sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Fui contactado pela Agel. O que faço?

---EDIT--- 09/04/2008---

Na altura em que a mensagem seguinte foi colocada no blog, a DECO e a ASAE ainda não haviam respondido por escrito a uma série de questões sobre a legalidade do negócio da Agel. Entretanto, e à data de hoje, essas respostas existem e já foram publicadas neste blog:

1 - perguntas
2 - respostas DECO
3 - respostas ASAE
4 - os meus comentários

Assim por alto: o negócio da Agel é um ESQUEMA DE VENDAS EM PIRÂMIDE. ESTÁ ILEGAL SEGUNDO A LEGISLAÇÃO PORTUGUESA. CADA MEMBRO DA REDE QUE SE DEDIQUE A PROMOVER O NEGÓCIO ESTÁ TAMBÉM EM INCUMPRIMENTO COM A LEI.

-----End EDIT-----


1 - Não adira logo ao negócio. Espere uns dias. Se não tem bem a certeza, pense no caso.

Esta é a regra base ditada pelo senso comum em qualquer situação que envolva um aliciamento e/ou uma troca de dinheiro.

Se foi contactado pela Agel, é muito provável que lhe tenham dito que "quanto mais cedo se inscrever, melhor", que "dessa forma ficará acima dos que vierem a seguir e recuperará o investimento mais depressa".

É também provável que a pessoa que o aliciou - um amigo, um familiar, um colega de trabalho, um representante da Agel - o esteja a contactar a torto e a direito para ver se "sempre quer entrar ou não".

A introdução do factor "pressa" numa venda é uma estratégia muito utilizada por comercias e vendedores. Os consumidores, de cabeça quente, tendem a decidir as coisas "na hora". Quem é que nunca foi àquelas apresentações de vendas de apartamentos de férias "uma semana por ano" - vulgo "time-sharing"? Nessas apresentações, ao fim de duas horas de conversa de vendedor, apresentavam-nos um preço exorbitante, mas faziam 50% de desconto se comprássemos naquele mesmo dia.

Não decida à pressa. Decidir à pressa é decidir com base na emoção. Decidir com tempo é decidir com base na razão. Pondere muito bem os prós e os contras. Nos Estados Unidos da America, está para ser aprovada uma lei que dita que ninguém pode forçar outrem a aderir um negócio sem ter pelo menos 7 dias de reflexão.

Não se inscreva - esse é o meu conselho - sobretudo considerando que se trata de um negócio que um dia pode fechar por estar ilegal.

2 - Leia bem o contrato que lhe passarem para as mãos.

É a segunda regra ditada pelo bom senso. Não assinem nada que não saibam o que é que diz.

O contrato da Agel, à data desta mensagem, não foi traduzido para português, apesar da empresa operar em Portugal há cerca de um ano.

A Agel, apesar de operar no mercado nacional, não tem representação em Portugal.

Se não entender inglês, peça para levar uma cópia consigo e peça a um amigo para lhe traduzir o que lá está.

Tente identificar omissões no contrato. Nomeadamente, esteja atento a omissões relativas ao esquema de ganhos de comissões e a todos os prémios propostos no "plano de compensações". Se não diz no contrato quais são as regras que lhe permitem ganhar dinheiro com o negócio, como é que sabe que vão ser respeitadas? É possível que essas regras não venham mencionadas por questões legais - se viessem, seriam facilmente identificadas como pertencentes a um "esquema em pirâmide", proibido por lei em Portugal.

Tente perceber como é que a Agel lida com as vendas de produtos para fora da rede. É possível que na reunião lhe tenham dito que uma das maneiras de rentabilizar o investimento é vender o produto. Perceba que, no contrato, a Agel estabelece que não pode haver vendas dos seus produtos em estabelecimento comerciais a retalho (vulgo: lojas). A existirem vendas, será para amigos e conhecidos.

3 - Questione a veracidade daquilo que lhe contaram quando lhe apresentaram o esquema de comissões

Tente perceber muito nem como é que pode ganhar o dinheiro que eles propõem. A maior parte das "8 maneiras de ganhar" dinheiro através da Agel, nunca será alcançável pela maioria das pessoas. Questione e entenda o esquema dos 10% da "perna mais curta". Se não percebeu bem, tire logo as suas dúvidas. Entenda que não vai ganhar dinheiro nenhum se não recrutar ninguém para entrar, mesmo que o seu upline o faça por si.

Não se fie nos valores apresentados. É normal atirarem-lhe à cara com milhares e milhares de euros por mês. Esqueça isso. Para mais de 90% dos inscritos isso nunca vai acontecer. É possível ganhar dinheiro com o esquema, de facto, pelo menos para algumas pessoas, mas nunca vai ser nas proporções e números apresentados por eles.

Desconfie de quem diz estar a ganhar isto e aquilo por mês. Não acredite em nada sem lhe mostrarem os extractos de conta de vários meses e os respectivos recibos verdes a declarar a entrada desse dinheiro.

Lembre-se que está a lidar com profissionais de vendas. Aquelas pessoas que estão a falar nas reuniões estão a ganhar dinheiro para o convencerem a entrar. E são bons no que fazem.

4 - Informe-se sobre os "esquemas em pirâmide".

Saiba como funcionam e porque é que são fraudulentos. Não acredite quando lhe disserem que a Agel não funciona em pirâmide. Estude por si e tire as suas conclusões. Atente em dois pontos fulcrais: a obrigatoriedade de pagamentos periódicos (seja por conta de compras de produtos seja para receber comissões, seja por que motivo for), e a existência efectiva de vendas de produtos para fora da rede de associados.

5- Não deixe o seu emprego.

Se estiver a trabalhar numa base regular, não deixe a sua fonte de rendimento em altura alguma.

