Marketing Multinível VS Esquemas em Pirâmide
Como identificar as diferenças entre um negócio potencialmente lícito e um negócio ilícito/fraudulento.
Como identificar as diferenças entre um negócio potencialmente lícito e um negócio ilícito/fraudulento.
Apesar destes conceitos já terem merecido alguma atenção em mensagens anteriores, julgo ser de todo o interesse falar deles de forma mais directa, apontando as semelhanças e diferenças existentes entre os dois modelos. No final será feito um posicionamento do caso Agel face aos mesmos.
Este artigo baseia-se essencialmente em dois estudos publicados sobre o assunto, um deles em 2003, uma tese de doutoramento elaborado por um assistente do ISCTE, sobre "Vendas Directas" (disponível: aqui ), um trabalho académico, de pesquisa, que a determinada altura defende a legitimidade de muitas empresas de MMN (entre elas a Amway), e que apresenta argumentos muito bem desenvolvidos, muito bem estruturados e justificados (é este tipo de posicionamento que eu esperaria encontrar por parte dos defensores da Agel, e até agora, sem ser este estudo, não houve um candidato à altura); e um outro estudo, de inícios de 2006, pela organização "PSA - Pyramid Scheme Alert", um trabalho baseado em dados reais divulgados por algumas organizações a operarem esquemas em pirâmide (disponível: aqui ) - este trabalho mostra como na prática - na vida real fora do papel - algumas empresas de MMN falham redondamente na proposta de distribuição justa de rendimentos pelas várias camadas de membros que constituem os seus distribuidores (mais uma vez, o nome da Amway vem à baila).
São dois trabalhos completamente antagónicos, tanto nos objectivos propostos como na parte que toca ao MMN (o primeiro a defender, e o segundo a atacar), mas de grande relevo para as matérias aqui em discussão.
Também baseei este artigo nas muitas e várias definições de "vendas directas", de "vendas em pirâmide" e de "Marketing Multinível" que estão disponíveis um pouco por essa net fora, seja em sites de autoridades alegadamente competentes (as federações de vendas directas america e europeia), seja na lei portuguesa e europeia, seja em sites dedicados à discussão geral da legitimidade deste tipo de negócio.
Em primeiro lugar fica uma clarificação: os Esquemas em Pirâmide, ilícitos, ilegais, podem constituir uma forma específica e particularmente nefasta de Marketing Multinível. Podemos, portanto, falar sempre em Marketing Multinível. O que não podemos é dizer que, por se tratar de Marketing Multinível, estamos na presença de um negócio lícito. Para mais, há muitas vezes uma aproximação marginal entre os dois conceitos, que pode ser de tal ordem que se torna difícil de distinguir entre um e outro. No caso da Agel, o modelo adoptado reune propriedades dos dois: usa algumas propriedades do MMN por forma a poder enganar os incautos, e usa outras, relativas a esquemas em pirâmide, para operar na prática.
Na China, e como forma de acabar com potenciais negócios/esquemas em pirâmide, o governo instaurou uma lei que proíbe o ganho de comissões com base em vendas/compras de outros downlines, bem como o recrutamento de novos membros para a rede. Basicamente, o que o governo chinês decretou foi que todos os negócios de MMN passassem a ser Marketing de Nível Único, e ainda por cima sem possibilidades de recrutar quem quer que seja. Não quero de forma nenhuma exultar o governo chinês (até porque abomino a sua formatura ditatorial), mas tenho de reconhecer que conseguiu com esta medida cortar o mal pela raiz. (ver notícia aqui ). Mesmo assim, a ideia do "sonho americano" é bem real para a força de vendas na China, e os ensinamentos/experiência deste tipo de empresa apresentam-se como muito atractivos para os vendedores chineses.
