Investigação
Vitaminas para ficar rico
Vitaminas para ficar rico
Nova marca promete enriquecimento instantâneo
AGEL Chegou dos EUA e já tem 2300 adeptos. Jovens que querem ganhar dinheiro sem esforço são os mais aliciáveis
Joana Vicente tem 23 anos e a ambição de ser rica. Foi isso que, depois de uma apresentação em casa de um amigo, a levou a embarcar no negócio que promete criar milionários a partir de vitaminas em gel.
“Quem, nesta sala, não gostaria de mudar de patrão? Quem acha que ganha o que merece?”. As perguntas foram lançadas a uma audiência com algumas centenas de pessoas pelo norte-americano que guarda o segredo para o enriquecimento rápido. Glen Jensen, presidente da Agel, tem 39 anos e criou as vitaminas em gel que são o pretexto do negócio que reclama para si o estatuto de sucessor da Herbalife e que está a ganhar adeptos em Portugal.
A apresentação decorreu há cerca de duas semanas numa segunda-feira, ao final do dia, no auditório da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e repetiu, no dia seguinte, na Casa do Comércio, em Lisboa. Jovens adultos, homens e mulheres, foram respondendo ao repto de Glen Jensen, demonstrando que tinham incorporado o espírito do negócio. Uns já estavam na rede e ganhavam bastante dinheiro, outros estavam desejosos por mudar de vida.
Joana Vicente entrou, há um mês e meio, com o pacote básico pelo qual pagou 240 euros e recebeu em casa quatro caixas com 30 bisnagas, num total de 120 embalagens. Ao fim de quinze dias, já tinha amortizado o investimento, não através da venda das vitaminas, mas única e exclusivamente das comissões sobre a angariação de quatro pessoas para a rede. Ao entrar, fica com o dever de comprar um pacote de 120 euros todos os meses. E continua a ganhar comissões sobre as pessoas que entram abaixo das quatro pessoas que recrutou. “Uma parte dos produtos consumo e a outra ofereço. Não conheço ninguém que venda o produto. O dinheiro que se ganha a pôr pessoas é tanto que não é necessário vender”, explica Joana Vicente.
No mês de Outubro, depois de ter feito o «up-grade» para o pacote executivo (€960), Joana Vicente recebeu 1100 euros, um acréscimo justificado com o facto de ter investido mais dinheiro. Ou seja, quanto mais se paga para entrar, maior é a percentagem que se recebe pelas pessoas abaixo. Joana Vicente confessa que o maior aliciante da Agel é a possibilidade de ganhar muito dinheiro e nem a hipótese dos rendimentos diminuírem quando deixarem de entrar pessoas para a rede a demove. “Se calhar, nessa altura já vai ser preciso vender os produtos”, prevê, revelando que neste momento a rede já conta com 2300 pessoas em Portugal.
Pedro Celeste, especialista em marketing estratégico, explica que “o trabalho desenvolvido na criação de novos níveis funciona em progressão aritmética, enquanto os benefícios funcionam em progressão geométrica, isto é, trata-se de um convite para trabalhar sentado e esperar pelos lucros”. Desempregados, pessoas cujos rendimentos são insuficientes, ingénuas e muito materialistas compõem o perfil de quem é mais facilmente aliciado. A legalidade deste tipo de negócios é muitas vezes questionada e especialistas contactados pelo Expresso levantam dúvidas a este modelo da Agel.
Glen Jensen conhece bem o género de pessoas que entram facilmente nestes negócios. No palco da Agel, milhões e dólares são as palavras mais repetidas. Para ilustrar até onde se pode chegar, Glen Jensen acena com uma lista de valores de comissões, que garante estarem a ser pagos um pouco por todos os cerca de 40 países onde já marcam presença. Há números para todas as ambições e alguns atingem os milhares de euros. O presidente da companhia revela que em Portugal já existem três “directores-seniores que ganham, em média, 16 mil dólares por mês (cerca de €11 mil)”.
