médias de receitas/lucro e de custos/prejuízo para os inscritos nas hierarquias das redes; apontar tempos de permanência e número de desistências de antigos inscritos no esquema; identificar potenciais tentativas de camuflagem da realidade; etc., etc. etc. Não sei ao certo como podemos fazer estas consultas ou como podemos retirar conclusões exactas baseadas apenas em suspeitas, uma vez que é muito complicado conseguir acesso a estes dados. Através de alguns estudos publicados sobre a matéria podemos ir vislumbrando farpas da realidade oculta; infelizmente, e por enquanto, é apenas o que podemos fazer.

Para mim, o negócio de MMN ideal/lícito/honesto seria um em que:

- Fossem respeitados os conceitos de comissões apresentados nas supra definições. Por outras palavras, em que cada membro pudesse ganhar uma determinada margem de lucro em contrapartida das suas vendas (25%, 30% ou até mesmo 50%, não interessa ), e pudesse ganhar comissões relativas às vendas de todos os membros por si patrocinados (um valor menor, em todo o caso, 5% ou 10%). Para ganhar estes valores de comissões, os membros não teriam de comprar nada à empresa fornecedora.
- Um membro nunca pudesse ganhar mais dinheiro com as comissões do downline do que o lucro gerado pelas suas próprias comissões. Isto é uma regra de "justiça" - impede os parasitas que se encostam à sombra da bananeira e ficam à espera que os outros trabalhem.
- O produto fosse competitivo face à concorrência, quer em termos de valor, quer em termos de preço final.
- O valor da inscrição na rede fosse inexistente, ou, a existir, que fosse um valor irrisório, ou um pagamento inicial mais barato por conta de produtos/artigos promocionais.
- Houvesse uma política justa de aceitação de devoluções, de pelos menos 6 meses ou mesmo de um ano, não permitindo que alguém pudesse ficar "agarrado" por não ter conseguido vender o produto e/ou por não ter conseguido recrutar mais ninguém para dentro da rede.
- Não houvesse pagamentos/encomendas/consumos mínimos obrigatórios.
- Fosse especificado exactamente e sem rodeios em que é que consistia o negócio (vender produtos a terceiros e tentar recrutar mais vendedores), o que significava trabalhar como vendedor/distribuidor, e quais as reais possibilidades de sucesso na empresa.
- Fossem divulgados abertamente informações relativas aos números da rede de inscritos (rendimentos médios por hierarquia, número de desistências, volume de vendas para fora da rede, etc. etc.)
- Não fosse exibida publicidade milagrosa a prometer "independência financeira", "uma vida melhor trabalhando menos", composta por "Ferraris, Porsches, e outros carros de luxo", por "viagens a ilhas paradisíacas", etc., etc. etc.


O Caso da AGEL - Posicionamento face a estes conceitos
(tema do próximo artigo)

sábado, 22 de dezembro de 2007

O Produto e as Vendas

O "Produto"

Desde o primeiro instante em que ouvi falar na Agel, pensei no produto como sendo um acessório secundário. Tanto fazia serem bananas do Equador, como pastilhas elásticas, ou até pomada para os calos, em alternativa ao gel. Tanto fazia porque o funcionamento da rede, o que impulsionava o seu mecanismo de geração de dinheiro, eram as comissões. A partir do momento em que me mostram um desenho em forma de pirâmide com uns valores compostos por vários algarismos, quero lá saber do gel para alguma coisa. Tenho de o comprar? Muito bem. Siga. Tenho de o vender? Não? Ainda bem. O que quero mesmo saber é de quantas pessoas vou colocar abaixo de mim.

Vejo agora que estava enganado. O Produto é importante. Demasiado importante para ser negligênciado desta maneira.

O Produto é importante porque legitima o negócio aos olhos de quem o ouve pela primeira vez. De quem não nunca ouviu a expressão "vendas directas". É fundamental para a estratégia AGEL do ponto de vista de que "não é por aí que o gato mostra o rabo". É fundamental para estabelecer uma primeira base de confiança, uma ponte de entendimento entre o membro da Agel e o potencial candidato a membro.

Ouvir «uma tecnologia inovadora de "suspensão de nutrientes em gel", de fórmula patenteada», é sempre diferente de ouvir «bananas do Equador». Se este negócio fosse anunciado com "bananas do Equador" a servir de alavanca, seria logo entendido como sendo um embuste - pelos menos para a grande maioria da pessoas. Não tenho dúvidas nenhumas: o mesmo modelo de negócio com um produto de aparência manhosa a sustentá-lo seria meio caminho andado para a falência da AGEL.

Por outro lado, com um produto deste (aparente) calibre, não só a empresa passa por credível ("quem dedica tanto esforço a um produto assim não pode ser aldrabão"), como também se escapa a um certo tipo de pensamento antiquado de que "num esquema pirâmide não há produtos transaccionados". Este pensamento, como até já foi comprovado aqui mesmo no blog, através do comentário de uma leitora indignada com a minha verborreia, é comum e vulgar. As pessoas fazem confusões destas. A ignorância face à realidade é tanta, que basta existir um produto para legitimar um negócio - no more questions asked - aceita-se e pronto.

Dito isto, passemos a uma outra perspectiva sobre os produtos da gama "gel".

Constatações (informações divulgadas pela AGEL):

- Há uma gama alargada de soluções; algumas delas para o mercado desportivo, a maioria para o mercado doméstico, do bem-estar /saúde.

- Há uma novidade anunciada: mais ninguém no mundo todo vende este tipo de produto/tecnologia. É algo que "pode revolucionar a forma como tomamos vitaminas".

- Há uma suposta patente: a tecnologia do gel em suspensão.

- Há uma série de benefícios associados pela Agel aos produtos, entre eles: uma mais rápida absorção do gel por parte do organismo em relação a outros suportes (cápsulas, comprimidos, pílulas, etc.); uma maior "disponibilidade" dos componentes para o organismo; uma série de substâncias activas, conforme o produto, que fazem bem a isto e àquilo, ou que têm determinadas propriedades importantes para a saúde dos consumidores; um sabor agradável (?!); e uma embalagem prática.

- Há uma equipa de médicos experientes por detrás da tecnologia.

- Há uma série de certificados de qualidade associados aos produtos (o Kosher, o Halal e o HBL).

- Há um certificado passado pela ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) cá em Portugal.

- Há um preço único para todos os produtos, seja qual for o "modelo".

- Há uma rede de associados/membros que tem por obrigação comprar o produto e por aparente dever vendê-lo a outras pessoas.

- Há um mercado alvo para venda do produto que consiste em: a) uma rede de associados ao esquema da Agel, b) toda a gente que essa rede de associados conheça, por forma a servirem, também eles, de consumidor final (e/ou de novos membros para a pirâmide).


Algumas Suposições e Constatações particulares (informações NÃO divulgadas pela AGEL e pensadas por quem não percebe nada de suplementos alimentares - situação que julgo ser a da maioria dos inscritos nas pirâmides):

- Os produtos nunca foram testados, a nível de efeitos/benefícios para quem os toma, por nenhum laboratório, na área da saude, independente, credível e reconhecido. Nem cá em Portugal, nem em lado nenhum. No site da Agel, no F.A.Q. dos produtos, dizem que este processo está a decorrer. Não dizem onde, nem através de que entidades.

- A patente associada ao produto não passa de mais um brilhante estratagema para elevar o seu valor aos olhos do consumidor final/potencial novo membro das fileiras Agel. Julgo que a patente diz respeito a uma marca registada: a palavra "gelceuticals", e nada mais. Produtos concorrentes de nutrientes dissolvidos em gel existem no nosso mercado e já existiam antes de surgirem na versão Agel.

- O produto tem o mérito de reunir numa base comum algumas soluções para a saúde do consumidor doméstico/deportivo, mas tem o desmérito de ser vendido através de um esquema piramidal que lhe retira qualquer credibilidade/valor para quem já percebeu o esquema. O produto até pode ser bom. Até pode ser excelente. Mas se assim fosse, a Agel não teria qualquer problema em divulgá-lo de outra forma, em publicar estudos através de entidades reconhecidas na matéria, em colocá-lo no mercado farmacêutico, por exemplo, industria que gera lucros certos de forma legal.

- A totalidade dos benefícios atribuidos ao produto não tem uma real importância para o consumidor doméstico, a ponto de justificar a sua compra a um preço elevado. Por exemplo, pode ser verdade que o organismo os absorva mais rapidamente, mas para que serve isso na prática? Se as vitaminas demorarem mais uns minutos a entrarem na corrente sanguínea, ninguém vai morrer. Entre pagar 60€ ou 20€ por um pacote de vitaminas de igual valor para o organismo, e que durem um mês, qual é que escolheriam?
Por outro lado, no capítulo dos produtos desportivos, há produtos concorrentes, também em gel, à vendas nas lojas de desporto.

- Os certificados concedidos aos produtos não dizem respeito à sua suposta qualidade. O Kosher e o Halal são certificados de aceitação religiosa por parte das comunidades Judaica e Muçulmana, e o HBL é um teste laboratorial que atesta a inexistência de uma variedade de substâncias "proibidas" nos produtos (do mal, o menos).

- O certificado da ASAE não passa de um papel a dizer que receberam alguns dos produtos com uma suposta rotulagem em português. Não tem nada a ver com a qualidade dos produtos.

- Uma vez que essa rotulagem ainda não acompanha as embalagens de gel, em cerca de um ano de actividade em Portugal, não há nem houve forma legal de vender o produto a terceiros, uma vez que as regras europeias obrigam à existência uma rotulagem do produto na língua original do pais onde se verificar a venda. Isto não impede, contudo, a compra do produto, rotulado em estrangeiro, directamente à Agel. É curioso ver uma empresa que opera por "vendas directas" a lançar-se num mercado desta forma - sem dar a possibilidade legal aos seus membros para venderem o produto.

- O produto tem um preço exagerado, mesmo para a rede de associados da Agel. Acredito que: a) o custo de produção é neste momento de menos de metade daquilo que custa ao associado; b) os custos de desenvolvimentos (R&D) já estão pagos há muito tempo; c) cada um dos produtos tem um custo substancialmente diferente de todos os outros, e que os preços foram nivelados para cima, de acordo com o "plano comercial" da empresa; d) consequentemente, a empresa está a fazer um lucro chorudo com as vendas para dentro da rede de associados.