Bottom Line
Apesar de haver diferenças de montra nos conceitos apresentados de MMN e de Esquema em Pirâmide, por vezes as aproximações são tantas que não é possível distinguir em que lado da fronteira se situa um negócio - ou até se se situa dos dois lados da fronteira, como parece ser o caso da Agel. A meu ver, a definição de Esquema em Pirâmide passa muito para lá daquilo que os regulamentos legais/oficiais atiram cá para fora. A meu ver, para identificar um esquema em pirâmide há que proceder ao estudo dos números no terreno - identificar a percentagem de "vendas" (para fora da rede) face à percentagem de "consumos" (para dentro da rede); identificar médias de receitas/lucro e de custos/prejuízo para os inscritos nas hierarquias das redes; apontar tempos de permanência e número de desistências de antigos inscritos no esquema; identificar potenciais tentativas de camuflagem da realidade; etc., etc. etc. Não sei ao certo como podemos fazer estas consultas ou como podemos retirar conclusões exactas baseadas apenas em suspeitas, uma vez que é muito complicado conseguir acesso a estes dados. Através de alguns estudos publicados sobre a matéria podemos ir vislumbrando farpas da realidade oculta; infelizmente, e por enquanto, é apenas o que podemos fazer.
Para mim, o negócio de MMN ideal/lícito/honesto seria um em que:
- Fossem respeitados os conceitos de comissões apresentados nas supra definições. Por outras palavras, em que cada membro pudesse ganhar uma determinada margem de lucro em contrapartida das suas vendas (25%, 30% ou até mesmo 50%, não interessa ), e pudesse ganhar comissões relativas às vendas de todos os membros por si patrocinados (um valor menor, em todo o caso, 5% ou 10%). Para ganhar estes valores de comissões, os membros não teriam de comprar nada à empresa fornecedora.
- Um membro nunca pudesse ganhar mais dinheiro com as comissões do downline do que o lucro gerado pelas suas próprias comissões. Isto é uma regra de "justiça" - impede os parasitas que se encostam à sombra da bananeira e ficam à espera que os outros trabalhem.
- O produto fosse competitivo face à concorrência, quer em termos de valor, quer em termos de preço final.
- O valor da inscrição na rede fosse inexistente, ou, a existir, que fosse um valor irrisório, ou um pagamento inicial mais barato por conta de produtos/artigos promocionais.
- Houvesse uma política justa de aceitação de devoluções, de pelos menos 6 meses ou mesmo de um ano, não permitindo que alguém pudesse ficar "agarrado" por não ter conseguido vender o produto e/ou por não ter conseguido recrutar mais ninguém para dentro da rede.
- Não houvesse pagamentos/encomendas/consumos mínimos obrigatórios.
- Fosse especificado exactamente e sem rodeios em que é que consistia o negócio (vender produtos a terceiros e tentar recrutar mais vendedores), o que significava trabalhar como vendedor/distribuidor, e quais as reais possibilidades de sucesso na empresa.
- Fossem divulgados abertamente informações relativas aos números da rede de inscritos (rendimentos médios por hierarquia, número de desistências, volume de vendas para fora da rede, etc. etc.)
- Não fosse exibida publicidade milagrosa a prometer "independência financeira", "uma vida melhor trabalhando menos", composta por "Ferraris, Porsches, e outros carros de luxo", por "viagens a ilhas paradisíacas", etc., etc. etc.
O Caso da AGEL - Posicionamento face a estes conceitos (tema do próximo artigo)
Este artigo baseia-se essencialmente em dois estudos publicados sobre o assunto, um deles em 2003, uma tese de doutoramento elaborado por um assistente do ISCTE, sobre "Vendas Directas" (disponível: aqui ), um trabalho académico, de pesquisa, que a determinada altura defende a legitimidade de muitas empresas de MMN (entre elas a Amway), e que apresenta argumentos muito bem desenvolvidos, muito bem estruturados e justificados (é este tipo de posicionamento que eu esperaria encontrar por parte dos defensores da Agel, e até agora, sem ser este estudo, não houve um candidato à altura); e um outro estudo, de inícios de 2006, pela organização "PSA - Pyramid Scheme Alert", um trabalho baseado em dados reais divulgados por algumas organizações a operarem esquemas em pirâmide (disponível: aqui ) - este trabalho mostra como na prática - na vida real fora do papel - algumas empresas de MMN falham redondamente na proposta de distribuição justa de rendimentos pelas várias camadas de membros que constituem os seus distribuidores (mais uma vez, o nome da Amway vem à baila).