Se estiver desempregado, cuidado com a abertura de actividade para os recibos verdes que terá de passar à Agel. Significa que deixa de poder receber o subsídio de desemprego.

6 - Perceba em que consiste "trabalhar" para a Agel

Ser colaborador da Agel significa contactar todas as pessoas que conhece e propor-lhes o mesmo aliciamento que lhe propuseram a si. Não se trata de vender um produto e não se trata da qualidade desse produto. Trata-se unicamente de arranjar/convencer pessoas para entrarem por baixo de si na pirâmide, por forma a receber comissões/prémios.

Entenda que não é um trabalho para todos (para mim não é um trabalho sequer). Há quem se dê muito bem a fazê-lo e tenha jeito para o negócio, e há quem abomine completamente e deteste melgar amigos e familiares.

Veja que tipo de pessoa você é.

7 - Não decida por simpatia

Não decida para agradar à pessoa que lhe está a propor o negócio. Essa pessoa pode até não saber em que é que está metido. Não ligue ao argumento "juntos vamos conseguir". O sucesso do negócio não depende apenas dessa variável.

Tente informar-se antes de entrar. Pode até ser que consiga dissuadir, através de argumentos válidos, a pessoa que o está a aliciar.

8- Não acredite em nada do que eu digo

Posso estar a querer enganá-lo com esta argumentação toda. Por isso, contacte as autoridades reguladoras.

Se tiver dúvidas sobre a legalidade da proposta, contacte a DECO (Associação de Defesa do Consumidor: http://www.deco.proteste.pt/

Faça-lhes um telefonema, mesmo que não seja sócio. Tem direito a colocar duas perguntas. Explique-lhes o negócio que lhe propuseram e peça-lhe aconselhamento.

tel. 808 200 145 (linha azul)

Contacte a sua repartição de finanças para saber como vai ser tributado. Não aceite receber comissões ser estar inscrito como trabalhador independente. Pode ser multado no ano seguinte.


Contacte a ASAE. Entidade reguladora dos bom funcionamento dos agentes económicos, entidade a quem cabe fiscalizar as "vendas em pirâmide". Eles são demorados a responder, mas creio que terá todo o interesse em esperar pela resposta.

http://www.asae.pt/

Autoridade de Segurança Alimentar e Económica
Av. Conde de Valbom, 98
1050-070 Lisboa
Tel 21 798 3600
Fax 21 798 3654
Email: correio.asae@asae.pt


segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Crónica de uma Morte Anunciada III

Breve Explicação do Esquema da(s) Pirâmide(s)


- 3ª parte -

O final do ciclo - O ponto de saturação

A dada altura no tempo, não se sabe bem quando (a Agel prevê 2020, mas pode ser já para o ano que vêm), o mercado português atingirá o ponto de saturação quanto às adesões à rede da pirâmide. Quer isto dizer que a não há procura nenhuma para a oferta disponível, e não há mais ninguém a querer entrar para o negócio.
A nossa pirâmide, se se recordam da mensagem anterior, está neste momento com cerca 525.000 membros inscritos. Não sei se é uma estimativa adequada ou não. Foi um número que lancei ao calhas (é aprox. 5% da população total portuguesa). O número exacto, mesmo que pudesse ser calculado, não seria importante para a esta conclusão.
Pegando nesta estimativa, temos, em números aproximados, 33.000 membros a ganharem dinheiro suficiente para pagarem os custos mensais do produto. Temos outros 33.000 membros numa posição intermédia - alguns se calhar a ganhar, outros nem por isso, e temos os restantes 459.000 em posição de perda, com especial relevo para os 262.000 da última camada hierárquica. É desta forma que o dinheiro entra para os cofres da Agel. Com uma grande parte dos inscritos, em situação de prejuízo, a pagarem a maior fatia do bolo, e ainda a contribuirem directamente para a riqueza dos que estão nas camadas de cima (é, como disse na primeira mensagem do blog, o espelho de uma sociedade decante e desacreditada). Melhor ainda: a Agel fez as coisas de modo a convencer tudo e todos que a troca é justa. Afinal de contas, ninguém está de facto a ter prejuízo, porque a única coisa que estão a fazer é uma compra - uma troca de dinheiro por produtos - é justo, certo?. Pois. Não nos podemos é esquecer de uma outra realidade paralela. Quem se inscreveu neste negócio, e concordou de livre vontade "comprar" 60€ ou 120€ de produtos por mês, fê-lo não pela crença no produto em si, mas muito provavelmente na esperança de poder vir a ganhar dinheiro com o negócio da pirâmide. Fê-lo com a ideia de poder vir a angariar mais membros para colocar por baixo de si e vir a ter rendimento a partir dessa lógica. Fê-lo porque foi aliciado pelo marketing enfabulado da Agel. Fê-lo porque lhe disseram, por escrito, ispis verbis, que na Agel "você consegue fazer sempre dinheiro com o seu volume de organização" (retirado do site de um "distribuidor" Agel). Fê-lo porque acreditou, em certa altura do percurso, que podia melhorar a sua vida a ponto de comprar um carro topo de gama e viajar duas vezes por ano para um destino qualquer paradisíaco.
Tudo muito bem pensado. Tudo muito bem arquitectado. É genial, de facto. Tenho de me render às evidências.
De volta aos nossos cálculos, algumas percentagens rápidas:

525.000 = 100% - Total de inscritos na pirâmide.

33.000 = 6,5% - Total de inscritos com "lucro" mensal, e, - Total de inscritos "na fronteira".

459.000 = 87% - Total de inscritos com "prejuízo" mensal.

262.000 = 50% - Total de inscritos só com "perdas" mensais.