- O produto vende bem para dentro do mercado de membros e associados da Agel porque, e apenas porque, é vendido com a promessa de lucros de comissões associados ao recrutamento de novos membros.

- O produto tem uma boa saida dentro da comunidade de amigos e familiares dos membros da Agel porque: ou é oferecido como material de teste - para atrair mais membros para a rede, ou é dado, ou é até vendido em alguns casos a preço de custo ou inferior.

- Embora estudos recentes na área da pirâmide alimentar revelem que é aconselhável tomar alguns complementos vitamínicos diáriamente, esse mesmos estudos dizem que não é necessário enveredar por marcas topo de gama e soluções independentes por parte de determinados laboratórios. Um marca normal de preço acessível chega para o efeito.

- O produto não está a ser vendido a retalho, num sistema de "vendas directas" por quase ninguém dentro da rede de associados a Agel, embora a empresa afirme no contrato que essa deva ser a forma principal de gerar lucro para os membros. Não se vende a amigos ou familiares, é de difícil venda a conhecidos mais afastados, e é certo que ninguém anda de porta a porta a vendê-lo. Outra coisa que é certa é a Agel estar inscrita na DSA - Direct Sales Association, uma espécie de entidade reguladora das "Vendas Directas" nos Estados Unidos, e que tem sido prontamente acusada de ser um Lobby pago por intesses privados.

- Os próprios associados da Agel, numa da mais engraçadas demonstrações de ignorância/honestidade, e numa das mais hilariantes afirmações de consciência colectiva da história do Marketing Multinível, dizem que o produto (e a rede da Agel) é para consumo próprio, e não para vendas. Só para clarificar as coisas, o processo devia ser ao contrário: os detractores do esquema Agel deveriam de estar a ACUSAR o negócio de ser para consumo próprio, nada tendo a ver com o conceito de "Vendas Directas", e os associados da Agel deveriam de estar a negar essa realidade, dizendo que vendiam muita coisa a terceiros... Se isto for algum dia a tribunal, é certo que teremos uma longa fileira de testemunhas de acusação. ;-)

- O produto é de difícil colocação no mercado fora da rede de associados. O preço é elevado de mais para um suplemento alimentar que tem produtos concorrentes no mercado a um preço muito mais baixo.

- Não há qualquer estudo publicado, por parte de nenhuma empresa de estudos de mercado autónoma, isenta e reconhecida, acerca da aceitação do produto no mercado de suplementos alimentares/"auxiliares de saúde". Os membros da Agel estão na mais perfeita escuridão quando a este aspecto.

- Quando a pirâmide de recrutamento chegar ao fim, há uma grande incógnita quanto ao futuro da Agel. Duas possibilidades apresentam-se como hipótese: 1) os membros das camadas de baixo dedicam-se a tentar vender os produtos (ou a consumi-los) sem desistirem, garantindo a sustentabilidade da pirâmide; 2) o produto não é competitivo, não se consegue vender, e os membros das camadas de baixo começam a desistir. Qualquer que seja a realidade, uma coisa é certa: 90% ou mais dos inscritos no esquema nunca terão lucros milionários. Na melhor das hipóteses farão um modesto rendimento à custa de muito trabalho, tempo, e dedicação

domingo, 16 de dezembro de 2007

Ensaio Sobre a Cegueira

(sobre a minha e sobre a dos outros)

Ao longo desta espécie de cruzada que tenho encetado contra a Agel, muita gente me tem perguntado quais são a minhas motivações pessoais. Serei "da concorrência"? Estarei a ser pago para denegrir uma empresa? Quem sou eu? Que razões tenho para agir desta forma?

Quanto à minha identidade, e ao contrário das outras questões, não é relevante e não é importante para este caso sob nenhuma perspectiva.

Quando me foi apresentada a Agel, quando acolhi dois amigos meus em casa para me falarem deste negócio, nunca tinha ouvido falar em esquemas em pirâmide, nunca tinha ouvido falar em Marketing Multinível, não sabia quem era ou o que era Herbalife, a Tupperware era só mais uma marca de caixinhas de plástico para guardar os alimentos, e não fazia a mais pequena ideia de que se conseguiam levantar esquemas fraudulentos com apoio da Internet em quarenta e tal países ao mesmo tempo. Vivia na mais completa ignorância sobre estes conceitos, negócios e marcas.

Para ajudar a compreender alguns dos porquês, é necessário contar uma parte do meu passado recente. Começa em inícios de Novembro:

- Recebo dois amigos em casa - o assunto é a Agel. Trazem, cada um, sorrisos de orelha a orelha e entram pela porta a dentro num esbracejar incessante de entusiasmo. Como já me conhecem há muito tempo, um deles diz-me que "vamos ficar ricos" e o outro pede-me pelas alminhas para ouvir tudo até ao fim antes de começar a criticar.

- Ouço atentamente a famosa "apresentação da Agel". Uma coisa fica imediatamente clara para mim: o produto é secundário. Interessa construir uma rede de pessoas para comprar o produto, mas os ganhos não provêm das vendas, provêm antes da quantidade de pessoas que estiverem abaixo de nós. As potencialidades de lucro são inacreditáveis. A minha ignorância é, neste momento, de 100% - confio nos meus amigos, embora não ache muita piada ao ter de a impingir o negócio a outras pessoas. Pergunto-lhes se têm a certeza que dá dinheiro. Um deles diz-me que viu com os próprios olhos a "folha de rendimentos" de não sei quem, uns degraus acima na hierarquia. Uma sensação de estranheza apodera-se de mim - sei que algo não bate certo mas não consigo perceber nem identificar o que é. A coisa cheira-me a esturro.

- Decido não me inscrever sem saber mais sobre o assunto.

- Passo uma noite me branco a fazer cálculos aos valores. A minha primeira suspeita é que a Agel não pode pagar assim tão bem às pessoas. Seria insustentável. Crio uma folha de Excel e reproduzo o esquema hierárquico da melhor forma que sei, baseando-me na explicação que me foi dada. Os dados batem certo. A empresa tem possibilidade de pagar aquele dinheiro todo aos membros porque está sempre a receber mais dos membros abaixo. Na cegueira pela exactidão dos valores, nem me apercebo da verdade tão evidente à minha frente: as pessoas que ocupam os últimos lugares da pirâmide ficam sem ganhar patavina.

- Faço uma pesquisa na net. Vou ao google e escrevo "Agel". Uma quantidade enorme de sites aparecem nas pesquisas, todos construidos por membros inscritos no esquema. Fico um bocado desorientado com tanta informação, alguma dela não coincidente. Não consigo encontrar o site institucional em português. Visito o www.agel.com e fico agradado com o que vejo. Parece uma empresa de cara lavada. A imagem deste site contrasta fortemente com a dos clones portugueses.

- Descubro o site "Indústria da Decepção?" (aqui) e o site de Classificados OLX (aqui), onde alguém colocou uma mensagem a publicitar o negócio. Estes dois locais virão a ser de crucial importância para a minha apreensão da realidade.

- As minhas preocupações começam nesta altura. Nestes sites é questionada a legalidade e a transparência deste tipo de negócio. O assunto é discutido fervorosamente entre adeptos e detractores. A troca de argumentos assemelha-se, por vezes, a uma batalha campal. Ouço falar em intrujice, ouço falar em conto do vigário, ouço falar em "esquema em pirâmide" e "MMn", mas não consigo fica com uma ideia clara sobre as diferenças. Devido à minha falta de conhecimentos, sou incapaz de tomar um posição.

- Pesquiso a net à procura de mais informação. Procuro as definições para as expressões utilizadas. Em Portugal, não encontro quase nada - os dados estão dispersos e são pouco explicativos. Procuro no estranjeiro. Encontro reposta para quase tudo o que pretendo. Confronto o esquema da Agel com as novas ideias que tenho e fico alarmado. Aparentemente, estou na presença de uma fraude para sacar dinheiro às pessoas.

- Falo com os meus amigos e informo-os do que descobri. Eles dizem que não pode ser, que o que eu digo não faz sentido, e que "se assim fosse a empresa nem sequer tinha aberto em 40 países ao mesmo tempo". Se "fosse assim já tinham sido caçados nos Estados Unidos, porque as autoridades lá são muito mais lixadas que cá". Dizem-me que estou errado, que estou a levar demasiado a sério algumas informações erróneas, "colocadas por pessoal que tem inveja dos outros" e que "ninguém está a tentar enganar ninguém". Dizem-me que aquilo não é um esquema em pirâmide mas não me sabem explicar porquê.

- Começo a colocar questões no site dos classificados. Vejo que a conversa que está para trás não fornece nenhuma informação verdadeiramente relevante para o caso. Vejo também que os detractores do esquema são facilmente "abatidos" por argumentos que nada explicam, mas que muito complicam. Vejo que ninguém tem uma ideia clara sobre o que é o Marketing Multinível e sobre o que são Esquemas em Pirâmide, embora cada lado faça uso destas expessões a torto e a direito. Inicialmente, sou recebido como um ignorante e como um tipo a atirar para o estúpido. As informações que peço, dizem-me, não fazem sentido ser pedidas. Ninguém as pede a empresas como a Compal ou a BMW.

- Envio uma mensagem para a Autoridade da Concorrência, outra para a ASAE e outra para a Deco. Em todas elas, questiono a legalidade de um esquema deste género. A ASAE nunca me virá a responder.

- Coloco mais perguntas. Ao invés de respostas simples e directas, como devia ser, sou brindado com um coro de insultos e com algumas frases feitas, do género: "isto não é uma pirâmide, isso seria ilegal, os tempos da D. Branca já lá vão"; "se não sabes o que estás a dizer, informa-te". Algumas destas astúcias atingem o alvo: a minha falta de conhecimentos sobre a Agel prejudica a minha capacidade de argumentar.

- Sou acusado de não ter vida própria.

- Decido investigar mais a fundo o esquema da Agel. Começo uma autêntica pesquisa aos detalhes do negócio. Centro a minha atenção nas minúcias do "Plano de Compensações" e, paralelamente, na história mundial das fraudes de pirâmides.

- Recebo uma resposta da Autoridade da Concorrência a dizer que não têm nada a ver com o assunto, para tentar o Instituto do Consumidor. Não entendo o que tem o Instituto do Consumidor a ver com as regras de concorrência entre empresas.