São dois trabalhos completamente antagónicos, tanto nos objectivos propostos como na parte que toca ao MMN (o primeiro a defender, e o segundo a atacar), mas de grande relevo para as matérias aqui em discussão.
Também baseei este artigo nas muitas e várias definições de "vendas directas", de "vendas em pirâmide" e de "Marketing Multinível" que estão disponíveis um pouco por essa net fora, seja em sites de autoridades alegadamente competentes (as federações de vendas directas america e europeia), seja na lei portuguesa e europeia, seja em sites dedicados à discussão geral da legitimidade deste tipo de negócio.
Em primeiro lugar fica uma clarificação: os Esquemas em Pirâmide, ilícitos, ilegais, podem constituir uma forma específica e particularmente nefasta de Marketing Multinível. Podemos, portanto, falar sempre em Marketing Multinível. O que não podemos é dizer que, por se tratar de Marketing Multinível, estamos na presença de um negócio lícito. Para mais, há muitas vezes uma aproximação marginal entre os dois conceitos, que pode ser de tal ordem que se torna difícil de distinguir entre um e outro. No caso da Agel, o modelo adoptado reune propriedades dos dois: usa algumas propriedades do MMN por forma a poder enganar os incautos, e usa outras, relativas a esquemas em pirâmide, para operar na prática.
Definições Essenciais
(alguns trechos nestas definições foram literalmente copiados dos estudos indicados acima, outros foram adaptadas e compostos por mim)
Sistema de venda directa de produtos de consumo e serviços, por meio de uma rede de distribuidores individuais independentes, sem estabelecimento, isto é, sem loja onde mostrar os produtos, ao mesmo tempo que vendem aos seus clientes particulares: familiares, vizinhos, amigos. Os canais de venda a retalho que usam distribuidores independentes não só para comprar e vender produtos a retalho, mas também para recrutar novos distribuidores para uma rede em constante crescimento. As comissões e prémios recebidos pelos distribuidores incidem, não só nas suas vendas pessoais (actividade retalhista), mas também nas vendas realizadas por vários níveis de “downlines” na sua rede.
O marketing multinível teve origem nos Estados Unidos nos anos 30, desenvolvido inicialmente pela Nutrilite Products of California através da iniciativa de Carl Rehnborg, conhecido hoje como o “pai” do marketing multinível.
O Boom do Marketing Multinível, as nível mundial, aconteceu nos anos 80. Em Portugal, as primeiras companhias identificadas como MMN estabeleceram-se em 1992 (Amway e Oriflame).
A Amway é considerada a maior e mais bem sucedida companhia de MMN existente no mundo. A Quixtar, uma sua subsidiária gerida através de um portal na net, é considerado outro exemplo paradigmático de MMN.
Para que qualquer uma destas estruturas funcione (Uninível ou Multinível) é essencial que o produto seja "bom". Bom no sentido de ser competitivo face à concorrência. Bom no sentido que que o consumidor final opte por o comprar, em vez de se dirigir à lojas mais próxima e comprar um sucedâneo. Bom no sentido de proporcionar ao vendedor uma base sólida e duradoura para poder ganhar dinheiro. Bom no sentido de proporcionar a todos os membros inscritos na rede, e à partida, as mesmas hipóteses de ganhar dinheiro - a diferença de rendimentos é assim justificada não pela posição hierárquica mas pelo esforço/habilidade de cada um em vender o produto. Um membro colocado no fundo da rede pode assim ganhar mais dinheiro do que um membro do topo, ao vender uma quantidade maior de produtos ao consumidor final.