Estão aí os valores para quem fica a ganhar alguma coisa e para quem fica a perder alguma coisa no final de tudo. Creio que não tenho de acrescentar mais nada aos meus argumentos sobre a honestidade da Agel, uma empresa que sabe o que acontece quando a saturação é atingida e mesmo assim opta por este esquema de negócio. É irónico que o produto que estão a vender seja publicitado como sendo benéfico para a saúde. O lema da Agel bem que poderia ser: "Preocupamos-nos muito com a sua saúde, e ainda mais com a sua carteira."

O Colapso

O momento de saturação do mercado é inevitável. O que não sabemos é quando vai acontecer e com quanta gente na pirâmide vai acontecer.
A pergunta que todo gostaríamos de ver respondida neste momento é: o que é que as pessoas que ficaram por baixo das outras todas na pirâmide, dois ou três meses mais tarde, quando repararem que não entra ninguém para rede, vão fazer?
Há quem defenda que vão começar a vender os produtos para rentabilizar o investimento e suplantarem os custos mensais.
A mim, sinceramente, não me parece. Esse pessoal todo está sedento de dinheiro. Esse pessoal todo já viu o que é que os amigalhaços lá de cima andam a ganhar por mês sem fazerem nenhum. Esse pessoal inscreveu-se porque pensou que ia ser a mesma coisa. Lucro fácil em pouco tempo. Quando cairem em si e virem que não há dinheiro para todos, quando virem que aquelas promessas todas que lhes contaram nos vídeos eram trafulhice, que o "plano de compensações" era apenas uma metáfora viscosa para "conto do vigário", a minha aposta é: vão começar a desistir. Estou mesmo a imaginar aqueles que aderiram ao plano "executivo": três posições dispostas em triângulo nas últimas camadas da pirâmide a gerarem um lucro acumulado de exactamente NADA.
Vão vender o produto a quem? À família? Aos Amigos? Àqueles que se recusaram a entrar na rede? Ná!... Isso seria parecido a irem à loja de produtos diatéticos da esquina, comprarem uns tantos artigos, e depois venderam mais caro à família e aos amigos. Além disso, este pessoal tem pouca pinta de vendedor. Não estão para perder tempo a tentarem vender 20 ou 30 pacotes de gel para ganharem um tusto ou dois todos os meses. Não! A mama acabou nesse instante. Vão começar a desistir. Um a um. Duzentas e tal mil pessoas a desistirem uma a uma, de um momento para o outro. Pode demorar uns meses. Mas pode acontecer.
A partir daqui, é fácil imaginar o resto. A camada de baixo desaparece, e a seguinte é promovida a última. Havia 19, agora há 18. Daí a um mês, se calhar, já só há 17. E por aí fora.
A pirâmide pode implodir. Pode regredir de volta para o início. Algures nessa caminhada, vai desmanchar-se em pedaços.
A Agel, nessa altura, já de bolsos bem volumosos, vai dizer adeus ao mundo.
A história, contudo, tem uma lição diferente para nos contar: em grandes empresas de MLM (Amway, Herbalife, Nu Skin), o que acontece no ponto de saturação é que a maior parte dos interessado desiste de facto ao fim de alguns meses de actividade, mas há logo mais pessoas interessadas em entrar para a rede. Por outras palavras, o pessoal que está no topo da pirâmide mantém-se inalterado, sempre a ganharem dinheiro à custa das novas adesões, e as camadas de baixo em constante rotação anual. No caso da Herbalife, por exemplo, a taxa global de rotação de "distribuidores" é de 80% por ano, e de 98,5% a cada 14 meses... Por estes valores, chegamos à rápida conclusão de que muito mais de 90% dos inscritos na rede acabam, de facto por perder dinheiro. Segundo estudos específicos sobre o assunto, os valores atingem 99,9%.





Considerações finais:

Como alguns repararam, a Agel nunca poderia pagar um tão grande valor de comissões todos os meses. Com valores dessa magnitude, nem o custo de produção dos artigo poderia suportar. O cálculo de pagamentos de comissões foi sobre-avaliado. O cenário real é pior ainda que o teórico. Há menos dinheiro a ser "devolvido" aos inscritos. Esta discrepância nos cálculos deveu-se à impossibilidade de incluir outros métodos de comissões e prémios na explicação, para não complicar o modelo.

Outra crítica a apontar a este modelo é a simetria do triângulo. Na vida real não acontece assim. Há braços que crescem mais que outros. Seria uma grande confusão tentar representar um modelo desses. As conclusões, no entanto, não mudariam: os últimos três/quatro níveis estariam em situação de prejuízo.

Outro assunto para pensar: Uma pirâmide VS várias pirâmides.
Se imaginarmos que os três ou quatro primeiros níveis de uma pirâmide são propriedade da empresa, as coisas ficam mais engraçadas ainda. Retirando 8, ou 16, ou 32 pessoas do topo da pirâmide, a Agel, para além de poupar nas comissões milionárias, consegue dividir a pirâmide em várias. E seria muito ingénuo pensar que não foram iniciadas várias pirâmides em simultâneo em diferentes locais e entre diferentes grupos sociais. Com várias redes a operar em paralelo, há muito mais hipóteses de inscrever novos membros.

Até a data, ainda não vi nenhuma tentativa de explicação "do futuro", igual ou diferente desta, por parte de qualquer representante da Agel. Dá que pensar. O desafio, no entanto, mantém-se. Mostrem-me um esquema que espelhe de forma mais acertada tudo aquilo que estou a dizer. Corrijam os meus erros de cálculo (porque sei que os tenho) . Apresentem a vossa (Agel) versão dos factos.