- Começo a entender minimamente o que se esta a passar. A informação que tenho para divulgar é tanta que decido construir um blog dedicado ao assunto. Nasce "O Esgoto do Capitalismo". Nesta altura, ainda não conheço o suficiente acerca da empresa para garantir informações credíveis. Tenho muito para contar mas não tenho sustentáculos lógicos para o fazer.

- Sou acusado de estar a falar sobre coisas que não conheço.

- Recebo uma resposta da Deco a impelir para um contacto telefónico. Como não sou sócio, não me podem responder por escrito. Telefono para a Deco. Tenho uma conversa de dez minutos com um Jurista. Explico os detalhes básicos do negócio da Agel. Ele informam-me acerca da lei e aconselha-me a manter-me afastado por "haver indícios de vendas em pirâmide".

- O assunto "Agel" passa a tabu entre mim e os meus amigos. Decido acabar com a conversa antes que a coisa passe a uma discussão mais grave. Eu não os consigo convencer acerca da fraudulência do negócio (apesar deles não conseguirem refutar os meus recém-adquiridos conhecimentos) e eles não me conseguem convencer a aderir ao esquema.

- No site dos classificados, começo a fundamentar a minha opinião com argumentos mais pesados. Em vez de respostas para as perguntas que faço, sou constantemente insultado. Ainda estou às escuras quanto a muitos detalhes do famoso "plano de compensações". Embora encontre muitas informações escritas nos sites da Agel, nenhuma delas é explicativa o suficiente para eu as compreender.

- Recebo algumas mensagens de apoio por parte de pessoas que também foram contactada pela Agel e sentiram repulsa por este género de actividade.

- No site dos classificados, sou acusado de difamar, de dizer mal e de tentar descredibilizar a Agel.

- Leio um livro sobre a história da Amway/Quixtar - "The Merchants of Deception". Fico horrorizado com alguns detalhes do negócio. A Agel passa por Madre Teresa de Calcutá face ao esquema da Amway.

- Vou às finanças para perceber como posso colectar a minha actividade como colaborador da Agel. Vou a três repartições. Duas delas não me sabem ajudar, porque desconhecem esta forma de ganhar dinheiro. Pedem-me para me informar melhor junto da Agel. Na terceira, sou atendido por uma senhora que entende mais ou menos o esquema. Diz-me que tenho de me inscrever como trabalhador independente, como "comissionista", e que tenho de passar recibos verdes sobre as entradas de dinheiro na conta.

- Sou acusado de chamar mentecaptos aos portugueses.

- Vou a uma reunião da Agel. Mantenho a boca bem fechada e os ouvidos bem abertos. O clima é de alguma euforia. Há pessoas a falar da sua experiência pessoal, de como a Agel as levou ao sucesso financeiro e pessoal, há uma explicação sobre os produtos, e há uma explicação sobre o plano de compensações. Lembro-me de uma vez ter assistido a uma reunião da IURD, no velho cinema Império, e de no final não saber se havia de rir ou se havia de chorar. Nessas reuniões vendia-se fé a troco de dinheiro. Na Agel vende-se dinheiro a troco de dinheiro. Não consigo ter vontade de rir ou de chorar. A única coisa que sinto, quando saio para rua, é uma náusea intensa. Compreendo na perfeição o poder de "charme" destas reuniões. Ao vivo, com um ambiente a ajudar, é muito mais fácil fazer mudar algumas mentes descrentes.

- Depois da reunião, os meus conhecimentos sobre a Agel subem em flecha. Já tenho que chegue e sobre para contestar qualquer argumento acerca do negócio. Quanto ao produto, continuo em branco - não faço ideia se é bom ou se é mau. Desconfio que é apenas aceitável, e que é vendido a peso de ouro para uma plateia de consumidores que não necessita dele.

- De entre os argumentos mais utilizados para rebater as minhas afirmações no site dos classificados, há três que se destacam: "eu estou a ganhar dinheiro e tu está a perder o teu tempo a escrever coisas que não interessam a ninguém", "quero lá saber das pessoas que daqui a vinte anos se inscreverem, por essa altura já ganhei o dinheiro todo que tinha a ganhar", e "para mim não interessa saber se isto é honesto ou não, eu sou honesto e não pretendo enganar ninguém, e como dá dinheiro..."

- Neste blog, sou acusado de escrever por obsessão, com o intuito de entreter um universo de mentes frustradas, revoltadas e preguiçosas. O tipo que deixou a mensagem não me conhece de lado nenhum e afirma não ter o mínimo interesse pelas matérias em discussão.

- Continuo a minha pesquisa sobre o objecto de estudo. A Internet, como sempre, é um meio inesgotável de obtenção de informações. Visito o site da Federal Trade Comission. Visito sites de entidades anti-esquemas em pirâmide. Visito os sites portugueses dos membros da Agel. Vejo os vídeos e as apresentações no youtube.

- Sou acusado de pertencer à Herbalife por alguém que "fez uma pesquisa na Net".

- Percebo os mecanismos que catapultam um esquema destes na nossa sociedade. Percebo que é muito difícil alguma vez a Agel vir a ser processada por quem quer que seja. Não há interesse/meios por parte das autoridades competentes. Empresas como a Agel navegam nos limites (exteriores) da lei, e aproveitam-se da ignorância e da ganância das pessoas para se expandirem o mercado. A sociedade portuguesa, neste momento, é exactamente o terreno certo para um esquema deste tipo: as condições sócio-económicas proporcionam uma grande aceitação a formas "rápidas e fáceis" de ganhar dinheiro. Há quem não veja nada de desonesto e de ilegal no negócio, há quem veja e feche os olhos, porque não é "nada de grave" e está-se a ganhar dinheiro.


Por que razões decidi fazer este Blog

Eu gosto de dinheiro. Eu gosto muito de dinheiro. É um defeito que assumo. Gosto de tudo aquilo que, materialmente falando, consigo comprar com o dinheiro que ganho. Gosto de ter a minha independência financeira, de não depender do dinheiro de outras pessoas para poder viver de modo desafogado. Gosto de todo o dinheiro que me sobra ao final do mês, quando sobra, e que esbanjo inutilmente em coisas que não me fazem falta para nada, mas que me dá gozo comprar. Gosto do consumismo fácil e despreocupado. Gosto de dinheiro, e não vou sequer culpar a sociedade por esta falha na minha integridade. O dinheiro que esbanjo, bem ou mal, provem do esforço do meu trabalho. É dinheiro que me custou a "fazer", mas é dinheiro que sabe bem receber. Sabe a justiça e a honestidade. Sabe a um equilíbiro correcto entre os factores trabalho e responsabilide.

Daquilo que eu não gosto mesmo nada é de quem se aproveita do dinheiro dos outros alegando falsas preocupações de bem-estar. Não gosto de quem diz que me vai "dar a oportunidade de ganhar dinheiro" quando na prática me vai estar a parasitar. Não posso com esta atitude. É outro defeito meu, está visto.

Quando vejo uma empresa como a Agel, do alto do seu trono dourado de boas intenções, falar em sonhos de uma vida melhor, em viagens a ilhas paradisíacas, em carros de luxo, em independência financeira, em ser "o seu próprio patrão", em trabalhar 2-3 horas por dia e ter um emprego à grande e à francesa e uma vida desafogada, passo-me logo dos carretos. Outro defeito meu: não posso com aldrabices do arco da velha. Não consigo ver uma multidão de pessoal a ganhar dinheiro e outra muito maior a tentar perceber em que curva se enganou.

O meu objectivo, com este blog, longe de tentar firmar um bastião de moral, honestidade ou boas intenções, é, ponto um, abrir os olhos a quem não está informado sobre os conceitos fundamentais do Marketing Multinível e dos Esquemas em Pirâmide. Sim, Há uma ignorância generalizada no que respeita as estas expressões cá em Portugal. Ponto dois, levar as pessoas a questionarem tudo aquilo que lhes foi dito pela Agel, com base numa perspectiva totalmente diferente. Ninguém deve ser um Yes-Man, um pau mandado, só por ouvir dizer que vai ganhar muito dinheiro. Ponto três, expressar a minha indignação pública para com este tipo de negócios parasitas. Ponto quatro, equlibrar os braços da balança: o que se vê aí pela net fora é uma autêntica invasão de sites da Agel - a informação prestada por esse sites aponta toda no mesmo sentido - e não há espaço para a contra-informação.

Em altura alguma pretendo "dizer mal", denegrir, descredibilizar a Agel. Muito menos "só porque me apetece". Há uma grande diferença entre estas atitudes e uma atitude de crítica fundamentada, ainda que negativa. Mesmo quando recorro a um certo tipo de humor, por vezes rasteiro, há sempre uma preocupação em firmar um ponto, um aspecto, um pormenor menos honesto da actividade em questão. Nunca é de forma aleatória.

A minha motivação pessoal, única e desinteressada, e para quem não a deduz deste texto, prende-se a amizade que tenho para com quem me tentou recrutar para a Agel. Tal como eu tenho amigos meus enfiados no esquema, deve haver muito mais gente para aí espalhada que lamenta as escolhas dos amigos e se vê impotente para fazer o que quer que seja. Chamem-lhe obsessão, chamem-lhe o que quiserem, eu tenho o direito à escolha em agir deste modo, tal como toda a gente tem e refutar as minhas opiniões.


"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."- Livro dos Conselhos (José Saramago, "Ensaio sobre a cegueira")

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O Dedo na Ferida

Sobre os Esquemas em Pirâmide e as Vendas em Pirâmide


1 - O que diz a Lei Portuguesa

Decreto-Lei n143/2001. de 26 de Abril

(...)

Artigo 27.º
Vendas «em cadeia», «em pirâmide» ou de «bola de neve»

1 - É proibido organizar vendas pelo procedimento denominado «em cadeia», «em pirâmide» ou de «bola de neve», bem como participar na sua promoção.

2 - Para efeitos do disposto no número anterior, considera-se venda «em cadeia», «em pirâmide» ou de «bola de neve» o procedimento que consiste em oferecer ao consumidor determinados bens ou serviços fazendo depender o valor de uma prometida redução do seu preço ou a sua gratuitidade do número de clientes ou do volume de vendas que, por sua vez, aquele consiga obter, directa ou indirectamente, para o fornecedor, vendedor, organizador ou terceiro.

(...)