Por último, quero deixar uma explicaçao adicional sobre o conceito: a sigla MLM não se refere ao modelo de negócio de determinada empresa. Refere-se ao esquema de pagamento de compensações aos distribuidores da rede. O modelo de negócios será sempre, e primeiro que tudo, as "Vendas Directas".
Para o consumidor final (não pertencente à rede de distribuidores) não há qualquer diferença entre uma empresa Uninível e outra Multinível. Para o distribuidor pertencente a qualquer uma das redes, já há uma diferença: no Uninível não ganha comissões derivadas das vendas de outros distribuidores, no Multinível ganha.
(alguns trechos nestas definições foram literalmente copiados dos estudos indicados acima, outros foram adaptadas e compostos por mim)
Vendas Directas
Método de distribuição de bens de consumo através de contactos pessoais (face-a-face) entre vendedor e comprador fora dos locais fixos de comércio (em casa do consumidor ou vendedor, em locais de trabalho que não tenham a ver com a actividade, ou em eventos especiais para a promoção dos produtos, como por exemplo as "festas de amigos/familiares"). As vendas directas podem divergir quanto ao modelo organizacional aplicado pela empresa que os institui: podem ser de Nível Único, ou podem ser Multinível.
A lei portuguesa prevê este tipo de negócio no mesmo decreto lei em que prevê a ilegalidade das vendas em pirâmide (143/2001. de 26 de Abril).
Marketing de Nível Único
Sistema de venda directa de produtos de consumo e serviços, por meio de uma rede de distribuidores individuais independentes, sem estabelecimento, isto é, sem loja onde mostrar os produtos, ao mesmo tempo que vendem aos seus clientes particulares: familiares, vizinhos, amigos. Os canais de venda a retalho que usam distribuidores independentes não só para comprar e vender produtos a retalho, mas também para recrutar novos distribuidores para uma rede em constante crescimento. As comissões e prémios recebidos pelos distribuidores incidem, apenas nas suas vendas pessoais (actividade retalhista).
A Avon e a Tupperware são exemplos de empresas a operarem neste tipo de estrutura.
Marketing Multinível (MMN, ou MLM - Multi-Level Marketing)
A lei portuguesa prevê este tipo de negócio no mesmo decreto lei em que prevê a ilegalidade das vendas em pirâmide (143/2001. de 26 de Abril).
Marketing de Nível Único
Sistema de venda directa de produtos de consumo e serviços, por meio de uma rede de distribuidores individuais independentes, sem estabelecimento, isto é, sem loja onde mostrar os produtos, ao mesmo tempo que vendem aos seus clientes particulares: familiares, vizinhos, amigos. Os canais de venda a retalho que usam distribuidores independentes não só para comprar e vender produtos a retalho, mas também para recrutar novos distribuidores para uma rede em constante crescimento. As comissões e prémios recebidos pelos distribuidores incidem, apenas nas suas vendas pessoais (actividade retalhista).
A Avon e a Tupperware são exemplos de empresas a operarem neste tipo de estrutura.
Marketing Multinível (MMN, ou MLM - Multi-Level Marketing)
Sistema de venda directa de produtos de consumo e serviços, por meio de uma rede de distribuidores individuais independentes, sem estabelecimento, isto é, sem loja onde mostrar os produtos, ao mesmo tempo que vendem aos seus clientes particulares: familiares, vizinhos, amigos. Os canais de venda a retalho que usam distribuidores independentes não só para comprar e vender produtos a retalho, mas também para recrutar novos distribuidores para uma rede em constante crescimento. As comissões e prémios recebidos pelos distribuidores incidem, não só nas suas vendas pessoais (actividade retalhista), mas também nas vendas realizadas por vários níveis de “downlines” na sua rede.
O marketing multinível teve origem nos Estados Unidos nos anos 30, desenvolvido inicialmente pela Nutrilite Products of California através da iniciativa de Carl Rehnborg, conhecido hoje como o “pai” do marketing multinível.