Por cinco minutos desvia-se dos cifrões para salientar que os produtos - sete variedades de vitaminas em gel embaladas em doses individuais - são “a estrutura do negócio” e a razão do sucesso. “São revolucionários, algo que nunca existiu. Estamos para a indústria de suplementos alimentares, como o Ipod está para a indústria da música”, comparou, referindo-se ao sistema em gel. A pedido do Expresso, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) está a analisar as características do produto.
Jensen não é um novato. Diz que trabalhou na indústria farmacêutica e em empresas de marketing em rede, o que preparou o terreno para a Agel.
Pedro Celeste sustenta que neste modelo de negócio, o produto precisa de ter alguma credibilidade e inovação. “Foi o que aconteceu com a Herbalife, que chegou ao mercado numa altura em que se começava a falar em obesidade e dietas”, refere. O ciclo de vida, por isso, pode ser curto ou longo. “É curto se as pessoas não acreditarem que vão ser capazes de convencer outras a comprar e é longo se o mercado acreditar que vai ganhar benefícios no médio prazo”, alega.
Joana Vicente acredita e espera estar a ganhar 20 mil euros em Agosto do próximo ano. Glen Jensen também detecta esse potencial no grupo de pessoas que tem à sua frente, apesar de ter acabado de chegar. “Qualquer um de vocês tem capacidade para se tornar um chefe de equipa. Prometo que isso irá acontecer tendo em conta a qualidade das pessoas que estão nesta sala”, dispara, ao melhor estilo de um entendido em motivação. “A Agel devolve a esperança e os sonhos”, conclui.
AGEL Chegou dos EUA e já tem 2300 adeptos. Jovens que querem ganhar dinheiro sem esforço são os mais aliciáveis
Joana Vicente tem 23 anos e a ambição de ser rica. Foi isso que, depois de uma apresentação em casa de um amigo, a levou a embarcar no negócio que promete criar milionários a partir de vitaminas em gel.
“Quem, nesta sala, não gostaria de mudar de patrão? Quem acha que ganha o que merece?”. As perguntas foram lançadas a uma audiência com algumas centenas de pessoas pelo norte-americano que guarda o segredo para o enriquecimento rápido. Glen Jensen, presidente da Agel, tem 39 anos e criou as vitaminas em gel que são o pretexto do negócio que reclama para si o estatuto de sucessor da Herbalife e que está a ganhar adeptos em Portugal.
A apresentação decorreu há cerca de duas semanas numa segunda-feira, ao final do dia, no auditório da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e repetiu, no dia seguinte, na Casa do Comércio, em Lisboa. Jovens adultos, homens e mulheres, foram respondendo ao repto de Glen Jensen, demonstrando que tinham incorporado o espírito do negócio. Uns já estavam na rede e ganhavam bastante dinheiro, outros estavam desejosos por mudar de vida.
Joana Vicente entrou, há um mês e meio, com o pacote básico pelo qual pagou 240 euros e recebeu em casa quatro caixas com 30 bisnagas, num total de 120 embalagens. Ao fim de quinze dias, já tinha amortizado o investimento, não através da venda das vitaminas, mas única e exclusivamente das comissões sobre a angariação de quatro pessoas para a rede. Ao entrar, fica com o dever de comprar um pacote de 120 euros todos os meses. E continua a ganhar comissões sobre as pessoas que entram abaixo das quatro pessoas que recrutou. “Uma parte dos produtos consumo e a outra ofereço. Não conheço ninguém que venda o produto. O dinheiro que se ganha a pôr pessoas é tanto que não é necessário vender”, explica Joana Vicente.
No mês de Outubro, depois de ter feito o «up-grade» para o pacote executivo (€960), Joana Vicente recebeu 1100 euros, um acréscimo justificado com o facto de ter investido mais dinheiro. Ou seja, quanto mais se paga para entrar, maior é a percentagem que se recebe pelas pessoas abaixo. Joana Vicente confessa que o maior aliciante da Agel é a possibilidade de ganhar muito dinheiro e nem a hipótese dos rendimentos diminuírem quando deixarem de entrar pessoas para a rede a demove. “Se calhar, nessa altura já vai ser preciso vender os produtos”, prevê, revelando que neste momento a rede já conta com 2300 pessoas em Portugal.