Em alternativa, num esquema de Vendas Directas decente e honesto, há algumas subtis diferenças de estilo. Por exemplo, não há pagamentos periódicos obrigatórios. Uma pessoa pode pertencer à pirâmide e não estar nunca a perder dinheiro. A pirâmide não se desmancha porque os últimos níveis não têm motivos para desistência massiva. Outro exemplo é a forma de cálculo das comissões. Em vez de serem feitas em função das compras dos membros abaixo, são feitas em função das vendas que esses membros fazem para fora da rede. O produto vendido concorre com outros produtos no mercado geral, embora com um circuito de distribuição diferente. Há respeito pelas regras da livre concorrência. Não se ouve falar em fraude em blogs como este, nem em má reputação, nem anda meio povo a insultar os que denunciam práticas menos próprias.

sábado, 24 de novembro de 2007

Crónica de uma Morte Anunciada II

Breve Explicação do Esquema da(s) Pirâmide(s)

(Ou: Porque é que eu acho que a AGEL é uma empresa desonesta, porque é que o negócio pode assentar numa fraude sócio-económica, e porque é que algumas das informações que vos são passadas por "distribuidores" da empresa são trafulhice).


------------------------------ EDIT 28/02/2008
A explicação que se segue está carregadinha de erros de pormenor (a questão da conversão para VC, por exemplo, e a inexistência da comissão de 8% sobre os patrocinados directos) - no entanto, decidi não emendar nada por duas razões fundamentais:

1 - Esta foi a minha percepção da realidade depois de me terem explicado duas vezes o plano de compensações - creio que muita gente que é aliciada fica exactamente na minha situação - sem perceber ao certo muitos dos valores e dos cálculos envolvidos.

2 - As conclusões finais a que pretendo chegar mantêm-se inalteradas, apesar dos erros nos cálculos.

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- 2ª parte -

No "Plano Básico" da Agel, a coisa funciona assim:

- Pagamos 240€ pela adesão e recebemos logo 4 caixas com o produto (120 pacotes de gel).

- Ficamos com direito a explorar 1 centro de negócio.

- 1 Centro de negócio significa que entramos na pirâmide com apenas dois "braços", e podemos "angariar" novos colaboradores para colocar por baixo desses braços.

- Pagamos mensalmente o valor de 60€ à Agel. Em troca recebemos 1 caixa de produto. Este valor é de pagamento mensal mínimo obrigatório para podermos receber commissões.

- Podemos receber "comissões" de duas maneiras essenciais: a) por cada nova pessoa que inscrevermos na rede - e que fica abaixo de nós na pirâmide (8% sobre a mensalidade); b) por cada compra que essas pessoas fazem todos os meses (10% sobre a mensalidade).

- Estas "comissões" são calculadas apenas em função do nosso "braço" menos rentável.

Para comodidade/simplificação da explicação seguinte, assumi que:
- A qualquer momento da escala temporária, os "braços" têm a mesma rentabilidade, i.e., em cada um deles há a mesma quantidade de membros inscritos
- Cada pessoa que entra consegue colocar, apenas e só, mais duas pessoas na pirâmide.
- Os valores apresentados nas imagens representam 120€ de pagamento mensal.
- Não há valor de encomenda inicial. Estou a fazer cálculos logo com as prestações por ciclo.
- Não há "Planos Executivos" representados, devido à sua complexidade nos cálculos.
- Ninguém vende o produto para fora da rede.
(no modelo real, estes factores todos variam)


O Início de Tudo - o Big Bang

Num dado momento do tempo (chamemos-lhe momento 0), a Agel inicia uma pirâmide e coloca lá um membro. Esse membro fica a pagar 120€ por mês e em troca, recebe 2 caixas de pacotes de sumo. Como não há mais membros abaixo dele, não tem nenhuma fonte de rendimento.



Num dado momento 1, forma-se o segundo nível hierárquico da pirâmide. O primeiro membro já conseguiu colocar duas pessoas por baixo dele. Cada membro contribui com 120€ por mês - a Agel está a ter 360€ de receitas, e, em contrapartida, o primeiro membro começa a receber comissões do seu "braço" mais fraco: 10% de 120€ (valor sobre as compras do membro abaixo, lado direito) e mais 8% de 120€ (valor por ter colocado esse mesmo membro).


Num dado momento 2, forma-se o terceiro nível hierárquico da pirâmide, constituido por 4 novos membros. Por mês, a Agel passa a receber 120€ de um total 7 membros, e passa a pagar comissões a 3 desses membros. O primeiro membro recebe 10% do valor de compras do seu braço mais fraco, e mais 8% por ter inscrito um membro nesse braço. Ainda não há nenhum membro a receber o suficiente para ter lucro.



Num dado momento 4, (saltei por cima do três, que era muito parecido com o 2), já temos cinco níveis hierárquicos na pirâmide. A novidade é que já há uma pessoas a ter lucro. O primeiro de todos os membros a entrarem no esquema, está com saldo positivo. Para esta pessoa estar a ganhar dinheiro, temos trinta outras que estão a ter prejuízo. Reparem na receita da AGEL...



O ponto de Saturação

Num dado momento n, teremos atingido o 19º nível hierárquico da pirâmide. Nesta altura há cerca de 525.000 membros inscritos no esquema, metade deles no último nível da pirâmide. Quanto a contas, por esta altura a Agel está a receber de receitas brutas mensais cerca de 63.000.000€, e está a pagar, em termos de comissões, cerca de 56.000.000€, ficando com um saldo positivo de cerca de 7.000.000€. Neste momento n, ninguém no último nível da pirâmide está a receber comissão alguma, os dois níveis imediatamente a acima não estão a receber o suficiente para pagar o investimento, e o quarto nível a contar do fim está em equilíbrio precário (vamos imaginar que não há lucro nem prejuízo para esses).