O Boom do Marketing Multinível, as nível mundial, aconteceu nos anos 80. Em Portugal, as primeiras companhias identificadas como MMN estabeleceram-se em 1992 (Amway e Oriflame).
A Amway é considerada a maior e mais bem sucedida companhia de MMN existente no mundo. A Quixtar, uma sua subsidiária gerida através de um portal na net, é considerado outro exemplo paradigmático de MMN.
Para que qualquer uma destas estruturas funcione (Uninível ou Multinível) é essencial que o produto seja "bom". Bom no sentido de ser competitivo face à concorrência. Bom no sentido que que o consumidor final opte por o comprar, em vez de se dirigir à lojas mais próxima e comprar um sucedâneo. Bom no sentido de proporcionar ao vendedor uma base sólida e duradoura para poder ganhar dinheiro. Bom no sentido de proporcionar a todos os membros inscritos na rede, e à partida, as mesmas hipóteses de ganhar dinheiro - a diferença de rendimentos é assim justificada não pela posição hierárquica mas pelo esforço/habilidade de cada um em vender o produto. Um membro colocado no fundo da rede pode assim ganhar mais dinheiro do que um membro do topo, ao vender uma quantidade maior de produtos ao consumidor final.
Por último, quero deixar uma explicaçao adicional sobre o conceito: a sigla MLM não se refere ao modelo de negócio de determinada empresa. Refere-se ao esquema de pagamento de compensações aos distribuidores da rede. O modelo de negócios será sempre, e primeiro que tudo, as "Vendas Directas".
Para o consumidor final (não pertencente à rede de distribuidores) não há qualquer diferença entre uma empresa Uninível e outra Multinível. Para o distribuidor pertencente a qualquer uma das redes, já há uma diferença: no Uninível não ganha comissões derivadas das vendas de outros distribuidores, no Multinível ganha.
Esquema/Vendas/Promoção em Pirâmide
Negócio, ou simulacro de negócio, de cariz ilícito e fraudulento, em que a aplicação de determinadas regras parasitárias conduz a que uma parte dos inscritos (uma minoria, aqueles que entraram primeiro na rede) ganhe dinheiro à custa da exploração do trabalho, ou da angariação de dinheiro, de outros inscritos (a grande maioria, aqueles que entrarem mais tarde para a rede), que acabem sempre em situação de prejuízo. Pode haver um produto ou serviço envolvido, mas, a existir, este não apresenta nenhuma mais valia para o consumidor que lhe permita ser competitivo (em preço ou em valor intrínseco) face a outros produtos sucedâneos que haja no mercado. Um esquema em pirâmide pode tomar inúmeras formas e feitios, uma das quais, a mais desenvolvida, uma rede de Marketing Multinível; em outros casos, como por exemplo o da D. Branca, a pirâmide gira à volta de um negócio "bancário", em que os investimentos dos membros mais recentes servem para pagar os elevados juros dos investidores mais antigos. Há inúmeros casos de Esquemas em Pirâmide divulgados na Internet que, quase sempre, e vistos à distância, acabam por ser tornar cómicos para quem os estuda.
-------------EDIT-------- Correcção efectuada em 17-01-2008
O esquema da D. Branca não era uma pirâmide. Era um Ponzi. Embora semelhante em termos de perdas para os últimos a aderirem ao esquema, um Ponzi distancia-se de uma pirâmide no sentido em que os membros da rede não ganham dinnheiro com o recrutamento uns dos outros, e cada distribuidor individiual reporta directamente à "empresa mãe" - por outras palavras, não há uma hierarquia organizada de membros.
------------END EDIT--------------------------------------
Segundo a lei portuguesa, a Venda em Pirâmide pressupõe o aliciamento que alguém faz a outrem (seja para que este compre algo ou para que entre numa rede) com a intenção de obter um desconto ou a gratuitidade num determinado produto/serviço.