Pedro Celeste, especialista em marketing estratégico, explica que “o trabalho desenvolvido na criação de novos níveis funciona em progressão aritmética, enquanto os benefícios funcionam em progressão geométrica, isto é, trata-se de um convite para trabalhar sentado e esperar pelos lucros”. Desempregados, pessoas cujos rendimentos são insuficientes, ingénuas e muito materialistas compõem o perfil de quem é mais facilmente aliciado. A legalidade deste tipo de negócios é muitas vezes questionada e especialistas contactados pelo Expresso levantam dúvidas a este modelo da Agel.
Glen Jensen conhece bem o género de pessoas que entram facilmente nestes negócios. No palco da Agel, milhões e dólares são as palavras mais repetidas. Para ilustrar até onde se pode chegar, Glen Jensen acena com uma lista de valores de comissões, que garante estarem a ser pagos um pouco por todos os cerca de 40 países onde já marcam presença. Há números para todas as ambições e alguns atingem os milhares de euros. O presidente da companhia revela que em Portugal já existem três “directores-seniores que ganham, em média, 16 mil dólares por mês (cerca de €11 mil)”.
Por cinco minutos desvia-se dos cifrões para salientar que os produtos - sete variedades de vitaminas em gel embaladas em doses individuais - são “a estrutura do negócio” e a razão do sucesso. “São revolucionários, algo que nunca existiu. Estamos para a indústria de suplementos alimentares, como o Ipod está para a indústria da música”, comparou, referindo-se ao sistema em gel. A pedido do Expresso, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) está a analisar as características do produto.
Jensen não é um novato. Diz que trabalhou na indústria farmacêutica e em empresas de marketing em rede, o que preparou o terreno para a Agel.
Pedro Celeste sustenta que neste modelo de negócio, o produto precisa de ter alguma credibilidade e inovação. “Foi o que aconteceu com a Herbalife, que chegou ao mercado numa altura em que se começava a falar em obesidade e dietas”, refere. O ciclo de vida, por isso, pode ser curto ou longo. “É curto se as pessoas não acreditarem que vão ser capazes de convencer outras a comprar e é longo se o mercado acreditar que vai ganhar benefícios no médio prazo”, alega.
Joana Vicente acredita e espera estar a ganhar 20 mil euros em Agosto do próximo ano. Glen Jensen também detecta esse potencial no grupo de pessoas que tem à sua frente, apesar de ter acabado de chegar. “Qualquer um de vocês tem capacidade para se tornar um chefe de equipa. Prometo que isso irá acontecer tendo em conta a qualidade das pessoas que estão nesta sala”, dispara, ao melhor estilo de um entendido em motivação. “A Agel devolve a esperança e os sonhos”, conclui.
Textos Ana Sofia Santos e Catarina Nunes
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A acompanhar o texto, este mini-glossário:
DESCUBRA AS DIFERENÇAS
«MARKETING» MULTINÍVEL É uma forma legítima de vender bens ou serviços através de revendedores, que ganham comissões sobre as vendas próprias e sobre as vendas dos distribuidores que tenham recrutado
VENDAS EM PIRÂMIDE São estratagemas ilegais que assumem formas cada vez mais sofisticadas. Prometem elevados lucros aos consumidores ou investidores que lhes tragam mais pessoas para a rede. O dinheiro colocado por quem entra paga os lucros dos que já lá estão há mais tempo. Até pode existir um produto, mas este apenas serve para encobrir o esquema.
Fonte: US Federal Trade Commission, a entidade que regula as actividades económicas nos EUA
1 comentário:
A AGEL esta no mercado como uma PIRAMIDE disfarçada. E facil de ver e comprovar. Quando o fundamento é somente angariar pessoas e envolver um quantia disfarçada em VITAMINAS DE CHUPAR que nao se sabe bem de onde veem e se estao ou nao aprovadas pelas entidades. O OBJECTIVO PRINCIPAL E MOVIMENTAR DINHEIRO CAMUFLADO EM VITAMINAS TIPO CHUPA-CHUPA. ISTO NAO É MULTINIVEL ISTO É PIRAMIDEEEEEE!!!
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