Vamos também supor que por esta altura o mercado português atinge o seu ponto de saturação (ver gráfico na mensagem anterior). Não se conseguem angariar mais membros para a pirâmide. O pessoal dos últimos níveis bem que tenta, mas ninguém lhes dá pala.

O que acontece depois?

(continua na próxima mensagem)

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Crónica de uma Morte Anunciada

Breve Explicação do Esquema da(s) Pirâmide(s)
"Tudo o que sobe torna a descer" - Adaptado da "Lei de Murphy" aplicada à aeronáutica


- 1ª parte -

O seguintes artigos tem por finalidade explicar a insustentabilidade de um esquema de pirâmides e a sua faceta de negócio fraudulento. Iremos ver como cresce (desordenada e aleatória) uma pirâmide, quem ganha e quem perde dinheiro com o seu crescimento, e como tudo pode acabar por regredir de volta para o zero, no final, quando já não houver mercado para conquistar (fase de saturação do ciclo).

A Agel utiliza uma estrutura muito parecida à que vão ver já de seguida.

Para introduzir o assunto, comecemos por analisar o gráfico de crescimento do negócio, utilizado pela própria Agel numa apresentação de Powerpoint construída para nos aliciar a entrar:



No eixo das abcissas temos a escala temporal (2006-2020), e no eixo das ordenadas temos o volume de "vendas", numa unidade monetária que suspeito ser o dólar. (nota: o crescimento da linha verde no gráfico equivale à adição de novos membros às pirâmides existentes - quantos mais membros, mais sobem as "vendas").

A Agel, na minha opinião, pretende fazer passar várias mensagens através deste gráfico, algumas das quais de forma encoberta.

A primeira mensagem, perfeitamente visível, é a de que o projecto está em fase de arranque (rectângulo azul, 2006), que irá conhecer uma expansão brutal daí a muito pouco tempo, e que essa fase de expansão durará vários anos até o mercado ficar saturado (período 2008-2020). Logo, se aderirmos rapidamente ao negócio, a probabilidade de virmos a ter muita gente a entrar por baixo de nós é grande: o nosso lucro vai crescer exponencialmente. Até aqui, tudo muito lógico. Faz sentido. Numa pirâmide baseada em recrutamento, o esquema funciona bem para quem entra no início.

A segunda mensagem que pretendem passar (encoberta) é de que a fase de saturação só é atingida ao final de uns 10-15 anos. Eles não insistem muito neste ponto, mas a informação está lá, no eixo das abcissas, com os valores dos anos 2006, 2008 e 2020.

A coisa começa a correr mal com esta mensagem. Pergunta: o mercado demora 10-15 anos a saturar por ordem de quem? Um esquema em pirâmide é de crescimento totalmente imprevisível. É como os átomos radioactivos libertados numa explosão nuclear. Não se podem fazer extrapolações com base noutros modelos. Por outro lado, também não sabemos a taxa de penetração do negócio Agel no mercado. Tanto pode ser de 10% como de 90%. É uma incógnita. Resumindo, é impossível dizer se o negócio chega à saturação em um, em dois, ou em dez ou quinze anos. Até pode ser daí a dois ou três meses. A mesma coisa se passa em relação ao volumes de "vendas". É impossível fazer uma previsão. Os valores apresentados estão forçosamente manipulados.

Há algum estudo de mercado feito para comprovar os valores? Nenhum foi divulgado!

A terceira mensagem (encoberta) diz-nos que uma vez atingida a fase de saturação, a pirâmide estabiliza. De facto, o gráfico pára nesse preciso local. Não há mais gráfico depois disso. Então, o que acontece depois? É muito simples. Quando já não houver ninguém a querer entrar para a pirâmide, o modelo cai. Quando os alicerces de uma casa cedem, toda ela se desmancha.

A quarta mensagem (também encoberta) é a de que existem "vendas"... Para que fique claro para todos: as únicas "vendas" que vão acontecer ao longo do tempo são as que Agel vai fazer aos seus membro. Ninguém vai vender o produto para fora da rede. Seria uma espécie de suicídio económico fazê-lo - abrir uma sociedade em condições para o fazer custa dinheiro. Admito que uma pequena percentagem de pessoas venha a vender uma parte do produto, mas será sempre feito à margem da lei, a amigos e conhecidos, e nunca como forma de recuperar o investimento.
"Vendas", no contexto deste gráfico, significa grosso modo "membros inscritos nas pirâmides". Pessoas na rede a quem a Agel VENDE os produtos.

(continua na próxima mensagem)

Ficções

ficcionalização - isto não aconteceu (mas poderia ter acontecido)

Exmos. Senhores,

Aderi há cerca de um mês ao vosso negócio através da opção “plano executivo”, e já recebi em casa as vossas 16 caixas de produto.
O que se passa é o seguinte:
Durante estas quatro semanas, e na prossecução da tentativa de angariar mais clientes para a rede, entrei em contacto com todas as pessoas que conheço, familiares, amigos, colegas de trabalho e até alguns vizinhos. Mas todo o meu trabalho foi em vão. Alguns disseram-me para ir pentear macacos, outros para ir ver se chovia lá fora, outros para ir dar uma volta ao bilhar grande, e houve até um vizinho que me disse para me ir atirar ao rio.
Como não consegui, para já, rentabilizar o negócio através deste processo, como não tenho estabelecimento comercial nem licença para ter loja aberta, e como até nem gosto muito do sabor dos sumos, a minha pergunta é: O QUE É QUE EU FAÇO COM ISTO TUDO?