Segundo a lei comunitária europeia, uma "promoção em pirâmide" acontece quando o consumidor dá a sua própria contribuição em troca da possibilidade de receber uma contrapartida que decorra essencialmente da entrada de outros consumidores no sistema, e não em vez da venda ou do consumo de produtos.
O estudo publicado em 2006 pela "PSA - Pyramid Scheme Alert" refere o negócio da Amway como um inequívoco esquema em pirâmide e apresenta, logo de seguida, números concretos para o provar (este mesmo estudo identifica outras seis empresas de MMN que na realidade são negócios em pirâmide muito bem disfarçados). De igual forma, um processo recente, ainda a decorrer, levantado pelo governo inglês contra este gigante do MMN, apresenta valores claros e concisos de que a Amway não justifica as suas promessas de uma vida melhor para a grande maioria do membros inscritos (ler notícia do Times Online aqui ).
Negócio, ou simulacro de negócio, de cariz ilícito e fraudulento, em que a aplicação de determinadas regras parasitárias conduz a que uma parte dos inscritos (uma minoria, aqueles que entraram primeiro na rede) ganhe dinheiro à custa da exploração do trabalho, ou da angariação de dinheiro, de outros inscritos (a grande maioria, aqueles que entrarem mais tarde para a rede), que acabem sempre em situação de prejuízo. Pode haver um produto ou serviço envolvido, mas, a existir, este não apresenta nenhuma mais valia para o consumidor que lhe permita ser competitivo (em preço ou em valor intrínseco) face a outros produtos sucedâneos que haja no mercado. Um esquema em pirâmide pode tomar inúmeras formas e feitios, uma das quais, a mais desenvolvida, uma rede de Marketing Multinível; em outros casos, como por exemplo o da D. Branca, a pirâmide gira à volta de um negócio "bancário", em que os investimentos dos membros mais recentes servem para pagar os elevados juros dos investidores mais antigos. Há inúmeros casos de Esquemas em Pirâmide divulgados na Internet que, quase sempre, e vistos à distância, acabam por ser tornar cómicos para quem os estuda.
-------------EDIT-------- Correcção efectuada em 17-01-2008
O esquema da D. Branca não era uma pirâmide. Era um Ponzi. Embora semelhante em termos de perdas para os últimos a aderirem ao esquema, um Ponzi distancia-se de uma pirâmide no sentido em que os membros da rede não ganham dinnheiro com o recrutamento uns dos outros, e cada distribuidor individiual reporta directamente à "empresa mãe" - por outras palavras, não há uma hierarquia organizada de membros.
------------END EDIT--------------------------------------
Segundo a lei portuguesa, a Venda em Pirâmide pressupõe o aliciamento que alguém faz a outrem (seja para que este compre algo ou para que entre numa rede) com a intenção de obter um desconto ou a gratuitidade num determinado produto/serviço.
Segundo a lei comunitária europeia, uma "promoção em pirâmide" acontece quando o consumidor dá a sua própria contribuição em troca da possibilidade de receber uma contrapartida que decorra essencialmente da entrada de outros consumidores no sistema, e não em vez da venda ou do consumo de produtos.
O estudo publicado em 2006 pela "PSA - Pyramid Scheme Alert" refere o negócio da Amway como um inequívoco esquema em pirâmide e apresenta, logo de seguida, números concretos para o provar (este mesmo estudo identifica outras seis empresas de MMN que na realidade são negócios em pirâmide muito bem disfarçados). De igual forma, um processo recente, ainda a decorrer, levantado pelo governo inglês contra este gigante do MMN, apresenta valores claros e concisos de que a Amway não justifica as suas promessas de uma vida melhor para a grande maioria do membros inscritos (ler notícia do Times Online aqui ).