A primeira vez que olhei para este pequeno trecho - já agora, a única coisa que existe em toda a legislação portuguesa acerca das "Vendas em Pirâmide - senti um misto de alegria e decepção.
Por um lado, havia efectivamente um procedimento legal que proibia a trafulhice piramidal, mas por outro, e assim à vista desarmada, parecia algo deslocado da realidade, desapropriado e insuficiente. Sobretudo, parecia-me um artigo fraco, incapaz de "tratar das encomendas".
Depois li com mais atenção, e comecei a dar pela inteligência do legislador.
Não faço a mais pequena ideia se este artigo foi alguma vez usado em algum caso de tribunal, e se serviu para condenar alguém ou alguma instituição. A única coisa que sei é que esta lei já vem mais de trás, pelo menos de 1983, e que nessa altura era da competência do entretanto extinto IGAE. Faz parte agora da tutela fiscal da ASAE.

O artigo, e por outras palavras mais acessíveis, diz o seguinte:

Considera-se venda em pirâmide o procedimento pelo qual alguém (um consumidor) pode obter, junto a determinada entidade (o fornecedor, vendedor, organizador ou terceiro) , e por oferta desta, um desconto, ou a gratuitidade num produto, a troco da angariação de mais clientes, ou da obtenção de terminado volume de vendas. Directa ou indirectamente.

Ora, pelas minha interpretação, temos aqui o caso das comissões da Agel, e o caso do bónus de recrutamento da Agel. Não directamente, porque há um conjunto de factores terceiros que medeiam entre as trocas de dinheiro, mas indirectamente, como diz o artigo. E porque há a obrigação de compra de produtos para a obtenção de comissões - eis o cerne da questão.

Este artigo consegue excluir as comissões pagas por qualquer empresa "normal" aos seus trabalhadores. Essencialmente porque o trabalhador não tem de comprar nenhum produto da empresa para poder obter a comissão. A única coisa que tem de fazer é VENDER os produtos da empresa a terceiros. O que faz depois com o dinheiro que ganha já não tem nada a ver com a empresa onde trabalha. Quando muito, e é caso corrente, a empresa permite descontos especiais aos seus funcionários, mas estes não dependem de nenhuma venda e só são usados se os funcionários quiserem comprar os produtos. Não há qualquer obrigação, logo não há qualquer ligação entres as movimentações de dinheiro.

Queria salientar ainda uma pequena afirmação no ponto 1 do artigo, e que diz o seguinte:

"É proibido organizar vendas pelo procedimento denominado «em cadeia», «em pirâmide» ou de «bola de neve», bem como participar na sua promoção.

O que está aqui a dizer é que quem anda a recrutar pessoas para entrar num esquema de pirâmides está também a infringir a lei. Julguei importante esclarecer este ponto.

Claro que isto é a minha interpretação. Estou mesmo a ver o que os Srs. da Agel vão dizer:

a) Sou Estúpido, sou Burro, sou Ignorante, tenho palas nos olhos, não percebo um boi de leis, vai mas é dormir que o teu mal é sono, etc, etc, etc.

Resposta a a) - Escusam de vir dizer isto. Não favorece em nada a discussão. Se quiserem contestar o que estou a dizer, façam-no com argumentos.

b) Onde raio foste tu desencantar esta conversa toda. Porque é que não falas com um advogado para esclareceres as coisas como deve ser?

Resposta a b) - Uma parte da explicação é da minha autoria, a outra parte é toda da autoria da DECO. Liguei para lá, fui atendido por um jurista, expliquei sucintamente o teor do negócio da Agel, e pedi uma opinião sobre se o achavam legal e se havia algum risco na minha adesão. Disseram-me que havia indícios de práticas de vendas em pirâmide e que portanto a recomendação deles, com os dados que tinham, era para me manter afastado.

c) Isto não prova absolutamente nada.

Resposta a c) - Infelizmente, neste ponto, tenho de dar o braço a torcer. Tudo que vos estou a apresentar não passa de uma opinião sobre uma suspeita que eu tenho. Nada mais. Não serve para condenar ninguém em tribunal e não serve como facto provado da ilegalidade do negócio. Mas acho que a questão deve ficar colocada. Pelo menos para nos fazer reflectir nas por vezes ténues fronteiras entre o que é lícito e o que não é.

2 - O que a lei portuguesa não diz mas é importante que se saiba

a) O caso das Vendas

Em minha opinião, a lei portuguesa foca-se num dos aspectos principais que identifica um esquema em pirâmide: a obrigatoriedade de pagamentos/compras em ordem a receber uma determinada recompensa.

O outro grande "identificador" de um esquema potencialmente ilícito, e conforme a explicação da US Federal Trade Commission, é o volume de vendas feito para fora da rede de membros do negócio.

A explicação deste segundo "identificador" é simples: quando há uma grande percentagem de vendas de produto para fora da rede, isso significa que os membros do negócio estão-se a esforçar efectivamente para os vender; significa que as recompensas/comissões premeiam esse esforço; significa que esses produtos vão ser colocados em iguais circunstâncias com outros produtos disponibilizado num mercado concorrencial livre; significa que os produtos têm mesmo de "ser bons", têm de se apresentar ao consumidor final com características que façam a diferença, caso contrário não há hipóteses de os vender.


Em contrapartida, se grande parte da percentagem de vendas de uma empresa MMn é feita para dentro da rede, se são os membros da rede o consumidor final, significa que não há interesse/possibilidade em vender o produto a terceiros; significa que o plano de recompensas/comissões está orientado segundo outras normas, como por exemplo as compras dos membros que estão abaixo no esquema; significa que, havendo um produto no esquema, ele serve apenas para fachada, se calhar para legitimar o negócio aos olhos quem não sabe o que são vendas em pirâmide (e que desconfio ser o caso da maioria dos aliciados pela Agel). Significa, sobretudo, que é necessário colocar pessoas na rede por forma a ganhar dinheiro (recrutar, recrutar, recrutar) - e já sabemos que o esse recrutamento tem um limite terminante, quando chega ao fim deixa os de baixo com a factura para pagar.


No caso da Agel, aparentemente, temos uma contradição: por um lado não há incentivo nenhum para vender o produto para fora da rede - há uma clara apostas nas comissões relativas a compras de outros membros -, há um indício muito forte, quase conclusivo, de que este é um esquema desonesto e ilegal, mas por outro lado o produto pode vir a revelar-se bom. Pode vir a revelar-se excelente, até.

A questão é que não sabemos. Após dois anos de actividade, a Agel já teve todo o tempo do mundo para submeter os produtos a laboratórios independentes, isentos e reconhecidos, por forma a provar que é verdade serem "topo de gama". Mas não o fez. Toda a informação sobre a suposta tecnologia de rápida absorção do gel e todos os benefícios indicados pelas substancias utilizadas nos produtos provêm de uma equipa de médicos da própria Agel. Não chega para me convencer. Não chega para me convencer a mim que não percebo nada de suplementos alimentares. Sobretudo, não chega para me convencer quando já estou de pé atrás com a utilização de um suposto esquema em pirâmide para garantir as vendas do produto.

Se o produto é assim tão bom, the next big thing, porque é que não há um incentivo claro às vendas para fora da rede?

Porque é que a empresa decide recompensar muitíssimo melhor as compras que os membros fazem, em detrimento das vendas, arriscando assim poder ser identificada como uma empresa desonesta?

b) A injustiça na distribuição de recompensas

Um dos aspecto mais condenáveis num negócio em pirâmide é a distribuição extremamente irregular e descompensada de proveitos e custos (e afinal de contas, de recompensas) entre os participantes no negócio.

Seja qual for o serviço ou produto negociado, há sempre uma pequena percentagem de membros, uns 5% a 10%, os do topo da pirâmide, que angariam a quase totalidade das recompensas e ganham prémios milionários. No início da expansão, e como maneira de expandir o negócio, estes membros são usados como prova concreta de que o negócio gera dinheiro. São usados para atrair mais pessoas para a rede ("eu estou a ganhar isto, estás a ver, entra que é bom para ti"). Como estão a ganhar dinheiro, não duvidam em tempo algum da honestidade da empresa que lhes está a pagar.

Seja qual for o serviço ou produto negociado, há sempre uma grande percentagem de membros, uns 90% a 95%, que, para além de nunca poder vir a receber as recompensas prometidas pela empresa mãe, acaba por contribuir do seu bolso, com compras/consumo próprio, para os ganhos dos que estão no topo.

Alguns esquemas em pirâmide, normalmente, quando atingida a fase de saturação do mercado, acabam por "rebentar". A sua sustentabilidade é feita em fanicos quando os que ficaram no fundo da pirâmide se começam a aperceber de que foram enganados. Depois, acontece uma de duas coisas: ou a empresa mãe fecha o negócio e desaparece de circulação, ou então as autoridades actuam e prendem os responsáveis. Em qualquer dos casos, os membros do fundo da pirâmide ficam sempre a perder, por vezes ficam mesmo na bancarrota. A história está repleta de casos destes.

No caso da Agel, e mais uma vez, temos um potencial atenuante: quando o mercado estiver saturado, e quando for altura dos membros do fundo começarem a questionar a veracidade das promessas e a saltar fora do esquema, ninguém vai ficar na bancarrota. No máximo dos máximos, estas pessoas vão perder uns 1.000, 1.500€. Se calhar nem vão reclamar junto de entidade nenhuma. Resignam-se e pronto.

Estou convencido que o plano traçado pela Agel é uma espécie de esquema em pirâmide "topo de gama" (aqui sim, podemos utilizar a expressão sem medo de errar), planeado à escala global, apoiado numa infra-estrutura funcional e lavada - vendido com um lícito negócio de Marketing Multinível. Está de tal forma camuflado de boas intenções (ver b)) e de "tecnologia de ponta" (ver a)), que passa muito bem por um negócio lícito. Ainda assim, quando analisado mais a fundo, revela uma quantidade enorme de problemas estruturais. Pormenores que apontam para um muito bem organizado esquema piramidal.

Termino com uma frase deixada pela Cleo numa mensagem anterior: "Podemos mentir a algumas pessoas todo o tempo, ou a todas as pessoas algum tempo, mas nunca a todas as pessoas durante todo o tempo"...

Em Português

A Agel lançou, finalmente, e aparentemente oficialmente, um site em português.

Não sei ao certo quando é que isto aconteceu, mas só dei pelo caso ontem à noite.