Melhores Cumprimentos,

Adélio Mendes, Lisboa, Portugal


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Exmo. Senhor,

Agradecemos desde já a sua preferência pelas nossas marcas, e fazemos votos para uma longa e próspera associação.
Em resposta à sua pergunta, uma vez que o prazo para processamento de devoluções, lamentavelmente, já terminou, e aqui para nós que ninguém nos ouve, o senhor pode fazer uma de várias coisas:
1 – Tentar vender o produto na Feira da Ladra ou na Feira do Relógio. É sabido que, nesses locais de venda tradicional, as autoridades fazem vista grossa à ausência de facturas e recibos. De igual forma, as únicas preocupações das autoridades que por lá se encontram, todas à paisana, também é sabido, são: o tráfico de droga e as contrafacções de CD's e DVD's e de artigos de vestuário da Levis e da Nike. Ninguém vai reparar sequer em si ou nos seus sumos ridículos. Acredite. É que nesses locais ninguém sabe que eles existem.
2 - À semelhança da nossa primeira sugestão, pode tentar um circuito de venda alternativo: o das tascas e bares de bairro. Faça como aqueles africanos que andam de mochila às costas a vender girafas feitas de pau-brasil e imitações de óculos Ray-ban, à hora de almoço, de mesa em mesa. Olhe que é aquilo dá algum.
3 - Pensando na proximidade do Natal, pode embrulhar e enviar para todos aqueles amigos, familiares, e colegas de trabalho que não ligaram nenhuma à sua proposta de trabalho e ainda o insultaram. Quanto ao vizinho espertalhão que o mandou ir dar uma braçadas ao Tejo, e num acção de boa vontade e pacificação de atitude, pode deixar-lhe à porta duas caixas inteiras de gel de emagrecimento (é o único produto Agel que exige a toma de 2 saquetas por dia).
4 - Se nenhuma das anteriores sugestões for exequível, pode sempre largar tudo num daqueles contentores de lixo de meia tonelada. As autoridades sanitárias agradecem.

Com os melhores cumprimentos,

Agel

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Sinal dos Quatro

Quatro sintomas de Intrujice - "É elementar, meu caro Watson!"

Há várias maneiras de apanhar um esquema de pirâmides fraudulento, por mais encoberto que esteja, por mais nomes que lhe dêem, por mais vezes que berrem e afirmem: "Este não é um esquema de Pirâmides, é um negócio de Marketing de Rede legítimo." (aliás, quando ouvimos este chavão, é logo caso para desconfiar).

Apresento de seguida alguns possíveis medidores para o "Grau de Intrujice" (GI) de um negócio de Marketing Multinível.


1) O tipo de publicidade utilizada pela empresa mãe e seus associados

2) O plano de pagamentos exigido aos novos membros

3) O método de cálculo de comissões e a sua ligação às vendas do produto

4) As garantias apresentadas em caso de falência do negócio


Assim por alto:

Os números 1) e 2) serão, creio, os de mais fácil medição, bastando olhar ora para os vídeos, apresentações, e de um modo geral para todas as fabricações de marketing que a empresa nos coloca à frente, no caso do primeiro ponto, ora para a nossa conta bancária, no caso do segundo ponto.

A Agel oferece, sem nada prometer, mundos e fundos a quem entrar na rede. Basta que para isso sigam um determinado "Plano de Negócio" proposto. Esse plano de negócio pressupões, antes de tudo o resto, a necessidade de recrutarem mais membros para, numa primeira fase pagarem as vossas despesas, numa segunda fase construirem a vossa base de lucro e de "rendimento residual perpétuo". Para vos convencer a entrar na rede, a Agel vai dizer que a vossa vida é uma armadilha, que a sociedade, tal como está organizada, foi feita para vos fazer falhar, e que a mera aceitação passiva destes facto vos torna uns perdedores. Depois vai anunciar que o sistema Agel é a salvação possível, acenando com carros de luxo e com viagens a ilhas paradisíacas. Contudo, em mais de 90% dos casos, as pessoas vão perder o seu dinheiro. Esta parte eles não explicam - é matematicamente impossível que haja dinheiro para pagar a toda a gente.

Aos novos membros, e para além do pagamento inicial, não é exigido nada de muito dispendioso (têm de fazer uma encomenda mínima de 3 em 3 meses). Contudo, é incentivada a compra mensal de 2 caixas de produtos (ou até mesmo de 4), num valor equivalente a 130€, com o pressuposto de que o sistema funciona melhor dessa forma, de que é um investimento em vocês próprios, e de que devem de igual forma, consumir o gel. A verdade é que se as hierarquias no fundo da rede estiverem a encomendar grandes quantidades de produtos, as de cima recebem lucros milionários. Sem mexerem uma palha. Este é o pressuposto do esquema Agel.

O número 3) é o que exige maior concentração. Não é muito evidente a linha que separa a honestidade da pilantragem, e não é certamente o facto de haver dinheiro a entrar para a conta de algumas pessoas um comprovativo de santidade da empresa. Normalmente, quando há efectivamente um negócio de venda de produtos a terceiros, quando o interesse dos membros da rede é serem mesmo distribuidores, em vez que recrutarem pura e simplesmente pessoas, o negócio é legítimo. Caso contrário... é de desconfiar, no mínimo. FACTO: num negócio construido apenas à base de recrutamento e auto-consumo, as hierarquias de baixo ficam sempre a perder dinheiro.

O número 4), por evidente desejo de omissão no que respeita à apresentação de esclarecimentos sobre o negócio por parte da empresa, exige uma pergunta directa por parte do interessado em aderir: que tipo de garantia me dão caso o negócio não dê? Que prazos tenho para devolver os produtos caso não os consiga vender ou não os quiser consumir? Seis meses é um valor aceitável, um ano é o valor mais indicado, se o negócio for honesto. UM MÊS é quase criminoso. Mais ainda se vos tentarem convencer a ficar na rede o tempo suficiente para "expandirem" o vosso negócio.