Na China, e como forma de acabar com potenciais negócios/esquemas em pirâmide, o governo instaurou uma lei que proíbe o ganho de comissões com base em vendas/compras de outros downlines, bem como o recrutamento de novos membros para a rede. Basicamente, o que o governo chinês decretou foi que todos os negócios de MMN passassem a ser Marketing de Nível Único, e ainda por cima sem possibilidades de recrutar quem quer que seja. Não quero de forma nenhuma exultar o governo chinês (até porque abomino a sua formatura ditatorial), mas tenho de reconhecer que conseguiu com esta medida cortar o mal pela raiz. (ver notícia aqui ). Mesmo assim, a ideia do "sonho americano" é bem real para a força de vendas na China, e os ensinamentos/experiência deste tipo de empresa apresentam-se como muito atractivos para os vendedores chineses.
Bottom Line
Apesar de haver diferenças de montra nos conceitos apresentados de MMN e de Esquema em Pirâmide, por vezes as aproximações são tantas que não é possível distinguir em que lado da fronteira se situa um negócio - ou até se se situa dos dois lados da fronteira, como parece ser o caso da Agel. A meu ver, a definição de Esquema em Pirâmide passa muito para lá daquilo que os regulamentos legais/oficiais atiram cá para fora. A meu ver, para identificar um esquema em pirâmide há que proceder ao estudo dos números no terreno - identificar a percentagem de "vendas" (para fora da rede) face à percentagem de "consumos" (para dentro da rede); identificar médias de receitas/lucro e de custos/prejuízo para os inscritos nas hierarquias das redes; apontar tempos de permanência e número de desistências de antigos inscritos no esquema; identificar potenciais tentativas de camuflagem da realidade; etc., etc. etc. Não sei ao certo como podemos fazer estas consultas ou como podemos retirar conclusões exactas baseadas apenas em suspeitas, uma vez que é muito complicado conseguir acesso a estes dados. Através de alguns estudos publicados sobre a matéria podemos ir vislumbrando farpas da realidade oculta; infelizmente, e por enquanto, é apenas o que podemos fazer.
Para mim, o negócio de MMN ideal/lícito/honesto seria um em que:
- Fossem respeitados os conceitos de comissões apresentados nas supra definições. Por outras palavras, em que cada membro pudesse ganhar uma determinada margem de lucro em contrapartida das suas vendas (25%, 30% ou até mesmo 50%, não interessa ), e pudesse ganhar comissões relativas às vendas de todos os membros por si patrocinados (um valor menor, em todo o caso, 5% ou 10%). Para ganhar estes valores de comissões, os membros não teriam de comprar nada à empresa fornecedora.
- Um membro nunca pudesse ganhar mais dinheiro com as comissões do downline do que o lucro gerado pelas suas próprias comissões. Isto é uma regra de "justiça" - impede os parasitas que se encostam à sombra da bananeira e ficam à espera que os outros trabalhem.
- O produto fosse competitivo face à concorrência, quer em termos de valor, quer em termos de preço final.
- O valor da inscrição na rede fosse inexistente, ou, a existir, que fosse um valor irrisório, ou um pagamento inicial mais barato por conta de produtos/artigos promocionais.
- Houvesse uma política justa de aceitação de devoluções, de pelos menos 6 meses ou mesmo de um ano, não permitindo que alguém pudesse ficar "agarrado" por não ter conseguido vender o produto e/ou por não ter conseguido recrutar mais ninguém para dentro da rede.
- Não houvesse pagamentos/encomendas/consumos mínimos obrigatórios.
- Fosse especificado exactamente e sem rodeios em que é que consistia o negócio (vender produtos a terceiros e tentar recrutar mais vendedores), o que significava trabalhar como vendedor/distribuidor, e quais as reais possibilidades de sucesso na empresa.
- Fossem divulgados abertamente informações relativas aos números da rede de inscritos (rendimentos médios por hierarquia, número de desistências, volume de vendas para fora da rede, etc. etc.)
- Não fosse exibida publicidade milagrosa a prometer "independência financeira", "uma vida melhor trabalhando menos", composta por "Ferraris, Porsches, e outros carros de luxo", por "viagens a ilhas paradisíacas", etc., etc. etc.
O Caso da AGEL - Posicionamento face a estes conceitos (tema do próximo artigo)