O link é o seguinte: http://comunidade-agel.com/

Por coincidência, logo na página de entrada damos de caras com a reportagem que o Expresso publicou no início do mês de Novembro, e que eu também apresentei na minha mensagem anterior. É muito interessante esta escolha da Agel.

Facto muitíssimo curioso é a omissão do mini-glossário que acompanha a edição do artigo online, e que fala, sucintamente, sobre as diferenças entre o Multinível lícito e o fraudulento, segundo a entidade reguladora do comércio nos Estados Unidos (podem ler na minha mesagem).

É que quem tem dois dedos de testa consegue logo perceber que o "Plano de Compensações" da AGEL não está, nem nunca esteve, orientado para VENDAS para fora da rede. Há um dos pontos no plano que prevê a venda para fora da rede, ao colocar o consumidor interessado como "cliente preferêncial". Curiosamente, é o ponto que ninguém quer saber para nada, porque não dá qualquer hipótese de rentabilidade.

Gostaria que a Agel nos mostrasse a todos, e já que andamos a falar em honestidade, a percentagem de compras que é feita pela rede interna de consumidores (os chamados team-members, os agéis) e a percentagem de compras que é feita por "clientes preferênciais". No mercado português e em todos os outros.

(se calhar é mais uma daquelas informações que eles "não podem" divulgar)


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Errata:
Afinal foi um falso alarme - o site não é institucional
Agradeço os avisos feitos por dois dos meus leitores.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A Reportagem do Expresso

A seguinte reportagem foi publicada no semanário Expresso, no passado dia 3 de Novembro de 2007

Investigação
Vitaminas para ficar rico

Nova marca promete enriquecimento instantâneo

AGEL Chegou dos EUA e já tem 2300 adeptos. Jovens que querem ganhar dinheiro sem esforço são os mais aliciáveis

Joana Vicente tem 23 anos e a ambição de ser rica. Foi isso que, depois de uma apresentação em casa de um amigo, a levou a embarcar no negócio que promete criar milionários a partir de vitaminas em gel.

“Quem, nesta sala, não gostaria de mudar de patrão? Quem acha que ganha o que merece?”. As perguntas foram lançadas a uma audiência com algumas centenas de pessoas pelo norte-americano que guarda o segredo para o enriquecimento rápido. Glen Jensen, presidente da Agel, tem 39 anos e criou as vitaminas em gel que são o pretexto do negócio que reclama para si o estatuto de sucessor da Herbalife e que está a ganhar adeptos em Portugal.

A apresentação decorreu há cerca de duas semanas numa segunda-feira, ao final do dia, no auditório da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e repetiu, no dia seguinte, na Casa do Comércio, em Lisboa. Jovens adultos, homens e mulheres, foram respondendo ao repto de Glen Jensen, demonstrando que tinham incorporado o espírito do negócio. Uns já estavam na rede e ganhavam bastante dinheiro, outros estavam desejosos por mudar de vida.

Joana Vicente entrou, há um mês e meio, com o pacote básico pelo qual pagou 240 euros e recebeu em casa quatro caixas com 30 bisnagas, num total de 120 embalagens. Ao fim de quinze dias, já tinha amortizado o investimento, não através da venda das vitaminas, mas única e exclusivamente das comissões sobre a angariação de quatro pessoas para a rede. Ao entrar, fica com o dever de comprar um pacote de 120 euros todos os meses. E continua a ganhar comissões sobre as pessoas que entram abaixo das quatro pessoas que recrutou. “Uma parte dos produtos consumo e a outra ofereço. Não conheço ninguém que venda o produto. O dinheiro que se ganha a pôr pessoas é tanto que não é necessário vender”, explica Joana Vicente.

No mês de Outubro, depois de ter feito o «up-grade» para o pacote executivo (€960), Joana Vicente recebeu 1100 euros, um acréscimo justificado com o facto de ter investido mais dinheiro. Ou seja, quanto mais se paga para entrar, maior é a percentagem que se recebe pelas pessoas abaixo. Joana Vicente confessa que o maior aliciante da Agel é a possibilidade de ganhar muito dinheiro e nem a hipótese dos rendimentos diminuírem quando deixarem de entrar pessoas para a rede a demove. “Se calhar, nessa altura já vai ser preciso vender os produtos”, prevê, revelando que neste momento a rede já conta com 2300 pessoas em Portugal.

Pedro Celeste, especialista em marketing estratégico, explica que “o trabalho desenvolvido na criação de novos níveis funciona em progressão aritmética, enquanto os benefícios funcionam em progressão geométrica, isto é, trata-se de um convite para trabalhar sentado e esperar pelos lucros”. Desempregados, pessoas cujos rendimentos são insuficientes, ingénuas e muito materialistas compõem o perfil de quem é mais facilmente aliciado. A legalidade deste tipo de negócios é muitas vezes questionada e especialistas contactados pelo Expresso levantam dúvidas a este modelo da Agel.

Glen Jensen conhece bem o género de pessoas que entram facilmente nestes negócios. No palco da Agel, milhões e dólares são as palavras mais repetidas. Para ilustrar até onde se pode chegar, Glen Jensen acena com uma lista de valores de comissões, que garante estarem a ser pagos um pouco por todos os cerca de 40 países onde já marcam presença. Há números para todas as ambições e alguns atingem os milhares de euros. O presidente da companhia revela que em Portugal já existem três “directores-seniores que ganham, em média, 16 mil dólares por mês (cerca de €11 mil)”.

Por cinco minutos desvia-se dos cifrões para salientar que os produtos - sete variedades de vitaminas em gel embaladas em doses individuais - são “a estrutura do negócio” e a razão do sucesso. “São revolucionários, algo que nunca existiu. Estamos para a indústria de suplementos alimentares, como o Ipod está para a indústria da música”, comparou, referindo-se ao sistema em gel. A pedido do Expresso, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) está a analisar as características do produto.

Jensen não é um novato. Diz que trabalhou na indústria farmacêutica e em empresas de marketing em rede, o que preparou o terreno para a Agel.

Pedro Celeste sustenta que neste modelo de negócio, o produto precisa de ter alguma credibilidade e inovação. “Foi o que aconteceu com a Herbalife, que chegou ao mercado numa altura em que se começava a falar em obesidade e dietas”, refere. O ciclo de vida, por isso, pode ser curto ou longo. “É curto se as pessoas não acreditarem que vão ser capazes de convencer outras a comprar e é longo se o mercado acreditar que vai ganhar benefícios no médio prazo”, alega.

Joana Vicente acredita e espera estar a ganhar 20 mil euros em Agosto do próximo ano. Glen Jensen também detecta esse potencial no grupo de pessoas que tem à sua frente, apesar de ter acabado de chegar. “Qualquer um de vocês tem capacidade para se tornar um chefe de equipa. Prometo que isso irá acontecer tendo em conta a qualidade das pessoas que estão nesta sala”, dispara, ao melhor estilo de um entendido em motivação. “A Agel devolve a esperança e os sonhos”, conclui.

Textos Ana Sofia Santos e Catarina Nunes

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A acompanhar o texto, este mini-glossário:

DESCUBRA AS DIFERENÇAS

«MARKETING» MULTINÍVEL É uma forma legítima de vender bens ou serviços através de revendedores, que ganham comissões sobre as vendas próprias e sobre as vendas dos distribuidores que tenham recrutado

VENDAS EM PIRÂMIDE São estratagemas ilegais que assumem formas cada vez mais sofisticadas. Prometem elevados lucros aos consumidores ou investidores que lhes tragam mais pessoas para a rede. O dinheiro colocado por quem entra paga os lucros dos que já lá estão há mais tempo. Até pode existir um produto, mas este apenas serve para encobrir o esquema.

Fonte: US Federal Trade Commission, a entidade que regula as actividades económicas nos EUA

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Um Negócio Como Qualquer Outro...

... ou talvez não.

Um petição pela transparência de processos.

Uma das argumentações que mais tenho ouvido neste último mês, a refutar a minha ideia-certeza de que para muitas pessoas o negócio Agel não vai dar lucro, é a seguinte: "Entrar para a Agel é como entrar noutro negócio qualquer, tanto pode dar certo como por não dar, depende sempre da capacidade e empenho de quem o gere. Nos outros negócios também há uma taxa de insucesso bastante grande".

Mesmo que estivéssemos a falar de um outro negócio qualquer, que não estamos, tal afirmação seria no mínimo discutível, mas tratando-se da Agel, é uma falácia que ganha contornos trágico-cómicos com o passar do tempo.

Se não, vejamos: nesta altura do campeonato e segundo as informações da Agel, estaremos algures no arranque da fase de expansão. Há muitos recrutamentos, muitas novas adesões, muita gente entusiasmada com este "negócio moderno". Há, em suma, alguma facilidade em garantir que entrem pessoas "para baixo de nós na pirâmide". Nesta altura, de certa forma, aceito que a expressão acima mencionada se aplique na prática. Para que não restem dúvidas a ninguém, e na minha opinião, trabalhar com a Agel, ser membro da Agel, ter um negócio Agel, significa contactar todas as pessoas conhecidas e tentar aliciá-las a entrar para a rede. É desta maneira que podemos garantir dinheiro de comissões. Ser Agel não significa vender produto nenhum a ninguém. Portanto, nesta altura, há umas pessoas que conseguem (muitas até, diria) explorar bem os contornos do esquema, e enfiam em dois ou três meses umas 10 ou 20 pessoas na rede, e há outras pessoas que não conseguem, não têm jeito para vender um esquema duvidoso, e que desistem ao final de uns tempos.

Com o passar do tempo, e com o esgotamento do mercado, com a saturação, se quiserem, vai-se tornando cada vez mais difícil convencer pessoas a aderirem à Agel. Com o passar do tempo, por melhores "vendedores de ideias", por melhores negociantes ou recrutadores que os membros no fundo da pirâmide sejam, vai-se tornar muito complicado converter novos crentes.

Quando chegarmos a determinada altura - a fase da saturação do mercado que ninguém sabe ao certo quando é que vai ser (eu prevejo dois ou três anos) -, torna-se completamente impossível arranjar novos inscritos. Mesmo que tivéssemos os melhores negociantes do mundo, os melhores comunicadores, os melhores burlões, os melhores comerciais, na fase de saturação ninguém quer entrar no negócio. Fechou a torneira.