Em futuras mensagens, proponho-me a analisar, um a um, estes quatro medidores/indicadores, mostrando como é que surgem, em concreto, no plano da Agel.

Não quero que acreditem em mim só por acreditar. Quero que façam o vosso próprio raciocínio e tirem as vossas conclusões. Afinal de contas, eu poderia estar a ser tão aldrabão como alguns senhores da Agel.

O amigo Aníbal

No restaurante, frente e frente, com o estrépito da clientela como ruído de fundo e umas migalhas de pão espalhadas sobre os pratos, aguardamos que tragam as espetadas na grelha. O papel colocado por cima da mesa, por esta altura, já está todo rabiscado com estruturas em forma de pirâmide - círculos e traços - e com cálculos de valores e percentagens.

O Aníbal, de testa franzida, acaba de escrevinhar mais umas contas. "É fácil," diz-me (e recordo-me dele como um rapaz de cabelos compridos, botas da tropa e t-shirt dos Metallica, que se sentava lá atrás na sala de aulas, e atirava papelinhos húmidos pelo canudo da bic), "É só arranjarmos mais meia-dúzia de marmelos interessados e temos o negócio feito! Para o mês que vem já está a dar lucro"

O sorriso que lhe vejo no rosto é inseguro; treme aos cantos, de nervosismo, empapado por pequenas acumulações de saliva espumosa.

"Aníbal," pergunto-lhe, "Há quanto tempo te inscreveste?"

"Faz amanhã três semanas."

"E quantas pessoas já tens por baixo de ti?"

"Tenho a Teresa, pá. Conheces a Teresa? Aquela rapariga com quem namorei?"

"Sim, lembro-me vagamente dela. E mais?"

"E tenho mais uns quatro ou cinco gajos a pensar no assunto. Mas sei que vão aceitar. São pessoas porreiras, lá do trabalho."

Cruzo os braços por cima da mesa e foco-me nos olhos dele, "Porque é que te inscreveste nisto, Aníbal? Cheira-me a esturro."

"Mas não, Pedro, não é. O gajo que me meteu disse que era certinho. Um mês, dois meses, e estava a ganhar dinheiro."

"E tu foste na conversa, assim sem mais nem menos?"

"Eu confio nele, pá. É um gajo atinado, que não se mete nas coisas assim sem mais nem menos. Ele estudou as probabilidades. Disse-me que era coisa fiável. À confiança."

"Mas mostrou-te alguma coisa em concreto?"

"Sim, Claro. Fomos ver uns sites na net - a propósito, tenho de tos passar para veres com os teus próprios olhos -, entramos até na rede de comissões, e mostrou-me quanto ganhava o tipo que o meteu..."

"Na rede de comissões?"

"Sim. É onde podes controlar os teus braços e as pessoas que consegues meter. Está muito bem pensado aquilo, pá. Se quiseres vais lá a minha casa que eu mostro-te, não custa nada..."

"Resumindo... já falaste com toda a gente que conhecias e agora estás a tentar vender o negócio aos antigos colegas."

"Epá, mas é sempre numa de apresentar um negócio porreiro, hã? Não é a pensar só em mim. Juntos podemos conseguir, pá. Com a tua ajuda isto vai andar para a frente. Que me dizes? O investimento inicial é bué pequeno. Se não der, também não perdes grande coisa. Vinte contos por mês não é nada!"

"E se o sumo não presta? E se é tudo uma grande tanga?"

"Pedro, pá, vê os sites primeiro, e depois decides, está bem? Nos sites tens informações exactas sobre a qualidade do produto. Aquilo é muito bom. É patenteado, faz bem à saúde. Tens lá os certificados todos de qualidade. Ninguém constrói um negócio se o produto for uma merda, não é? Vai ver."

"Mas porque é que eles não vendem isso nas farmácias, por exemplo? Não acredito muito nessa história. Parece uma aldrabice. Como aquele esquema da Herbalife, há uns anos atrás. O produto era muito bom, mas tinhas de pagar um balúrdio e recrutar pessoas para ganhares algum"

"Pá, o esquema é parecido, mas não tem nada a ver. A Herbalife era uma porcaria. Este não é... funciona de outra maneira. Ouve, o gajo que meteu o João está a fazer 15.000 euros por mês. A sério. Ele mostrou-me os papéis."

Chegam as espetadas. O empregado afasta a calculadora para o lado e pousa as travessas na mesa. O Aníbal continua a olhar para mim, à espera de uma resposta.

"Aníbal, vamos comer, está bem? Eu prometo que vou investigar o assunto."

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Recrutamento


Se houvesse um tema oficial da Agel, até que podia ser este. O recrutamento acima de tudo.

Eles andam aí!

O Início de uma nova etapa...


"Eles" podem ser qualquer um. "Eles" podem ser o seu vizinho da frente; "eles" podem ser primos ou tias, irmãos ou cunhados, maridos ou sogras; "eles" podem ser seus colegas de trabalho; "eles" podem ser indivíduos que estão a almoçar na mesa ao nosso lado no restaurante da esquina; "eles" podem ser os amigalhaços dos copos; "eles" podem ser quase tudo. "Eles" confundem-se com o cidadão normal, com o cidadão honesto e respeitador dos direitos dos outros; "eles" escondem-se por detrás da fachada do cinismo e da hipocrisia. "Eles" são, na maior parte dos casos, as pessoas em quem mais confiamos.

Eles vivem!

"Eles" são Agel.