FACTO: Para todos os membros que preenchem a última fileira da pirâmides, a única maneira de ganharem dinheiro, de recuperarem o investimento que fizeram, será vender os produtos. Mais nenhuma das sete maneiras de ganhar dinheiro do plano de compensações lhes estará acessível.

É legítimo concluir que estas pessoas entraram para a rede em condições piores do que as que entraram no início. É legítimo concluir que estas pessoas nunca terão acesso às comissões, às tão desejadas comissões que estão a render balúrdios aos membros mais lá de cima. É legítimo concluir, portanto, que para estes membros não se trata de um "tanto pode dar certo como por não dar". Trata-se mais de um "quase de certeza que não vai dar certo". E não tem nada a ver com a adequação da pessoa ao negócio. Estes membros, e mais para os das duas fileiras acima, nunca terão qualquer lucro vindo de comissões. Resumindo: para cerca de 90% dos inscritos, e mais concretamente para todos os que se inscreverem a partir de determinada altura, há uma quase certeza de falhanço.

Mas houve alguma alteração na maneira como a informação foi passada a uma e a outras pessoas? Houve alguma forma de uns e outros avaliarem se o negócio era compensador ou não, antes de entrarem? Não. Não houve. Tanto num caso como noutro a lógica é a mesma: entrem depressa enquanto isto está a crescer, que é para poderem ganhar dinheiro com os que virão a seguir. O problema, para os membros da última fileira, é que não há "os que virão a seguir". O problema é que nessa altura o negócio já não está a crescer e ninguém sabia do caso...

Ninguém? Não é bem assim.

Num negócio normal, num negócio em que haja um parceiro sénior e um membro que se queira inscrever, é suposto haver uma confiança mútua e um interesse, tanto de um lado como de outro, em partilhar informações sobre o estado do mercado, quando as há. Um parceiro sénior, se for honesto, não vai dizer ao candidato a membro que o mercado está mesmo bom para investir quando afinal de contas há uma enorme recessão no sector. Se o fizesse, por certo garantiria a cessação do contrato a fim de uns tempos e o repúdio por parte do novo membro. Garantiria igualmente uma certa má reputação daí em diante, caso esse membro decidisse contar a sua história aos meios de comunicação social, por exemplo.

No caso da Agel, o que temos é uma ocultação deliberada de uma parte essencial da informação para quem pretenda "investir" no negócio. De informação que existe. De informação que pode ser sistematizada, quantificada, apresentada. A Agel sabe, a qualquer momento, e para determinado mercado, quantas pirâmides estão a funcionar, quantos inscritos há em cada uma delas, quantas desistências houve, e quais os rendimentos de cada centro de negócio.

Eu, como potencial interessado em entrar no esquema, interessa-me consultar esses dados. É que por aí eu consigo avaliar, assim por alto, em que estado está o mercado. Consigo saber se é um negócio atractivo ou não. Poderei, se reparar que já estão inscritos 60.000 membros, 20.000 deles na minha zona de residência, deduzir que não vale a pena, porque já não vou ganhar grande coisa com as comissões, se é que vou ganhar alguma coisa. Poderei, se reparar que ultimamente houve muitas desistências, nem sequer pensar em aderir. Poderei, se olhar para quanto é que efectivamente ganham os membros da Agel, saber se é algo que dá dinheiro ou não. Em suma, poderei basear a minha escolha em algo mais do que a simples intuição, coisa que já levou muita gente por maus caminhos.

Ora, o que é que a Agel faz a esta informação toda? Não a divulga e proíbe aos seus membros que o façam. Está no contrato. É "proibido" divulgar informações sobre a constituição da pirâmide e sobre os ganhos dos membros inscritos.

Lanço um repto à Agel: se são tão honestos como alguns dos vossos membros advogam, lancem cá para fora, numa base periódica regular - assim tipo: uma vez por mês - esta informação toda.

Porque é que têm de a esconder? Há verdades que não querem divulgar? Por que razões?

Não estou a pedir informações pessoais sobre os membros. Essas não interessam a ninguém. Estou a pedir números, esquemas, dados tratados. Quantidade de pirâmides. Quantidade de níveis por pirâmide. Quantidade de membros por nível. Quantidade de desistências nesse mês. Tempo de permanência de cada membro. Datas de inscrição. Rendimento mensal de cada membro. Maneira de cálculo desse rendimento. Etc. Etc. Etc.

A transparência de processos é a morte de qualquer negócio desonesto. A Agel, segundo a minha opinião, nunca divulgará estas informações. Se o fizesse, garantiria um muito mais rápido terminar do seu ciclo de actividade.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

O Sonho Americano

Modernidade - Luxo - Prestígio

O Cruzeiro dos seus sonhos aguarda-o para uma viagem memorável.

Troque a sua vida, velha e gasta, por uma experiência fantástica.

Nada afunda este Navio!!!!


* preço dos bilhetes
Classe Executiva: 960€
Classe Económica : 250€

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Descubra as Diferenças

CASE STUDY - teorias muito semelhantes à realidade

1) A Empresa Ixostar

A empresa Ixostar desenvolveu um conjunto de produtos energéticos exclusivo para desportistas e pessoas de elevada mobilidade, sujeitas a uma actividade física intensa. Para conseguir ganhar quota de mercado aos concorrentes, a Ixostar decidiu apostar na qualidade intrínseca do produto, e contratou uma equipa de médicos, cientistas especializados em saúde e atletas de alta competição para desenvolver uma gama de qualidade inabalável. Gastou milhões de euros para o fazer, mas optou pelo caminho certo, optou pela solidez de uma garantia real. De igual forma, a Ixostar, antes de lançar o produto no mercado, gastou mais uns milhões de euros e realizou inúmeros testes comprovativos da eficácia dos seus produtos junto de laboratórios autónomos - laboratórios esses que os testaram num universo totalmente diferente do da casa mãe.
Quando o produto saiu no mercado, nos braços de uma publicidade discreta mas eficiente, conseguiu conquistar rapidamente um lugar de destaque entre os concorrentes. Ao longo dos anos, a empresa tem crescido em torno desses produtos, consciente de que estão sujeitos a uma e só uma autoridade máxima: a do cliente. O cliente, de facto, pode optar por outras marcas, como por exemplo: a GatoradeX e a AXel, empresas que comercializam produtos supostamente semelhantes aos da Ixostar.
Apesar da óptima qualidade dos produtos, nada garante à Ixostar que a preferência dos consumidores não possa mudar de uma altura para outra. Não há vendas garantidas no mundo dos negócios, e a cada dia que passa a Ixostar esforça-se mais por agradar. Não esquece, em momento algum, a ética e a honestidade concorrencial.

2) A Empresa AXel

A empresa AXel, presente no mercado há pouquíssimo tempo, tem por administradores geniais pensadores. A empresa AXel, à semelhança da empresa Ixostar, desenvolveu uma gama de produtos destinados a pessoas de intensa actividade física. Mas, ao contrário da empresa Ixostar, a empresa AXel decidiu apostar tudo no sistema de vendas para garantir quota de mercado. Não foi tão cuidadosa no desenvolvimento do produto, ou se foi ninguém o sabe, mas disfarçou bem essa fraqueza com um sistema de marketing engenhoso: criou uma espécie de patente trademarkizada chamada gelxeuticals, e lançou-a como a palavra de facto no mundo da tecnologia para a saúde. Mais, escusou-se a gastar dinheiro nos circuitos tradicionais, quer de vendas quer de publicidade, e lançou uma rede de Marketing Relacional Multinível para onde consegue escoar a totalidade da sua produção. Através da oferta de rendimentos num sistema de compensações de alto coturno a alguns membros dessa rede, a AXel garante, ao abrigo de qualquer concorrência, uma quota de mercado elevada. E garante ainda muito mais que isso: garante quota de mercado dentro de um segmento de consumidores que à partida não comprariam o produto. Chama-se a isto Marketing Transcendente (expressão inventada agora mesmo por mim). Também se chama a isto: acenar com uns cifrões.

Para a Ixostar, a Axel é uma concorrente, embora não lhe tenha ainda roubado muitos clientes. Uma parte das vendas que antigamente fazia, deixou de fazer. Alguns clientes mudaram para a Axel. Não porque acreditem que o produto seja melhor, quando muito vale a mesma coisa, mas porque sempre podem ganhar uns trocos com a mudança. Muitos mais clientes optarão por essa mudança num futuro próximo. Porventura uma boa parte dos atletas amadores que consome regularmente os produto da Ixostar.

Para a Axel, a Ixostar não é uma uma concorrente. O mercado para onde vende os seus produtos é a) fechado, b) garantido todos os meses, c) de expansão explosiva durante os primeiros tempos existência do negócio. A Axel encontra-se, de certa forma, em abuso de posição dominante.

A Axel não sente, nem nunca sentirá a pressão da concorrência. A Axel não tem sequer de concorrer com ninguém. Tem mercado garantido. Quando muito, alguns dos seus membros sentirão essa concorrência. Os membros que tentarem construir um negócio de vendas leal, para fora da rede, terão sempre essa componente pela frente.

A Axel, futuramente, pensa em alargar a sua oferta ao mercado da cosmética e produtos para a pele, dirigida a um publico maioritariamente feminino. Neste segmento específico, roubará muita quota de mercado a empresas como a Nixea, ou a Xavon, ou a X'oreal. Aqui, neste mercado, é certo que fidelizará muitos clientes que já usam produtos semelhantes.

Se isto é comércio feito com ética, honestidade e respeito pelo próximo, então eu sou o Rato Mickey.

Se um esquema destes é considerado legal na nossa sociedade, então que a justiça seja cega, surda e muda.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Uma Outra Abordagem ao Negócio

As relações que se estabelecem entre a Agel e os seus Associados.

1) A relação Cliente-Fornecedor

Na minha opinião, esta é a única parte verdadeiramente transparente em termos do processo económico. Quem entra na rede, compra todos os meses uma quantidade X de produtos Agel. O valor mínimo é de 60€ por cada três meses, com direito a uma caixa de 30 pacotes de sumo/gel. Podemos pagar mais e comprar mais produtos, sempre em múltiplos de 1 caixa. Pagamos através de cartão de crédito, de forma automática, e recebemos os pacotes em casa acompanhados de uma factura.
Somos o Cliente, e a Agel é o Fornecedor. Nada de errado até aqui, trata-se de um circuito de Compra-Venda tradicional.

2) A relação Colaborador-Entidade "Empregadora"

A Agel oferece aos seus membros/colaboradores um arrojado "plano de compensações", de modo a mantê-los fidelizados na rede. Através de oito pontos-chave de bónus, os colaboradores podem ganhar dinheiro com os membros que estiverem abaixo de si na pirâmide. De todos os pontos de bónus, e apesar da Agel no contrato tentar afirmar o contrário, as "comissões" são a fonte de rendimento mais comum. É muito simples: as comissões são calculadas em função das compras que os membros inscritos por baixo fazem à Agel. Como os pagamentos são obrigatórios todos os meses, em ordem a poder participar no plano, os que estão acima na pirâmide estão todos os meses a ganhar com as compras que os de baixo fazem. Devido a este bónus, há uma espécie pressão, muito real, sobre quem entra de novo na rede para tentar aliciar mais pessoas a entrarem. O sucesso e a rentabilidade do negócio por parte de quem entra depende efectivamente do sucesso desse aliciamento.

FACTO: Se não houver pessoas para "enfiar" por baixo, não haverá dinheiro a entrar. Apenas há as compras mensais obrigatórias todos os três meses.
É minha opinião que ninguém vai vender nenhum produto para fora da rede. Até porque se houver compradores interessados, esse podem comprar directamente à Agel, tornando-se "clientes-preferênciais", não inscritos na pirâmide. Portanto, todos os meses entra em nossas casas uma ou duas caixas de sumo, que servirá, arrisco, na maior parte dos casos para consumo próprio.

Claro que uma pessoa é livre de sair da rede a qualquer altura. Mas nesse instante já terá deixado um pagamento inicial (de pelo menos 250€), e possivelmente algumas mensalidades. Não é nenhuma tragédia, e ninguém vai ficar descalço por causa destes valores. Mas isso é só mais um dos pormenores que foram brilhantemente arquitectados pela Agel. Eles, de qualquer maneira, ficam sempre a ganhar. E a culpa do negócio ter ido à vida é sempre da "falta de adequação" do colaborador.

O resultado de 1) + 2)

Com este esquema, a Agel garante duas coisas importantes: a) garante a relação Cliente-Fornecedor descrita em 1), conseguindo vender os produtos num mercado fechado, a rede, ao abrigo de qualquer concorrência exterior, e ainda roubando potenciais clientes ao mercado tradicional; e b) garante a expansão ad-eternum da pirâmide, feita pela pressão colocada sobre os membros que entram, pelo menos até ser atingida a saturação do mercado.

Longe vão os tempos em que um produto ganhava quota de mercado pelo seu valor real. Longe vão também os tempos em que a concorrência publicitária saudável entre produtos podia fazer a diferença em termos de vendas, mesmo que o produto ganhador não fosse grande coisa. O que a Agel está a fazer neste momento é oferecer a hipótese de ganhar dinheiro em troca da compra dos seus produtos. A Agel oferece, sem no entanto dar garantias, o ponto 2) em troca do ponto 1). Comprem os nossos produtos porque a pirâmide pode dar dinheiro.

Se não resultar, estejam alerta para a lenga-lenga do costume: é como qualquer negócio, tanto pode dar certo como não dar. Não deu? Paciência. A culpa provavelmente é sua. Também não se perdeu muito.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Fui contactado pela Agel. O que faço?

---EDIT--- 09/04/2008---

Na altura em que a mensagem seguinte foi colocada no blog, a DECO e a ASAE ainda não haviam respondido por escrito a uma série de questões sobre a legalidade do negócio da Agel. Entretanto, e à data de hoje, essas respostas existem e já foram publicadas neste blog:

1 - perguntas
2 - respostas DECO
3 - respostas ASAE
4 - os meus comentários

Assim por alto: o negócio da Agel é um ESQUEMA DE VENDAS EM PIRÂMIDE. ESTÁ ILEGAL SEGUNDO A LEGISLAÇÃO PORTUGUESA. CADA MEMBRO DA REDE QUE SE DEDIQUE A PROMOVER O NEGÓCIO ESTÁ TAMBÉM EM INCUMPRIMENTO COM A LEI.

-----End EDIT-----


1 - Não adira logo ao negócio. Espere uns dias. Se não tem bem a certeza, pense no caso.

Esta é a regra base ditada pelo senso comum em qualquer situação que envolva um aliciamento e/ou uma troca de dinheiro.

Se foi contactado pela Agel, é muito provável que lhe tenham dito que "quanto mais cedo se inscrever, melhor", que "dessa forma ficará acima dos que vierem a seguir e recuperará o investimento mais depressa".

É também provável que a pessoa que o aliciou - um amigo, um familiar, um colega de trabalho, um representante da Agel - o esteja a contactar a torto e a direito para ver se "sempre quer entrar ou não".

A introdução do factor "pressa" numa venda é uma estratégia muito utilizada por comercias e vendedores. Os consumidores, de cabeça quente, tendem a decidir as coisas "na hora". Quem é que nunca foi àquelas apresentações de vendas de apartamentos de férias "uma semana por ano" - vulgo "time-sharing"? Nessas apresentações, ao fim de duas horas de conversa de vendedor, apresentavam-nos um preço exorbitante, mas faziam 50% de desconto se comprássemos naquele mesmo dia.

Não decida à pressa. Decidir à pressa é decidir com base na emoção. Decidir com tempo é decidir com base na razão. Pondere muito bem os prós e os contras. Nos Estados Unidos da America, está para ser aprovada uma lei que dita que ninguém pode forçar outrem a aderir um negócio sem ter pelo menos 7 dias de reflexão.

Não se inscreva - esse é o meu conselho - sobretudo considerando que se trata de um negócio que um dia pode fechar por estar ilegal.

2 - Leia bem o contrato que lhe passarem para as mãos.

É a segunda regra ditada pelo bom senso. Não assinem nada que não saibam o que é que diz.

O contrato da Agel, à data desta mensagem, não foi traduzido para português, apesar da empresa operar em Portugal há cerca de um ano.

A Agel, apesar de operar no mercado nacional, não tem representação em Portugal.

Se não entender inglês, peça para levar uma cópia consigo e peça a um amigo para lhe traduzir o que lá está.

Tente identificar omissões no contrato. Nomeadamente, esteja atento a omissões relativas ao esquema de ganhos de comissões e a todos os prémios propostos no "plano de compensações". Se não diz no contrato quais são as regras que lhe permitem ganhar dinheiro com o negócio, como é que sabe que vão ser respeitadas? É possível que essas regras não venham mencionadas por questões legais - se viessem, seriam facilmente identificadas como pertencentes a um "esquema em pirâmide", proibido por lei em Portugal.

Tente perceber como é que a Agel lida com as vendas de produtos para fora da rede. É possível que na reunião lhe tenham dito que uma das maneiras de rentabilizar o investimento é vender o produto. Perceba que, no contrato, a Agel estabelece que não pode haver vendas dos seus produtos em estabelecimento comerciais a retalho (vulgo: lojas). A existirem vendas, será para amigos e conhecidos.

3 - Questione a veracidade daquilo que lhe contaram quando lhe apresentaram o esquema de comissões

Tente perceber muito nem como é que pode ganhar o dinheiro que eles propõem. A maior parte das "8 maneiras de ganhar" dinheiro através da Agel, nunca será alcançável pela maioria das pessoas. Questione e entenda o esquema dos 10% da "perna mais curta". Se não percebeu bem, tire logo as suas dúvidas. Entenda que não vai ganhar dinheiro nenhum se não recrutar ninguém para entrar, mesmo que o seu upline o faça por si.

Não se fie nos valores apresentados. É normal atirarem-lhe à cara com milhares e milhares de euros por mês. Esqueça isso. Para mais de 90% dos inscritos isso nunca vai acontecer. É possível ganhar dinheiro com o esquema, de facto, pelo menos para algumas pessoas, mas nunca vai ser nas proporções e números apresentados por eles.

Desconfie de quem diz estar a ganhar isto e aquilo por mês. Não acredite em nada sem lhe mostrarem os extractos de conta de vários meses e os respectivos recibos verdes a declarar a entrada desse dinheiro.

Lembre-se que está a lidar com profissionais de vendas. Aquelas pessoas que estão a falar nas reuniões estão a ganhar dinheiro para o convencerem a entrar. E são bons no que fazem.

4 - Informe-se sobre os "esquemas em pirâmide".

Saiba como funcionam e porque é que são fraudulentos. Não acredite quando lhe disserem que a Agel não funciona em pirâmide. Estude por si e tire as suas conclusões. Atente em dois pontos fulcrais: a obrigatoriedade de pagamentos periódicos (seja por conta de compras de produtos seja para receber comissões, seja por que motivo for), e a existência efectiva de vendas de produtos para fora da rede de associados.

5- Não deixe o seu emprego.

Se estiver a trabalhar numa base regular, não deixe a sua fonte de rendimento em altura alguma.

Se estiver desempregado, cuidado com a abertura de actividade para os recibos verdes que terá de passar à Agel. Significa que deixa de poder receber o subsídio de desemprego.

6 - Perceba em que consiste "trabalhar" para a Agel

Ser colaborador da Agel significa contactar todas as pessoas que conhece e propor-lhes o mesmo aliciamento que lhe propuseram a si. Não se trata de vender um produto e não se trata da qualidade desse produto. Trata-se unicamente de arranjar/convencer pessoas para entrarem por baixo de si na pirâmide, por forma a receber comissões/prémios.

Entenda que não é um trabalho para todos (para mim não é um trabalho sequer). Há quem se dê muito bem a fazê-lo e tenha jeito para o negócio, e há quem abomine completamente e deteste melgar amigos e familiares.

Veja que tipo de pessoa você é.

7 - Não decida por simpatia

Não decida para agradar à pessoa que lhe está a propor o negócio. Essa pessoa pode até não saber em que é que está metido. Não ligue ao argumento "juntos vamos conseguir". O sucesso do negócio não depende apenas dessa variável.

Tente informar-se antes de entrar. Pode até ser que consiga dissuadir, através de argumentos válidos, a pessoa que o está a aliciar.

8- Não acredite em nada do que eu digo

Posso estar a querer enganá-lo com esta argumentação toda. Por isso, contacte as autoridades reguladoras.