"Eles" podem entrar em contacto consigo por telefone, dizendo que provavelmente já não nos lembramos "deles", mas que andaram connosco no liceu, que fomos colegas de turma, que já há muito tempo que não falamos, e que resolveram contactar-nos para saber como é que estamos, como é que isso vai, como estão mulher e filhos.

"Eles", assim como quem não quer a coisa, perguntam-nos depois se estamos interessados em aderir a um negócio novo que anda aí, uma coisa moderna, totalmente segura, que exige pouco trabalho, dá altos lucros, e até dá saúde, se gostarmos do produto. É o início de uma nova etapa na nossa vida, afirmam com entusiasmo.

"Eles" arrancam-nos um almoço para o dia seguinte, para "nos vermos outra vez", e para poderem falar do tal negócio como deve ser, porque "assim pelo telefone não dá muito jeito", são muitas explicações, e algumas contas à mistura.

"Nóses" desligamos o telefone e ficamos então a pensar, com alguma apreensão, qua raio de coisa nos quererá impingir aquele gajo, mas que mais vale em todo o caso ouvir, pode ser que interesse, nunca se sabe...

(continua...)


* pormenor do cartaz promocional do filme "They Live!" de John Carpenter

domingo, 18 de novembro de 2007

Sobre o Blog

Atraídas pela promessa de lucros fáceis, alcançáveis em pouco tempo e através de pouco trabalho, milhares de pessoas em Portugal foram, estão, e virão a ser convencidas a ingressar numa rede de contornos piramidais, escudada pelos conceitos de "Vendas Directas" e de "Marketing Multinível", e apresentada como um projecto na área da saúde e do desenvolvimento pessoal.

Há pessoas na rede que estão a ganhar dinheiro. Muito dinheiro, até. É inegável. Mas por cada pessoa que está a ter lucro, há pelo menos trinta ou quarenta que estão a ter prejuízo. Isto também é inegável. Em futuras mensagens, explicarei os fundamentos deste cálculo.

Durante os próximos tempos, tenho por objectivo explicitar e pôr a descoberto tudo aquilo que à primeira vista não é apreensível no modelo da Agel.

É minha convicção de que muita gente está inscrita como membro e não sabe minimamente o que se está a passar, que sinta motivado e feliz e empolgado, e contudo não esteja a ver a imagem maior - que conceitos estão em causa e que consequências terão a aplicabilidade desses mesmos conceitos. Receio que, mesmo percebendo os mecanismo de engrenagem da empresa, muita gente, mesmo assim, continue de olhos postos apenas nos cifrões. É meio mundo a enganar o outro meio. Literalmente. Vivemos numa sociedade que, impelida pelo consumismo, cada vez mais vai tendendo para o descrédito e para a decadência. Ao apelar aos instintos mais obsessivos e primários pelo dinheiro no ser humano, e camuflando-o com uma apurada maquilhagem de boas intenções, Agel é o reflexo exacto dessa sociedade. O capitalismo brutal e desdenhoso tem um novo campeão. Ainda não ouviu falar da Agel? Não se preocupe. É uma questão de tempo... e de dinheiro!

A ideia é relativamente simples de explicar: somos convidados a entrar numa rede de consumo, pagando para isso um pequeno investimento em produtos de bem-estar (multivitamínicos, anti-oxidantes naturais, produtos para regular a perda de peso, entre outros). Este investimento pode ser recuperado com o recrutamento que fazemos de futuros membros, ao ganharmos uma comissão directa pela entrada dessas pessoas, e pelas consequentes compras que estas fazem no acto de inscrição. Uma vez dentro da rede, somos incentivados a comprar todos os meses uma quantidade x de produtos, e ganharemos comissões com base nas compras que as pessoas que colocamos na rede, por baixo de nós, fazem também mensalmente. Escusado será dizer que para subirmos acima da linha de água, precisamos de ter uma volumosa "equipa" de consumidores inscritos na rede, abaixo de nós. Escusado será também dizer que uma pequena minoria de pessoas estão ter lucros milionários, à conta das compras efectuadas por todos os outros membros, e que uma grande maioria de inscritos (aprox. 90% do total) anda a perder dinheiro, enquanto tenta a todo o custo angariar gente para pode sair da zona negativa.

A Agel chama a isto "Marketing Multinível" e "Vendas Directas". Eu chamo a isto Esquema de Vendas em Pirâmide disfarçado de negócio legítimo.

A expansão da rede Agel é feita, a meu ver, com base em três variáveis concretas: 1 - a ignorância do consumidor face ao conceitos em causa e face à lei, 2 - a perspectiva de lucro fácil, alcançável em pouco tempo, e com relativamente pouco investimento e trabalho, 3 - o factor "família e amigos" - em quase todas a situações, são pessoas da nossa esfera de confiança pessoal que nos apresentam esta "fantástica oportunidade de negócio".

O site da empresa está aqui: http://www.agel.com

Em adição ao institucional, existem em Portugal mais de uma centena de sites de "distribuidores" (é assim que eles se apelidam) Agel a difundirem o negócio.

Se pretender saltar já para a parte referente à ilegalidade do negócio, segundo o disposto na lei portuguesa, consulte os links:

1 - perguntas
2 - respostas DECO
3 - respostas ASAE
4 - os meus comentários

Sugiro, mesmo assim, que leia este blog na sua totalidade. Cronologicamente - da mensagem mais antiga até à mais recente. Considero mais importante que se informe devidamente sobre os conceitos em causa (e sobre a abordagem que a Agel faz aos mesmos) do que propriamente sobre os mecanismo que prendem à Agel à ilegalidade. Se não acreditar nas minhas palavras, faça a sua própias pesquisa. Não quero convencer ninguém de que tenho razão. Quero antes que investigue por sua conta.

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