Se tiver dúvidas sobre a legalidade da proposta, contacte a DECO (Associação de Defesa do Consumidor: http://www.deco.proteste.pt/

Faça-lhes um telefonema, mesmo que não seja sócio. Tem direito a colocar duas perguntas. Explique-lhes o negócio que lhe propuseram e peça-lhe aconselhamento.

tel. 808 200 145 (linha azul)

Contacte a sua repartição de finanças para saber como vai ser tributado. Não aceite receber comissões ser estar inscrito como trabalhador independente. Pode ser multado no ano seguinte.


Contacte a ASAE. Entidade reguladora dos bom funcionamento dos agentes económicos, entidade a quem cabe fiscalizar as "vendas em pirâmide". Eles são demorados a responder, mas creio que terá todo o interesse em esperar pela resposta.

http://www.asae.pt/

Autoridade de Segurança Alimentar e Económica
Av. Conde de Valbom, 98
1050-070 Lisboa
Tel 21 798 3600
Fax 21 798 3654
Email: correio.asae@asae.pt


segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Crónica de uma Morte Anunciada III

Breve Explicação do Esquema da(s) Pirâmide(s)


- 3ª parte -

O final do ciclo - O ponto de saturação

A dada altura no tempo, não se sabe bem quando (a Agel prevê 2020, mas pode ser já para o ano que vêm), o mercado português atingirá o ponto de saturação quanto às adesões à rede da pirâmide. Quer isto dizer que a não há procura nenhuma para a oferta disponível, e não há mais ninguém a querer entrar para o negócio.
A nossa pirâmide, se se recordam da mensagem anterior, está neste momento com cerca 525.000 membros inscritos. Não sei se é uma estimativa adequada ou não. Foi um número que lancei ao calhas (é aprox. 5% da população total portuguesa). O número exacto, mesmo que pudesse ser calculado, não seria importante para a esta conclusão.
Pegando nesta estimativa, temos, em números aproximados, 33.000 membros a ganharem dinheiro suficiente para pagarem os custos mensais do produto. Temos outros 33.000 membros numa posição intermédia - alguns se calhar a ganhar, outros nem por isso, e temos os restantes 459.000 em posição de perda, com especial relevo para os 262.000 da última camada hierárquica. É desta forma que o dinheiro entra para os cofres da Agel. Com uma grande parte dos inscritos, em situação de prejuízo, a pagarem a maior fatia do bolo, e ainda a contribuirem directamente para a riqueza dos que estão nas camadas de cima (é, como disse na primeira mensagem do blog, o espelho de uma sociedade decante e desacreditada). Melhor ainda: a Agel fez as coisas de modo a convencer tudo e todos que a troca é justa. Afinal de contas, ninguém está de facto a ter prejuízo, porque a única coisa que estão a fazer é uma compra - uma troca de dinheiro por produtos - é justo, certo?. Pois. Não nos podemos é esquecer de uma outra realidade paralela. Quem se inscreveu neste negócio, e concordou de livre vontade "comprar" 60€ ou 120€ de produtos por mês, fê-lo não pela crença no produto em si, mas muito provavelmente na esperança de poder vir a ganhar dinheiro com o negócio da pirâmide. Fê-lo com a ideia de poder vir a angariar mais membros para colocar por baixo de si e vir a ter rendimento a partir dessa lógica. Fê-lo porque foi aliciado pelo marketing enfabulado da Agel. Fê-lo porque lhe disseram, por escrito, ispis verbis, que na Agel "você consegue fazer sempre dinheiro com o seu volume de organização" (retirado do site de um "distribuidor" Agel). Fê-lo porque acreditou, em certa altura do percurso, que podia melhorar a sua vida a ponto de comprar um carro topo de gama e viajar duas vezes por ano para um destino qualquer paradisíaco.
Tudo muito bem pensado. Tudo muito bem arquitectado. É genial, de facto. Tenho de me render às evidências.
De volta aos nossos cálculos, algumas percentagens rápidas:

525.000 = 100% - Total de inscritos na pirâmide.

33.000 = 6,5% - Total de inscritos com "lucro" mensal, e, - Total de inscritos "na fronteira".

459.000 = 87% - Total de inscritos com "prejuízo" mensal.

262.000 = 50% - Total de inscritos só com "perdas" mensais.

Estão aí os valores para quem fica a ganhar alguma coisa e para quem fica a perder alguma coisa no final de tudo. Creio que não tenho de acrescentar mais nada aos meus argumentos sobre a honestidade da Agel, uma empresa que sabe o que acontece quando a saturação é atingida e mesmo assim opta por este esquema de negócio. É irónico que o produto que estão a vender seja publicitado como sendo benéfico para a saúde. O lema da Agel bem que poderia ser: "Preocupamos-nos muito com a sua saúde, e ainda mais com a sua carteira."

O Colapso

O momento de saturação do mercado é inevitável. O que não sabemos é quando vai acontecer e com quanta gente na pirâmide vai acontecer.
A pergunta que todo gostaríamos de ver respondida neste momento é: o que é que as pessoas que ficaram por baixo das outras todas na pirâmide, dois ou três meses mais tarde, quando repararem que não entra ninguém para rede, vão fazer?
Há quem defenda que vão começar a vender os produtos para rentabilizar o investimento e suplantarem os custos mensais.
A mim, sinceramente, não me parece. Esse pessoal todo está sedento de dinheiro. Esse pessoal todo já viu o que é que os amigalhaços lá de cima andam a ganhar por mês sem fazerem nenhum. Esse pessoal inscreveu-se porque pensou que ia ser a mesma coisa. Lucro fácil em pouco tempo. Quando cairem em si e virem que não há dinheiro para todos, quando virem que aquelas promessas todas que lhes contaram nos vídeos eram trafulhice, que o "plano de compensações" era apenas uma metáfora viscosa para "conto do vigário", a minha aposta é: vão começar a desistir. Estou mesmo a imaginar aqueles que aderiram ao plano "executivo": três posições dispostas em triângulo nas últimas camadas da pirâmide a gerarem um lucro acumulado de exactamente NADA.
Vão vender o produto a quem? À família? Aos Amigos? Àqueles que se recusaram a entrar na rede? Ná!... Isso seria parecido a irem à loja de produtos diatéticos da esquina, comprarem uns tantos artigos, e depois venderam mais caro à família e aos amigos. Além disso, este pessoal tem pouca pinta de vendedor. Não estão para perder tempo a tentarem vender 20 ou 30 pacotes de gel para ganharem um tusto ou dois todos os meses. Não! A mama acabou nesse instante. Vão começar a desistir. Um a um. Duzentas e tal mil pessoas a desistirem uma a uma, de um momento para o outro. Pode demorar uns meses. Mas pode acontecer.
A partir daqui, é fácil imaginar o resto. A camada de baixo desaparece, e a seguinte é promovida a última. Havia 19, agora há 18. Daí a um mês, se calhar, já só há 17. E por aí fora.
A pirâmide pode implodir. Pode regredir de volta para o início. Algures nessa caminhada, vai desmanchar-se em pedaços.
A Agel, nessa altura, já de bolsos bem volumosos, vai dizer adeus ao mundo.
A história, contudo, tem uma lição diferente para nos contar: em grandes empresas de MLM (Amway, Herbalife, Nu Skin), o que acontece no ponto de saturação é que a maior parte dos interessado desiste de facto ao fim de alguns meses de actividade, mas há logo mais pessoas interessadas em entrar para a rede. Por outras palavras, o pessoal que está no topo da pirâmide mantém-se inalterado, sempre a ganharem dinheiro à custa das novas adesões, e as camadas de baixo em constante rotação anual. No caso da Herbalife, por exemplo, a taxa global de rotação de "distribuidores" é de 80% por ano, e de 98,5% a cada 14 meses... Por estes valores, chegamos à rápida conclusão de que muito mais de 90% dos inscritos na rede acabam, de facto por perder dinheiro. Segundo estudos específicos sobre o assunto, os valores atingem 99,9%.





Considerações finais:

Como alguns repararam, a Agel nunca poderia pagar um tão grande valor de comissões todos os meses. Com valores dessa magnitude, nem o custo de produção dos artigo poderia suportar. O cálculo de pagamentos de comissões foi sobre-avaliado. O cenário real é pior ainda que o teórico. Há menos dinheiro a ser "devolvido" aos inscritos. Esta discrepância nos cálculos deveu-se à impossibilidade de incluir outros métodos de comissões e prémios na explicação, para não complicar o modelo.

Outra crítica a apontar a este modelo é a simetria do triângulo. Na vida real não acontece assim. Há braços que crescem mais que outros. Seria uma grande confusão tentar representar um modelo desses. As conclusões, no entanto, não mudariam: os últimos três/quatro níveis estariam em situação de prejuízo.

Outro assunto para pensar: Uma pirâmide VS várias pirâmides.
Se imaginarmos que os três ou quatro primeiros níveis de uma pirâmide são propriedade da empresa, as coisas ficam mais engraçadas ainda. Retirando 8, ou 16, ou 32 pessoas do topo da pirâmide, a Agel, para além de poupar nas comissões milionárias, consegue dividir a pirâmide em várias. E seria muito ingénuo pensar que não foram iniciadas várias pirâmides em simultâneo em diferentes locais e entre diferentes grupos sociais. Com várias redes a operar em paralelo, há muito mais hipóteses de inscrever novos membros.

Até a data, ainda não vi nenhuma tentativa de explicação "do futuro", igual ou diferente desta, por parte de qualquer representante da Agel. Dá que pensar. O desafio, no entanto, mantém-se. Mostrem-me um esquema que espelhe de forma mais acertada tudo aquilo que estou a dizer. Corrijam os meus erros de cálculo (porque sei que os tenho) . Apresentem a vossa (Agel) versão dos factos.

Em alternativa, num esquema de Vendas Directas decente e honesto, há algumas subtis diferenças de estilo. Por exemplo, não há pagamentos periódicos obrigatórios. Uma pessoa pode pertencer à pirâmide e não estar nunca a perder dinheiro. A pirâmide não se desmancha porque os últimos níveis não têm motivos para desistência massiva. Outro exemplo é a forma de cálculo das comissões. Em vez de serem feitas em função das compras dos membros abaixo, são feitas em função das vendas que esses membros fazem para fora da rede. O produto vendido concorre com outros produtos no mercado geral, embora com um circuito de distribuição diferente. Há respeito pelas regras da livre concorrência. Não se ouve falar em fraude em blogs como este, nem em má reputação, nem anda meio povo a insultar os que denunciam práticas menos próprias.